domingo, 4 de agosto de 2019

O mais velho dos anjos vivos.

Os Poemas.

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro,eles alçam voo
Como de um alçapão.
Eles não tem pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem
E olhas,então,essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto dos saberes
que o alimento deles já estava em ti.

Trecho de diário.

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá´.
Numa determinada pedra em certa rua de Calcutá.
Solta.Sozinha.Quem repara nela ?
Só eu.Que nunca foi la´,
Só eu,deste lado do mundo,te mando agora esse pensamento...
Minha pedra de Calcutá!

O menino louco.

Eu te paguei minha pesada moeda,
Poesia...
Teus espelhos deformantes e límpidos
Como a Água! Sim,desde menino,
Meus olhos se abriam insones como flores no escuro
Ate´que,longe,no horizonte,eu via
A Lua vindo,esbelta como um lírio...
as vezes numa túnica de infanta
Sonambula...as vezes virginalmente nua...
E era branca como as nozes que os esquilos descascam na mata...
Pura como um punhal de sacrifício...
Em meus lábios,queimava-se ignorada ,a palavra magica.!

Tão lenta,serena e bela.

Tão lenta,serena e bela,majestosa vai passando a vaca
Que,se fora na manhã dos tempos,de rosas a coroaria
A vaca natural e simples como a primeira canção
A vaca,se cantasse,
Que cantaria ?
Nada de operas,que ela não e´dessas,não.
Cantaria o gosto dos arroios bebidos de madrugada,
Tão diferente do gosto de pedra ao do meio-dia!
Cantaria o cheiro dos trevos machucados.
Ou,quando muito,
A longa,misteriosa vibração dos alambrados...
Mas nada de super aviões ,tratores,êmbolos
E Outros truques mecânicos.


Mario Quintana.(1906-1994).



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