Hesitavam?!!? Quando?
Não devemos confundir SAGRAÇÃO, ACLAMAÇÃO, LEVANTAMENTO e COROAÇÃO. São actos e rituais distintos, que podem, ou não serem celebrados conjuntamente ou se confundirem.
SAGRAÇÃO é um acto religioso, um ritual litúrgico.
ACLAMAÇÃO, LEVANTAMENTO e/ou COROAÇÃO são actos políticos, sociais, culturais.
Tipicamente nas tradições extra-portuguesas um reinado iniciava-se após uma cerimónia, presidida pelos altos cargos religiosos, combinada de Sagração (religiosa) e Coroação (político). Ao invés a monarquia lusitana não necessitava da anuência da Igreja para afirmar o seu poder, e assim dispensava a Sagração, e os relatos deixam antever um ritual bastante mais simples, e talvez baseado em tradições mais antigas, de (A)Levantamento - provavelmente o acto de elevar o novo Rei, em ombros ou sobre uma plataforma, acima dos demais - que mais tarde com o desaparecimento da função mais guerreira do monarca passou a Aclamação.
Isso quer dizer que o Rei dispensava os símbolos da governação entre os quais a coroa? Deixa ver se percebo, se tiver uma coroa teve que passar por um coroamento. Se não passou não usa coroa. É isto? é um pouco ingénuo, não é?
Em qualquer representação dos Reis ou Rainhas portugueses (ou proto-portugueses) até D. João IV, para consumo público ou para a eternidade, a coroa está sempre bem visível na cabeça do personagem. Isto só deixou de ser válido após a proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Rainha de Portugal, em 1646. Inicialmente qualquer iluminatura ou, mais tarde, representação do Rei no exercício dos seus poderes mostram o mesmo coroado.
D. Teresa (1116 - 1128)
Sim, foi a 1º Rainha de Portugal! habituem-se… ou segunda se relevarmos o facto de que D. Garcia II da Galiza se intitulou Rei de Portugal entre 1065 e 1071… adiante…
(Compêndio de crónicas de Reyes del Antiguo Testamento, gentiles, cónsules y emperadores romanos, reyes godos y de los reinos de Castilla, Aragón, Navarra y Portugal)
D. Afonso Henriques (1139 - 1185)
(Compêndio de crónicas de Reyes del Antiguo Testamento, gentiles, cónsules y emperadores romanos, reyes godos y de los reinos de Castilla, Aragón, Navarra y Portugal)
(Museu Casa da Moeda)
D. Sancho (1185 - 1211)
O Rei surge representado de coroa na cabeça, com barba longa, segurando um ceptro com cruz numa mão e uma espada na outra, montado num cavalo aparelhado e preparado para a guerra. (Museu Casa da Moeda)
D. Afonso II (1211 - 1223)
(Museu Casa da Moeda)
D. Sancho II (1223 - 1248)
O Rei aparece representado com coroa e barba, atributos muito caraterísticos dos reis medievais, montado num cavalo aparelhado e trazendo uma espada longa numa das mãos. (Museu Casa da Moeda)
D. Afonso III (1248 - 1279)
D. Dinis I (1279 - 1325)
(Compendio de crónicas de reyes del Antiguo Testamento, gentiles, cónsules y emperadores romanos, reyes godos y de los reinos de Castilla, Aragón, Navarra y Portugal)
(Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, Túmulo de D. Dinis)
D. Pedro I (1357 - 1367)
(Mosteiro de Alcobaça, Túmulo de D. Pedro)
D. Fernando (1367 - 1383)
O Rei faz-se representar de pé, coroado e couraçado, segurando uma espada na mão e o escudo com o brasão de armas do reino na outra. (Museu Casa da Moeda)
Um prémio a quem conseguir identificar onde estão os dois Reis em confronto… dica: estão os dois coroados…
D. João I (1385 - 1433)
(Casamento de D. João I e Dona Filipa de Lencastre por Jean Wavrin, Chronique de France et d' Angleterre')
(Mosteiro de Santa Maria da Vitória, Capela do Fundador, Túmulo de D. João I e Dona Filipa)
D. Duarte I (1433 - 1438)
(Mosteiro da Batalha, Capelas Imperfeitas, Túmulo de D. Duarte e D. Leonor)
D. Afonso V (1438 - 1481)
(Desembarque em Arzila, Tapeçarias de Pastrana)
Está perto do estandarte com o Rodízio, aspergindo gotas, sua divisa…
D. João II (1481 - 1495)
O Rei aparece retratado em posição frontal, sentado num trono, de coroa na cabeça, manto a cobrir o corpo e espada longa na mão direita. (Museu Casa da Moeda)
(Álvaro Dias de Frielas, Livro dos Copos)
D. Manuel I (1495 - 1521)
(Damião de Góis, Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel)
(João Pedro Bonhomini de Cremona, Livro da justiça, dos crimes e das penas, Livro V das Ordenações d'El-Rei D. Manuel )
D. João III (1521 - 1557)
(por Cristóvão Lopes, 1550–1560)
D. João IV (1640 - 1656)
(164?)
Apresentei representações coevas e demonstrei que foi raro o Rei que não se fizesse representar coroado. Não quer dizer que os que restantes não o fizessem mas apenas que não sobreviveram, ou ainda não foram encontradas, representações deles coroados…
O último Rei que ostentou uma Coroa na cabeça foi Dom João IV entre 1640 e 1646. Como já expliquei, em Resposta de Miguel Carmona para Por que os reis de Portugal não usavam coroa, após essa data e por provisão régia de 25 de Março, rectificada pelas Cortes gerais de 1645–1646, não tinham esse privilégio.
Em março de 1646, D. João IV proclamou Nossa Senhora da Conceição Rainha de Portugal e a verdadeira Soberana do país. Assim, desde este dia, mais nenhum Rei ou Rainha puderam, podem ou poderão usar coroa nas suas cabeças. Esse direito e privilégio é da Nossa Senhora.
Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Isso não quer dizer que ela não fizesse parte das cerimónias solenes. A Coroa passou a ser colocada em cima de uma almofada, ao lado do Rei.
O último Rei de Portugal, Sua Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Manuel II, aclamado Rei na Assembleia de Cortes em 6 de Maio de 1908, após o Juramento, proferindo a «Fala do Trono» e empunhando o símbolo da Justiça Régia - o Ceptro. O Rei de Portugal não tinha Orbe. Na cerimónia de aclamação a Coroa circulava pelo espaço envolvente. Neste caso está em frente ao Soberano.
Fica aqui a primeira parte do cântico do «Adeus» de Fátima onde é vincado o estatuto de soberana de Portugal:
«Ó Virgem do Rosário, da Fátima Senhora,
De Portugal Rainha, dos homens protectora.
Ó Virgem do Rosário, da Fátima Senhora,
Do Vosso Santuário, forçoso é ir-me embora.
...»
Olha aqui a coroa:
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