sábado, 17 de julho de 2021

Paganismo.

 

Como acabou o paganismo no Império Romano?

O fim do paganismo

Com o édito de Milão por Constantino, o cristianismo deixara de ser uma religião perseguida, mas estava longe de ser a religião única. Nenhum templo pagão foi fechado, a adivinhação e magia benéfica continuavam a ser autorizadas, manteve o título de Pontifex Maximus para o imperador. Toda as várias religiões pagãs (grega, romana, egípcia para só falar das mais importantes), mantinham-se intocadas: os mistérios de Eléusis continuavam a ser celebrados, as vestais prosseguiam o seu culto, o boi Ápis ainda era escolhido.

O neo-platonismo que começara como escola filosófica (em grande parte originado por Plotino), viu acentuar-se a especulação mística transformando-se numa verdadeira religião (pretendendo o retorno da alma para com o absoluto) e começou a fazer a fusão de diferentes elementos: gnosticismo, religiões orientais, pitagóricos, mesmo elementos cristãos; foram criados ritos secretos e uma liturgia apenas possível a alguns fiéis.

Curiosamente do ponto de vista literário, os cristãos demonstravam uma enorme vitalidade (pelo contrário, os pagãos limitavam-se a plagiar os clássicos): utilizando os cânones antigos, exprimiram todo um novo mundo de ideias para desenvolver e defender a sua religião (e a teologia) e sobretudo, o uso pelos teólogos no ocidente da língua latina, permitiu um renascimento das letras latinas que estiolavam (por oposição ao grego que era usado com língua culta), sobretudo com homens como S. Ambrósio e S. Agostinho.

Nos reinados dos filhos de Constantino, começam a dar-se alguns ataques espontâneos de multidões e a magia começa a ser perseguida; alguns templos são fechados.

Juliano (361-363) tentou inverter a vaga. São reabertos os templos que tivessem fechado, devolvidos os objectos e dão-se alguns confrontos sangrentos entre cristãos e pagãos (mais uma vez sem interferência das autoridades). Tentou também reformar o paganismo oficial, deixando de ser uma religião vagamente ritual e procurando inspirar-lhe zelo; neo-platónico, foi buscar ao cristianismo várias ideias: imposição de um corpo sacerdotal hierarquizado, dando-lhe privilégios (que retirou aos cristãos) e exigindo um comportamento moral irrepreensível; debalde. Proibiu mesmo o ensino da literatura clássica aos cristãos (medida subtil), mas a sua morte acabou com esse esforço.

Os seus primeiros sucessores mantiveram-se tolerantes, mas no final do século, os imperadores Graciano e Teodósio cortaram as verbas e apoios aos templos e sacerdotes pagãos, fechando templos e proibindo ritos (mesmo nos campos ou no interior das casas particulares) e festas; rapidamente multidões cristãs influenciadas pelos seus bispos começaram a destruir templos pagãos e impedir o seu culto. Graciano ordenou a retirada do altar da Vitória no senado (382) e Teodósio, iria mesmo ao ponto de fazer penitência pública perante S. Ambrósio (390), implicando a submissão da pessoa do imperador perante leis mais importantes de que já não é ele o único legislador

Apesar disso as elites mantinham-se sobretudo pagãs: numerosos filósofos (que eram os que detinham o monopólio do ensino), e advogados, mantinham-se fiéis à religião tradicional

No império romano do ocidente parte da aristocracia romana mantinha-se-lhe fiel: o prestígio do passado, a literatura e a associação do patriotismo por Roma com o culto dos deuses mantiveram muitos senadores em Roma nas suas crenças tradicionais. É certo que o processo de conversão nas grandes famílias ao cristianismo foi gradual: nas primeiras gerações eram as mulheres, depois os membros masculinos até chegar à vez dos chefes de família, que por conservadorismo. Ainda hoje se debate sobre quando os cristãos adquiriram a maioria dos lugares no senado; sabe-se que embora muitas famílias senatoriais estivessem convertidas no final do século IV, o partido pagão era muito forte até finais do séc. V. Com a desagregação do império, o que restava da aristocracia pagã acabaria por se converter. Privados dos cargos administrativos pelo fim do império, muitos dos seus membros iriam assumir os cargos de direcção da hierarquia religiosa (é preciso ver que com a queda do estado romano, deixava de funcionar o sistema escolar que permitia a filhos de pobres terem acesso às letras, restringindo à nobreza o ensino e depois à própria igreja que teria por necessidades próprias de criar escolas).

Nos campos, a massa das populações mantinha-se agarrada aos seus cultos ancestrais; por um longo período, a Igreja Católica iria fazer um esforço de evangelização (no séc. VII ainda haveria numerosos pagãos na Gália), destruindo os altares e bosques sagrados ou mais pragmaticamente, mantendo o local e substituindo por um culto cristão (deuses por santos, templos por igrejas ou capelas), fazendo o mesmo com festas (o mais célebre é o dia de Natal); por vezes as festas ficavam como estavam (no caso do Carnaval), retirando apenas o culto aos deuses.

(Academia)

No império do oriente, Justiniano fechou a velha academia (criada por Platão no séc. IV A.C.), provocando o exílio para a pérsia dos neo-platónicos e ordenou perseguições a notáveis que se mantinham reticentes ao cristianismo. No Egipto o velho culto só se extinguiria com a conquista muçulmana.

Q.F.M.

Por Fabiano, Roma Anti


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