"Eles não foram embora, você sabe."
A chamada "Longa Guerra", que incendiou os seis condados da Irlanda que fazem parte do Reino Unido (a chamada Irlanda do Norte) a partir de 1969 e levou a milhares de mortos, terminou em 1998 com a assinatura do Acordo da Sexta-Feira Santa entre os britânicos e os irlandeses, com a participação da maioria dos partidos do norte, inclusive unionistas e republicanos.
O acordo previu o fim das barreiras fronteiriças dentro da Ilha da Irlanda, o fim da reivindicação constitucional da República da Irlanda sobre os seis condados, a libertação de todos os prisioneiros políticos e a deposição de armas pelos grupos paramilitares. Também previu que, caso se torne evidente que a maioria da população nos seis condados deseja se unificar com o restante da ilha, deverá ser convocado um plebiscito nesse sentido.
O IRA Provisório (PIRA - link em inglês), mais ativo grupo paramilitar republicano durante a "Longa Guerra", a quem eu suponho que a pergunta se refere, anunciou em 2005 que estava encerrando sua campanha armada e entregando suas armas. Entretanto, a organização não necessariamente debandou. Rachas do grupo, porém, permanecem ativos, como o IRA da Continuidade (CIRA) e o chamado Novo IRA, formado pela fusão entre o IRA Real (RIRA) e outros rachas ainda menores. O Novo IRA é considerado responsável pela morte a tiros da jornalista Lyra McKee (link em inglês), em 2019. Estima-se que, somados, esses grupos não tenham mais que algumas centenas de integrantes e parecem se resumir hoje principalmente a vigilância, vandalismo e atividades criminais.
Já entre os grupos paramilitares legalistas (apoiadores da manutenção da união com o Reino Unido), nem todos depuseram as armas. Embora a maioria deles tenha anunciado o encerramento das atividades armadas nos anos 1990, muitos se recusaram a entregar as armas - caso dos dois maiores, a UVF e a UDA. O Brexit e a conivência do governo unionista de Belfast, porém, trouxeram esses grupos de volta. Recentemente, em 3 de março de 2021, eles anunciaram que estavam se retirando do Acordo da Sexta-Feira Santa e reiniciando suas atividades. Além de tumultos, já estão havendo casos de ataques contra católicos.
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