Qual é a origem do “ordem e progresso” na bandeira?
As palavras vêm do lema positivista – que, ao contrário do clima reinante em Brasília hoje, era uma doutrina filosófica radicalmente favorável à ciência.
Esse era o lema de uma corrente filosófica do século 19 chamada Positivismo. Ou quase isso: trata-se de uma versão taquigráfica da frase original, “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. O amor ficou de fora.
Os positivistas, capitaneados pelo francês Auguste Comte, acreditavam que o único conhecimento válido é o obtido por meio do método científico, e que esse saber exato deveria substituir a metafísica e a religião como bússola moral da civilização.
A ala intelectualizada das Forças Armadas que participou da Proclamação da República era fã de Comte – até hoje, em Porto Alegre (RS), há um templo dedicado ao secularismo radical Positivista, com os dizeres da bandeira na porta.
Quando dizemos templo, é templo mesmo: na fase mais radical de sua carreira, Comte acabou se perdendo no personagem e fez sua aversão a cultos religiosos se transformar em sua própria religião, a Religião da Humanidade. Ela tem seus próprios sacramentos, símbolos e até um calendário – só não há Deus na jogada, mesmo. Trata-se de uma paradoxal fé agnóstica, que se apoia no altruísmo entre humanos e na ciência como pilares da construção de um mundo melhor.
Hoje, embora a obra filosófica de Comte seja respeitada como parte importante da história da filosofia, nenhum cientista sério se declara positivista, e o aspecto religioso do legado do francês praticamente desapareceu (com exceção de ciclos muito restritos).
Pergunta de @oliveira_marcinho, via Instagram.
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