.Num rosto sem nome,no ser sem rosto,
indizível presença de presenças...
Quero seguir adiante e não posso:
despencou-se o instante noutro instante,
dormi sonhos de pedra que não sonha
e depois de anos e anos como pedras
ouvi cantar meu sangue encarcerado,
com um rumor de luz o mar cantava
e as muralhas cediam uma a uma,
todas as portas se desmoronavam
e o sol batia a secas em meu rosto,
abria minhas pálpebras fechadas,
desprendia meu ser de seus limites,
de mim me arrancava,liberava-me,
de meu dormir por seculos de pedra
e seu brilhar magico revivia
um sálix de cristal,um choupo de água,
um alto repuxo que o vento arqueia,
uma arvore bem plantada mas dançante,
um caminhar de rio que se curva,
avança,retrocede,da uma volta
e chega sempre.
Octavio Paz-Pedra se Sol,1957.
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