sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Bizâncio de Yeats.

 Bizâncio

As imagens febris do dia se desfazem; 
Os guardas imperiais, bêbados, jazem;
Noite sem som, sombras noctívagas se alongam  
Da catedral e do seu gongo; 
À luz de estrela ou lua um domo desmerece
Tudo o que é humanidade, 
Mera complexidade
As veias, fúria e lama, em toda humana espécie. 

Diante de mim a imagem, homem ou fantasma, 
Mais sombra que homem, mais imagem que fantasma: 
Pois a bobina de Hades, múmia desatada, 
Solta as curvas da estrada; 
Boca sem hausto, boca ressequida,
Chama boca sem som; 
Eu louvo o sobre-humano; 
Eu o nomeio vida-em-morte ou morte-em-vida. 

Milagre, artesanato de ouro ou ave, 
Mais milagre que artesanato ou ave, 
Plantado em ramo de ouro halo- estrelado, 
Canta alto, como os galos de Hades,
Ou pela luz amargurado infama,
Em metal esplendor, 
Ave comum ou flor,
Complexidades naturais de sangue e lama. 

À meia-noite o chão do Imperador se inflama.
Chamas que ninguém viu nascer, flamas sem chama,
Que a água não calma, chamas que se chamam
Às sangue-natas almas clamam.
Da fúria e da complexidade elas se alteiam 
E morrem dessa dança, 
Nesse transe em que as lança
A agonia das chamas que nunca incendeiam.

No dorso de um golfinho em sangue e lama, 
Alma após alma! Irrompem na onda em flama,
Forjas do Imperador – o seu tesouro! 
Mármores dançam no chão de ouro 
E às fúrias da complexidade vêm domar,
Essas imagens que eram, 
E outras imagens geram, 
Golfinho-roto, gongo-amargurado mar.

1930
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