sábado, 26 de junho de 2021

Paz.

 .Num rosto sem nome,no ser sem rosto,

indizível presença de presenças...


Quero seguir adiante e não posso:

despencou-se o instante noutro instante,

dormi sonhos de pedra que não sonha

e depois de anos e anos como pedras

ouvi cantar meu sangue encarcerado,

com um rumor de luz o mar cantava

e as muralhas cediam uma a uma,

todas as portas se desmoronavam

e o sol batia a secas em meu rosto,

abria minhas pálpebras fechadas,

desprendia meu ser de seus limites,

de mim me arrancava,liberava-me,

de meu dormir por seculos de pedra

e seu brilhar magico revivia

um sálix de cristal,um choupo de água,

um alto repuxo que o vento arqueia,

uma arvore bem plantada mas dançante,

um caminhar de rio que se curva,

avança,retrocede,da uma volta

e chega sempre.

Octavio Paz-Pedra se Sol,1957.


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