domingo, 24 de outubro de 2021

Juliano,o apostata.

 

Quem foi Juliano, o apóstata?

Flávio Cláudio Juliano (em latim: Flavius Claudius Iulianus; Constantinopla, 331 – Maranga, atual Samarra, 26 de junho de 363) foi um imperador romano, que reinou desde o ano 361 até a sua morte, dois anos depois. Foi um anacronismo no seu tempo, o último imperador pagão do mundo romano, e por isso ficou conhecido na história como "o Apóstata", por não professar a fé cristã num período em que o cristianismo já era aceito e até incentivado por seus antecessores desde Constantino I.

Passo a citar:

«Era filho de Juliano Constâncio, que era meio-irmão de Constantino o Grande; Constantino mantinha boas relações com os seus irmãos e deu-lhes cargos e honrarias, chegando mesmo a partilhar na sua morte, o império entre filhos e alguns sobrinhos. Debalde, pois os seus filhos trataram logo de os eliminar, antes de se massacrarem entre si (questão de acabar com rivais), até só restar Constâncio II.

(Constantino, o grande)

O jovem de Juliano foi poupado com um meio-irmão (Constâncio Galo) devido à tenra idade e ambos foram exilados. Teve vários educadores, sendo um deles, um eunuco (Mardonius) que lhe instilou o gosto pela literatura e tradição pagã; com o tempo a vigilância abrandou e pode frequentar alguns dos melhores filósofos e retóricos do tempo, dando-lhe uma sólida educação; mas em compensação o Bispo Eusébio falhou completamente na missão de o educar Cristãmente.

Em 351 o seu meio-irmão Gallus foi tornado César, sendo executado 3 anos depois por traição. Juliano ia nesses anos passando alternativamente da liberdade para a prisão domiciliária, aproveitando os períodos de liberdade para viajar e contactar filósofos (sobretudo os neo-platónicos).

Em 355 é feito César (era o último sobrevivente) pelo seu primo Constâncio II (o principal responsável pelos massacres na sua família). Juliano é obrigado a casar com a irmã do imperador (Helena) para cimentar a relação entre ambos (o mesmo fora feito com Gallus e no período da Tetrarquia).

(Busto de Constâncio II)

Foi enviado para a Gália em 356 que estava a sofrer incursões dos alamanos e francos; passou os anos seguintes em campanha para restabelecer a situação, numa guerra de guerrilha, incursões e algumas batalhas (daí a necessidade de auxilia palatina, que eram tropas mais versáteis para este tipo de conflito que a legião pesada).

Em 360 o seu primo que estaria a ficar inquieto com a sua crescente popularidade junto das tropas e das populações, exigiu as suas tropas de elite (auxilia palatina, recrutados sobretudo na Gália e nas zonas afectadas) para uma campanha contra os persas; as tropas recusaram-se (implicava deslocar-se com as famílias a seguir para oriente e proclamaram Juliano como Augusto (imperador).

(Aclamação de Juliano)

Este aparentou recusar, depois tentou negociar com Constâncio II; os exércitos estavam prestes a encontrar-se para mais uma guerra civil quando Constâncio II morreu de causas naturais de forma conveniente (361), não sem antes ter nomeado Juliano seu sucessor legítimo. Chegado ao poder, instalou os seus seguidores, eliminou uma série de funcionários do defunto imperador, e sobretudo deu imenso poder aos militares (que era o grupo que o rodeara e levara ao poder).

(Juliano, o Apóstata)

Sendo pagão, sem perseguir abertamente o cristianismo, parou de lhes conceder os privilégios os seus antecessores tinham dado, e garantiu a igualdade entre várias seitas e grupos rivais (as razões para isso é que são mais discutíveis). Mais curioso é são as suas tentativas de copiar os cristãos de forma inconsciente: tentou organizar os pagãos numa estrutura unificada, que se dedicasse à ajuda aos pobres e desfavorecidos, ao mesmo tempo que queria que apenas fossem para sacerdotes pessoas idóneas: basicamente um cristianismo com vários deuses. Também tentou limitar aos cristãos o acesso a cargos público e outras honrarias.

De notar que o exército em que ele apoiava era recrutado no ocidente que ainda estava pouco cristianizado. Nos campos a população mantinha-se pagã (mais de 90%, mas o mesmo se passava no oriente), e nas cidades, as comunidades pouca força tinham (que já eram de si pouco desenvolvidas quando comparadas com as suas congéneres orientais). Ora sendo o cristianismo um fenómeno de cidades, sabemos que só nalgumas grandes cidades do oriente como Antioquia, Alexandria ou Constantinopla é que os cristãos já representavam a maioria.

Em 363 lançou-se numa campanha contra os persas; para tal utilizou as forças comitatensis (tropas móveis ofensivas) do ocidente e oriente (incluindo as tais tropas que se tinham rebelado uns anos antes sob o seu comando); a princípio correu bem avançando até à capital, mas os sassanidas evitaram o confronto direto recorrendo a raids e razias (beneficiando de uma cavalaria ligeira importante, por oposto ao exército romano ainda muito dependente de infantaria pesada) contras grupos de romanos isolados e serviços de abastecimento o que pôs o exército imperial em dificuldades; Juliano apercebeu-se que um cerco prolongado podia ter consequências fatais para o seu exército e ordenou a retirada, morrendo vítima de uma lança pouco depois.

(Morte do Imperador)

Privados da sua liderança, isolados e divididos, os romanos elegeram um novo imperador (Joviano) que se apressou a fazer um acordo de paz que cedia toda a mesopotâmia romana aos persas. Esta campanha foi um verdadeiro desastre para Roma: perdeu províncias e mais importante, tropas de escol romanas (ilírios, dácios e gauleses que tinham a ferocidade dos bárbaros mas com maior disciplina) que tiveram de ser substituídas por bárbaros.

O reinado de Juliano foi sempre visto de forma ambígua: desprezado pelos cristãos pela sua “traição” à religião oficial, outros vêm-no com mais indulgência pela sua tentativa de restabelecimento da cultura greco-romana (o romance de Gore Vidal é a esse título um bom exemplo). Simplesmente ele não se apercebeu que os tempos eram outros e que a cultura que ele tanto amava ia ser preservada precisamente por aqueles que ele tanto odiava, os “galileus”.

Texto de Fabiano, in Roma Antiga

Imagens: PINTEREST

Foto de perfil de Marco Antonio Costa

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