sábado, 13 de março de 2021

Maquiavel.

 

Ao ler "O Príncipe" fiz uma imagem de um Maquiavel de uma ironia mordaz e de uma frieza abissal, muito próximas da maldade. Eu percebi bem ou estou equivocado?

Você não está equivocado, Maquiavel foi de uma frieza abissal ao escrever seu livro. Não concordo com a ironia, ao contrário, a meu ver, ele foi objetivo e sensato.

Para entender 'o príncipe" é preciso ir além da leitura do livro. Nesse caso, o contexto histórico é de fundamental relevância. O século XVI foi uma época de mudanças. O mundo medieval começava a ruir, o Renascimento ganha força em todas as áreas. Portanto, Maquiavel foi um homem de seu tempo.

Enquanto Da Vinci e Copérnico dissecavam o mundo natural, nosso personagem dessecava o mundo político. A autopsia não é uma coisa bonita de se ver, mas é extremamente necessária para o conhecimento da vida e da morte. O príncipe é isso, o apontamento do mundo político de sua época. Alias, do mundo ainda hoje, não?

Outro ponto salutar é a literatura do século XVI, não pretendo me estender muito nesse assunto, mas obras como "A utopia", "A republica", entre outras mostravam ao leitor um mundo ideal e não real. Paradigma que Maquiavel tentou romper. Não só pelo estilo de escrita, mas também pela estrutura.

Para mostrar o mundo real ele precisou romper com a moral cristã. Na verdade, até mais do que isso, seu livro mostra como as coisas eram de fato, como seus contemporâneos agiam no mundo privado e público. Papas com amantes e filhos, aristocratas que não cumpriam suas promessas, a igreja que tinha grande poder. Tanto que, a cisão entre política e religião é proposta como forma de autonomia dos príncipes.

Muitos políticos de hoje usam estratégias criadas por Maquiavel: mentir, fraudar, descumprir tratados. Medidas necessárias para o bem comum, segundo o autor. Ao longo de sua obra o autor deixa claro que coisas que parecem boas podem ser, às vezes, a ruina dos príncipes, enquanto coisas que a primeira vista são ruins, podem trazer o resultado mais adequado.

Outro ponto discutido no livro está relacionada ao poder: O que é? Como se consegue? Como se mantêm isto? Perguntas feitas em qualquer época. O líder para Maquiavel é dotado de realismo político, tão astuto quanto uma raposa e valente como um leão.

Líderes de todas as épocas leram o príncipe, usando-o como um manual de orientação. Li o livro comentado por Napoleão, ficou nítido que muita de suas ações ao chegar ao poder foram realizadas com base na obra.

Enfim, Maquiavel e seu livro são atemporais, leitura indispensável à vários campos de estudo. Quer entender a política atual e seus atores? O príncipe é a obra base para tal conhecimento, mas não a única.


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