Sarmatas (latim sarmatae, -arum)
adjectivo de dois géneros
1. Relativo à Sarmácia ou aos sármatas.
nome de dois géneros
2. Membro de um antigo povo nómada da Rússia meridional que habitava a Samártia, região entre o Vístula e o mar Cáspio.
"sármata", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, sármata
«Sármatas, sarmatae ou sauromatae (a segunda forma é a mais usada pelos antigos escritores gregos e a terceira pelos gregos posteriores e pelos romanos) eram um povo a quem Heródoto no século V a.C. localizou na fronteira oriental da Cítia além do rio Tánais (Don). Eles eram povos iranianos relacionados com os citas e os Sacas. Os numerosos nomes pessoais iranianos nas inscrições gregas da costa do Mar Negro indicam que os sármatas falavam um dialeto iraniano norte-oriental relacionado com o sogdiano e com o osseto.»
In http://pt.dbpedia.org/resource/S%C3%A1rmatas
Pertenciam ao grupo indo-europeu (Resposta de Eduardo Santos para Como foi a invasão da Europa pelos indo-europeus?), sendo aparentados com os Citas (Resposta de Eduardo Santos para Quem foram os Citas?)
Da consulta ao livro “The sarmatians 600 BC – AD 450”, da Osprey, cito este trecho inicial do autor:
«Mais de um milénio separa os Sarouimatae do século VII BC dos Alanos do século V AD. Durante este período eles eram um elemento fundamental das hordas de nomados das estepes euro-asiáticas que, combinados com as tribos germánicas, acabaram por destruir o Império Romano. Apesar disso, os sarmatas não deixaram história escrita, e todo o material escrito que existe vem de um lado, de origem grega ou romana. Material pictórico que mostram os guerreiros sarmatas, mostram também guerreiros de outras origens, por isso essas imagens exigem uma interpretação cuidadosa. As fontes mais confiáveis ainda são os artefactos excavados em sitios arqueológivos, mas normalmente provêem de enterros de aristocratas, o que não é necessariamente representativo da classe guerreira como um todo. Há ainda muitas situações em que os resultados do trabalho arqueológico parecem contradizer os documentos históricos (sejam escritos, sejam obras de arte). Ou seja, a reconstrução do aspecto dos guerreiros sarmatas é um trabalho complicado, e não foi previamente tentado na escala deste livro. »
E, seguindo a tradução do texto do livro supra citado, vou respondendo à questão levantada:
Os Sarmátas não eram um povo unificado, mas antes um grupo de povos nómadas, que vagueavam pelas estepes euroasiáticas, o enorme “corredor” de pastagens, com milhares de milhas de largura e mais ou menos 5000 milhas de cumprimento, que se estende desde a China até às planícies húngaras. Eles falavam uma língua do grupo Iraniano, similar à língua dos citas e aparentada com a língua persa.
Os Sarmátas surgiram no século VI a.C nas regiões de estepe a leste do rio Don e a sul dos Urais. Durante séculos viveram uma vida de coexistência relativamente pacifica com os seus vizinhos, os Citas. Mas no século III a.C, atravessaram o Rio Don e atacaram os Citas nas estepes do Ponto, na zona a norte do Mar Negro (Pontus Euxinus), e “transformaram uma grande parte do país num deserto” (Diodorus 2.43). Os Citas que sobreviveram fugiram para oeste e refugiaram-se na Crimeia e Bessarabia, deixando as suas pastagens para os invasores. Os Sarmatas vieram a dominar estes territórios nos próximos cinco séculos.
Os grupos (tribos ou federações de tribos) eram os Sauromatae, Aorsi, Siraces, Iazges e Roxolani. Os Alanos eram do mesmo grupo irânico dos Sarmatas, mas são considerados por muitos autores como um povo distinto. Estes grupos eram co-federações tribais; aliás, Ammianus Marcellinus (31.2.13-17) e fontes medievais árabes afirmam que os Alanos eram uma coligação de diferentes povos.
A maioria dos Sarmatas eram nómadas, cujos rebanho e manadas forneciam grande parte da comida e vestuário de que precisavam. Passavam os invernos na zona sul dos limites da estepe russa, perto do Mar Negro e do Mar Cáspio e dos grandes rios, emigrando para norte na primavera. Viviam em carroças cobertas, com as suas famílias (apontamentos de Ammianus Marcellinus).
Os Sarmatas são agora considerados o povo que deu origem ao mito das Amazonas. Segundo Herodoto (4.116), as mulheres Sauromatas caçavam, disparavam com arco e usavam dardos enquanto galopavam. Iam para a guerra vestindo o mesmo tipo de roupas que os homens. Isto foi confirmado pela arqueologia. O estatuto das mulheres entre os Sarmatas era tão invulgar que alguns escritores acreditavam que as mulheres dominavam a sociedade Sarmata.
Foi durante o século I aC que os Sármatas e Alanos entraram verdadeiramente na História escrita, quando conduziram uma série de ataques espetaculares contra os seus vizinhos civilizados. Entrando pela Asia Menor, devastaram as terras dos Partas, Medos e Arménio. Na mesma época outros grupos atacaram as províncias romanas do Danúbio, Panonia e Moesia. Chegaram a estabelecer-se nas planícies húngaras. Alguns deles chegaram a ser contratados como mercenários pelos romanos, mas estes povos sempre foram um vizinho incomodo, disposto a começar uma guerra à menor provocação. A pressão foi de tal ordem que os Romanos permitiram a muitos deles se instalarem dentro dos limites do Império. Foi também por essa altura que os Romanos passaram a depender menos da infantaria pesada, para adotarem a cavalaria. Para isso tomaram como modelo o cavaleiro sármata.
Mas as coisas mudaram com o aparecimento dos Godos. A migração dos Godos, desde a Escândinavia, através a atual Polonia até ao Rio Dniepre começou algures no ano 200 aD; por volta do ano 250 aD os Godos conquistaram Olbia e moveram para a Crimeia, substituíram os Sarmatas e os Alanos como poder dominante na região.
(Dois guerreiros Godos e um Sarmata)
Mas o pior estava para vir, com a chegada dos Hunos, um século mais tarde, vindos da Ásia Central. Os Hunos eram de tal ordem selváticos que empurram Godos, Sarmatas e Alanos pelo Império Romano adentro.
(Guerreiros alano e godo contra um huno)
Bem, e depois?
Apos o século V. aC os Sarmatas e os Alanos já não comandavam mais o seu destino. Pequenos bandos foram se espalhando pela Gália, Ibéria e Norte de Africa.
Factos engraçados:
A Catalunha pode dever o seu nome aos Alanos.
« Uma teoria sugere que Catalunya deriva do nome Gócia (ou Gáucia) Lâunia ("Terra dos Godos"), desde que as origens dos contagens catalães, senhores e povos foram encontradas na Marca de Gócia, conhecido como Gócia, de onde Gothland> Gothlandia> Gothalania> Cathalaunia> Catalunya derivada teoricamente. Durante a Idade Média, cronistas bizantinos alegaram que Catalânia deriva da fusão local de godos com alanos, inicialmente constituindo Godo-Alânia.» In Catalunha – Wikipédia, a enciclopédia livre
E ainda uma última história; li isto algures, mas não consigo encontrar a fonte. Bem, fica como curiosidade.
«E por essa altura (da queda do Império), um grupo de Alanos dirigiu-se até ao extremo ocidental da península Ibérica. Fixaram-se numa terra a 40km de Olissipo (Lisboa). Aí construíram um templo da sua religião; chamaram de “Alan Kerr” (templo dos Alanos). Atualmente chama-se Alenquer. »
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