segunda-feira, 26 de abril de 2021

Marco Furio Camilo.

 

Quem foi Marco Fúrio Camilo?

Marco Fúrio Camilo (em latim: Marcus Furius Camillus; c. 446 a.C. – 365 a.C. (81 anos)

Camilo é, provavelmente, o personagem histórico mais famoso do início da história de Roma, embora seja provável que, ao descreverem os seus feitos, houve uma mistura de ficção com realidade.

« Camilo pertencia à gens Fúria, cuja origem era a cidade latina de Túsculo. Embora esta cidade tenha sido uma inimiga feroz dos romanos na década de 490 a.C., depois que tanto os volscos quanto os équos começaram suas guerras contra Roma, Túsculo entrou na luta contra eles do lado de Roma, ao contrário da maioria das cidades do Lácio. Os Fúrios foram rapidamente integrados à sociedade romana, acumulando ao longo dos anos uma série de cargos na magistratura e já eram uma família romana importante na década de 450 a.C.

O pai de Camilo era Lúcio Fúrio Medulino, um tribuno consular patrício e tinha mais de três irmãos, sendo o mais velho Lúcio Fúrio Medulino, que foi tanto cônsul quanto tribuno consular. O substantivo latino camillus denota um acólito criança de rituais religiosos, uma referência ao fato de que um parente seu, Quinto Fúrio Pácilo, foi pontífice máximo.

Os tribunos consulares ou "tribunos militares com autoridade consular" (em latim: tribuni militum consulari potestate) eram tribunos eleitos com poderes de cônsul durante o chamado Conflito das Ordens no início da República Romana, um sistema que começou a ser utilizado em 444 a.C. e, continuamente, de 408 a 394 a.C. e, novamente, de 391 até 367 a.C.. O cargo foi criado, junto com o de censor, para dar acesso à ordem dos plebeus, que, naquela época da história romana, não podiam ser cônsules, acesso aos níveis mais altos da magistratura sem a necessidade de reformar o cargo de cônsul.» in Marco Fúrio Camilo – Wikipédia, a enciclopédia livre

«O estadista romano e líder militar Marcus Furius Camillus é conhecido como uma das maiores personalidades do início da era republicana de Roma. Sua importância provavelmente ultrapassou gigantes dessa época, como Brutus, o Velho, ou seu sucessor Publius Valerius Publicola.

Ele viveu em uma época muito sombria do desenvolvimento de Roma. É certo que no final do século V aC. estava entre os maiores romanos da época. A cidade de Roma teve problemas diplomáticos com um vizinho próximo, a cidade etrusca de Veios, que ficava tão perto de Roma que ameaçava seu futuro desenvolvimento. As disputas com Veios datam de 480 aC, a guerra pela vida ou morte começou por volta de 403 aC, quando as disputas chegaram a um ponto insuportável.

Camilo recebeu a tarefa de liderar o ataque a Veios. Claro, isso não foi nada fácil. Naquela época, Roma ainda não era uma máquina militar invencível que veio a tornar-se alguns séculos depois e, tecnicamente, ficou para trás em relação aos sitiados. A falta de técnicos e "engenheiros" era quase desesperadora. No entanto, os romanos embarcaram em um "cerco". Usei aspas porque esse cerco está longe de ser a ideia atual de um cerco implacável. Os soldados voltavam regularmente para casa para trabalhar na agricultura. Da mesma forma, a técnica de cerco ainda não estava muito desenvolvida na Itália naquela época, então o cerco de Veios poderia ser imaginado como uma campanha imóvel comum.

Mesmo sob a liderança de Camillo, essa campanha foi-se arrastando. A impressão dos contemporâneos, que comparou o cerco de Veios às décadas de combates perto de Tróia, foi provavelmente ainda mais reforçada quando o lago inundado de Albano destruiu todas as maquinas e trabalho do cerco romano. Os técnicos eram necessários ainda mais agora do que antes, mas eles estavam com falta deles e, claro, o moral do exército se deteriorou devido às enchentes.

A ajuda veio de dois lados. No início, os romanos pediram a promessa de ajuda divina de lugares distantes como Delfos. Então, um soldado capturou um haruspik etrusco (um adivinho de entranhas de animais), que, após uma longa relutância, disse aos romanos que eles conquistariam a cidade somente após retornar o nível do lago Albano ao seu nível original. Quando os romanos secassem a água, eles podiam ter certeza de que Veios cairia. Deve-se acrescentar que o haruspik aparentemente foi pago muito antes de sua "captura" pelo Senado romano e interpretou sua representação teatral muito bem.

Os romanos estavam se preparando para o último ataque - o cerco, segundo a lenda, durou apenas dez anos, mas de acordo com os dados arqueológicos, estima-se em cerca de seis anos. Em todo caso, Camilo ganhou as insígnias de ditador para poder operar com a máxima eficacia. Ele teria um túnel secreto cavado nos perto da cidade (ou usado um canal de irrigação abandonado da cidade) para lançar um ataque decisivo. Ele então convocou todos os cidadãos romanos capazes de portar uma arma e prometeu-lhes um grande saque (butim).

O decurso do ataque em si é provavelmente lendário, mas devemos de qualquer modo descrever o que se terá passado. Camilo enviou todo o exército por um túnel subterrâneo que levava ao Templo de Junona. Lá estava o rei de Veios, a conduzir sacrifícios à deusa da cidade. Claro, os romanos mataram o público presente e logo tomaram o controle de toda a cidade. Os veios foram terrivelmente massacrados e a população praticamente destruida. Diz-se que Camilo terá dito que tinha a esperança que Roma viesse a não ter o mesmo destino…

Por enquanto, porém, todos os perigos pareciam distantes, e Camilo voltou a Roma em uma carruagem puxada por um quadrúpede à frente do triunfo. Ele usava um boné roxo na cabeça, o que deve ter ofendido muitos romanos, pois o roxo era uma cor destinada apenas aos deuses na época.

A guerra seguinte que ele travou foi contra a cidade etrusca de Faleria, que não lhe rendeu muita gloria, mas deixou muitos patricios com inveja de sua popularidade. No entanto, aqui também houve grandes gestos - numa época em que a queda da cidade parecia inevitável, o diretor de uma escola levou os seus alunos a Camilo, propondo que ele usa-se as crianças como reféns e assim forçasse a cidade à rendição. Camilo rejeitou a proposta, mandou o traidor de volta para a cidade com as crianças, e não é difícil imaginar o que esperava o "diretor" traiçoeiro.

O povo de Faleria, completamente impressionado pela generosidade de Camilo, que lhes devolveu os filhos, desistiram incondicionalmente de se lhe opor. Isso não agradou aos soldados romanos, que perderam a oportunidade de saquear a cidade e, basicamente, compensar legalmente as perdas incorridas pelo serviço no exército. Depois de retornar a Roma, Camilo foi acusado de abalar as fundações do exército civil. Os soldados então enfureceram com o comandante mais uma vez, quando este ordenou que dessem o dízimo do saque dos Veios aos deuses romanos.

O golpe final na popularidade de Camillo foi desferido pelo plano romano de colonizar a cidade de Veios, que recentemente se tornara território romano. Isso por si só não seria um problema se a maioria do patrício romano não decidisse ir viver para Veios. Eles teriam que ser acompanhado por suas famílias e escravos, o que significava que a maioria dos romanos se mudaria para a cidade conqustada. Diz a lenda que o próprio Camilo se opôs a esse plano, que poderia levar à desertificação de Roma. Teve sucesso. Os restantes patrícios, apos verem os seus planos destruídos, ficaram furiosos com Camilo e decidiram mandar-lo para o exílio. Acusaram-no de privar o exército do saque adequado (em essência, ele foi acusado de peculato). Além disso, foi ainda acusado de desrespeito aos deuses. Na época em que ele deveria se defender, um de seus filhos terá adoecido e morrido, e Camilo ficou triste e de luto com a perda em vez, razões pelas quais não se terá defendido. Os romanos sabiam que Camilo estava perdido. Seus amigos prometeram pagar qualquer multa por ele, mas o general escolheu ser voluntariamente ser exilado para Ardea.

Mas Camilo não ficou esquecido por muito tempo. Pouco depois de sua expulsão, as negras nuvens de tempestade começaram a juntar-se nos céus sobre Roma. Do norte veio uma invasão gaulesa. Liderada pelo líder gaulês Breno. Apos terem devastado as terras dos Etruscos, dirigiram-se para o Lácio e sitiaram Roma. Após uma batalha catastrófica em que as legiões foram destroçadas, os gauleses conseguiram entrar na Cidade de Roma. Os habitantes da cidade refugiaram-se principalmente no Capitólio, onde defenderam a fortaleza local. Os habitantes romanos de Veios lembraram-se de Camilo e queriam nomeá-lo comandante do exército que iria libertar a cidade, mas precisavam do consentimento do Senado - e este estava sitiado no Capitólio na época. A situação foi finalmente resolvida por um voluntário que chegou ao Capitólio vindo de Vios e obteve a desejada aprovação do Senado. O exílio de Camilo acabou.

Então Camilo começou a reunir tropas, mas já era um pouco tarde. Os gauleses decidiram abandonar o cerco com a condição de que os defensores comprassem sua liberdade com mil libras de ouro. As balanças dos gauleses estavam deliberadamente desalinhadas, o que os romanos reconheceram e reclamaram. O próprio Breno, atirou (jogou sua) espada na balança e comentou com a famosa frase: "Vae victis!" (Ai dos vencidos!).

(Breno, enchendo o saco dos romanos)

Quando os gauleses estavam a sair da cidade, foram quase atacados por Camilo. Nenhuma batalha aconteceu, os gauleses estavam cansados e surpreendidos com os novos reforços dos romanos e começaram a negociar. Camilo exigiu a devolução do ouro, mas os gauleses objetaram que o tratado já havia sido assinado. Camilo respondeu que o tratado era inválido porque não havia sido aprovado pelo mais alto funcionário romano - e ele próprio era o ditador. Os gauleses, portanto, desistiram da diplomacia, mas foram derrotados na batalha que se seguiu e se retiraram. Pelo menos de acordo com a lenda. A verdade é que provavelmente se eles tivessem um resgate na mão, provavelmente voltariam para o norte com ele. No entanto, é possível que a Roma derrotada tenha sido capaz de formar uma aliança que poderia derrotar os gauleses e devolver o ouro.

Camilo pode celebrar mais um triunfo, após esta vitória, mas o povo e os patrícios não o aceitaram; aceitaram a ajuda de Camilo como um mal necessário e um dever, mas após a partida dos gauleses o comandante tornou-se novamente supérfluo. Ainda como ditador, começou a reconstruir a cidade. Além disso, Camilo novamente se opôs aos planos de colonizar Veios, então ele logo foi julgado novamente, acusado de abusar de poderes ditatoriais. Durante o julgamento, ele foi resgatado por senadores, que o defenderam até o fim. A acusação foi retirada.

Isso não significou o fim da pressão sobre Camilo, mas deu início aos anos mais calmos de sua carreira, que ele dedicou a Roma. No ano 367 AC. ele foi encarregado de renovar e ajustar o poder consular. Diz-se que foi o primeiro a nomear um cônsul de origem plebéia. Um ano depois, o velho político renunciou e depois morreu, supostamente de peste.

Ele foi uma figura realmente grande no início da história republicana. A história semi-mítica deste período atribui-lhe três triunfos, um mandato quíntuplo do cargo de ditador e o título honorário de "Segundo Fundador de Roma". Provavelmente nunca descobriremos qual é a verdadeira história da vida de Camilo, então só podemos acreditar nas lendas, pelo menos em parte.»

Texto original: Antický svět

Tradutor: Eduardo Santos

Exercito romano no inicio do periodo republicano.

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