As Beatas.

 .Entre os muitos "causos" que ouvi e vivi em Ouro Preto,ha um muito curioso.

Era dia do Doze(12\10) ,quando as republicas reúnem os atuais alunos e recebem os antigos que quiserem aparecer.A festividade e´preparada ao longo do ano,e aquele que for participar,e vier de fora faz suas contribuições e pedidos previamente.Na ocasião,o festim ainda ocorria nas ruas da cidade,que ficava abarrotada de visitantes e ex-alunos.As bebidas rolavam a vontade,alem da Cannabis,e´claro!

Não havia horário de termino;o inicio -geralmente-era no dia anterior.

Um determinado grupo com meninas e meninos de cursos diversos varou a madrugada,quanto mais bebiam,mais sede tinham...Enquanto muitos se recolheram as republicas para outras atividades...essa turma persistiu na esbornia,em um frenesi digno das Bacantes.Beberam,beberam e beberam mais.

Depois de algumas horas se viram na rua São Jose´,com a região bem vazia,fazia muito frio,mas eles sentiam um abrasador calor.As bebidas os esquentaram,a tal ponto que estavam incomodados com suas roupas!Despiram-se. Próximo havia uma fonte dos tempos Portugueses.Resolveram banhar-se,coletivamente.Alguns pensaram em algo mais intimo,mas estavam muito embriagados e aquele calor estava demais.Nus,molhavam os corpos na fonte.Refrescavam-se.Jogavam água uns nos outros,como crianças.Com a agitação,o teor alcoólico e o cansaço,adormeceram,ali mesmo.Ao pé da fonte.

Foram tantas estrepolias que não perceberam que amanhecia.

Seis horas da manhã e o grupo apagado.

Foi então que as beatas começaram a surgir em direção a igreja de São Francisco;de olhar baixo e alma contrita,caminhavam em bloco,orando.rumo a missa.Quando uma delas,estarrecida,viu a cena Dantesca:jovens de ambos os sexos nus e deitados na calçada! So podia ser obra do demo.

Atormentadas e sem saber que atitude tomar,puseram-se a gritar e demandar socorro com toda força que seus cansados pulmões permitiam.O coroinha apareceu,alguns moradores despertaram e os jovens,ainda inertes.Com a gritaria,alguns acordaram,ainda torporosos ,sem entender muito bem o que acontecia.Nem perceberam a própria nudez.

Logo um cidadão chamou a Policia.O padre apareceu e começou uma Catilinária no entorpecido ouvido dos estudantes,que a custo se levantavam ,apoiando-se uns nos outros.

Desnorteados,guardavam vaga memoria das libações iniciadas na noite anterior.Mas não sabiam dizer porque resolveram ficar pelados!Uma viatura chegou e começou a levar a garotada para a delegacia,um pouco de cada vez.Alguns iam seminus mesmo.

Enquanto isso,crendo que o inferno chegara,as beatas ajoelhadas rezavam,o padre continuava pregando no deserto,como João Batista.Ate que se deu conta de que os garotos não o ouviam e as devotas senhoras careciam de amparo.Levou-as para o aconchego da igreja,prometendo providencias severas.

Na delegacia,apos a chegada de todos os envolvidos,o delegado-que apreciou uma loira que mal cobriu os pelos pubianos-fez um longo discurso sobre moral e bons costumes.Teria deixado os garotos retidos por algumas horas,não fosse o súbito aparecimento do juiz da cidade.O padre,o despertara e pedia atitudes.Irado ,o juiz,autoridade suprema do lugar-apoiado pelo clero,ordenou a detenção de todos por pelo menos 3 dias.(Prazo mais que satisfatório para a ressaca).E mais,a partir daquela data,o Doze estava proibido nas ruas da cidade.

Desde então,o doze ,assim como outros eventos ocorrem dentro dos muros das republicas.Paredes não falam...

E as beatas retomaram sua rotina diária sem maiores aborrecimentos e indecências.

M.