sábado, 26 de abril de 2014

Ouro Preto.

                                             Ouro Preto.

                                                                     “ Minas são muitas.”
                                                                       Guimarães Rosa. (1908-1967).












Meia lua oblíqua
Revela cidade montanhosa
Saídas das sombras
As igrejas vão se mostrando
Silentes, barrocas
As casas adormecidas
Os becos sombrios
As fontes calmas
O luar minguante
Cintila nos bares.

A velha capital
Saída de um livro
Cerra os olhos ao presente
E sob os lampiões de gás
Convida-nos
A rezar nos altares
Onde pousaram as mãos de Antonio Francisco
A subir as ladeiras em pias procissões
A ouvir o aflito lamento dos escravos.

Aqui Gonzaga confecciona delicado poema
Ali, Dorotéia alinhava um bordado
Além, Alvarenga acalanta a filha e Heliodora
Claudio recita versos Arcádicos sobre o rio pátrio
Por toda parte valoroso alferes Reclama liberdade
 Vila Rica, Vale entre montanhas repleto de sonhos,
Sangrenta adaga se aproxima das serras
E a traição, câncer da espécie humana
Arrasta seu miasma pelas estradas

Agora, por entre as cúpulas das igrejas
Ecoam brados de justiça
Trajes imperiais
Lagrimas oculta
Fantasmas do passado
Ideais redivivos
Mãos presas
Bateias vazias,

Minas gerou
Minas Gerais.

Autor: Marco Antonio Eustáquio da Costa.














quarta-feira, 9 de abril de 2014

Centuriâo.

                                                       CENTURIÂO.
                                                    Um conto Cristão. 

                                                                “ A vida e´ breve e frágil como as flores das cerejeiras.”
                                                                                    Provérbio Japonês.






Quintus Glaucus, entrou na taverna com dois Miles (soldados)e pediu uma ânfora de vinho.O dia fora cansativo na longínqua província Romana da  Iudaea (Judéia).A região era árida e seca, o povo estranho, com suas crendices místicas do deserto.Ensinado a obedecer e acostumado a lutar, sentia-se entediado de cumprir sua missão atual;o censo.Vindo de Roma, capital do Império,sentia falta da família, a bela esposa Varinia e o pequeno Glaucus, seu amado filho.Seus entes queridos ficaram em Roma ,por segurança,e ele já servia neste fim de mundo ha 2 anos...Neste período,combateu rebeldes judeus(zelotes,que propunham destruir Roma pelas armas...),coletou impostos e foi hostilizado pela população . Começava a achar que servir ali era um castigo... Não compreendia estes pastores ignorantes, possuía certo refinamento e vinha de uma família de guerreiros; seus antepassados lutaram com Cesar na Gália e com Antonio na Partia e nas guerras civis Romanas. Desde que Pompeu conquistara esta terra, há mais de 60 anos, os nativos mostravam descontentamento. Passara o dia cadastrando viajantes, gente simples, rude, sofrida. Lembrou então, de um casal especifico a mulher grávida, conduzida em um burrico pelo marido... Pareciam bons e amáveis; teve o ímpeto de ajudá-los. Onde estariam? Estava absorto em seus pensamentos, quando ouviu: ”Centurio!”, um soldado entrou agitado no local e chamou o oficial. Relatou que vira um movimento inusitado de pastores para àquela hora da noite. De imediato, Glaucus recolocou seu Galae (capacete) e acompanhado de seus subalternos saiu a rua.
A noite estava calma e soprava uma brisa fresca, caminhou com seus homens pelas ruas e , súbito ,sentiu um tremor ao ver uma estrela no horizonte.Como que atraído por ela, afastou-se de seus soldados e adentrou as sombras das perigosas noites de Jerusalém.Muitos Romanos já haviam tombado em emboscadas naquela cidade.Em uma esquina, oculto pela penumbra, estava Isaac,um dos chefes rebeldes.Este ao ver a patente do solitário Romano, sorriu e retirou sua adaga da túnica.Como um predador a espera da vitima ,aguardava a aproximação do oficial...O centurião admirava o céu, distraído,quando se aproximou do rebelde ;que levantou a adaga para desfechar o golpe fatal;mas não conseguiu, permanecia estático com o braço erguido, como que imobilizado por força invisível,a luz do luar incidiu sobre a adaga, o que chamou a atenção de Glaucus  que,de imediato ,levou a mão ao seu gladius (espada), no entanto, não conseguiu retira-lo da bainha. Acostumado aos combates, não entendeu a própria dificuldade, ele também imobilizado por estranho sentimento. A adaga caiu e o oficial Romano não conseguiu sacar sua arma. Inertes, ficaram se fitando por segundos, que parecia uma eternidade. Imóveis, foram envolvidos por um sentimento de paz, sob a luz da estrela.
Após este instante mágico, os dois se afastaram, enquanto no horizonte a estrela conduzia uma humilde família a uma estrebaria.Glaucus,ainda confuso, considerou que teve o inimigo ao alcance da espada,mas, seu coração estava leve e tranqüilo.Como se tivesse cumprido seu dever...De volta ao quartel,retirou a lorica segmentata (armadura),sentou-se na mureta da fortaleza e ,calmo,deixou-se envolver pela felicidade trazida por aquela noite singular.



Autor:  Marco Antonio E. Da Costa.