Segundo estudo publicado no periódico Royal Society Open Science, entre 69 imperadores romanos que ocuparam o mais alto cargo no Ocidente durante os anos 63 a.C. e 1453, apenas 24,8% morreram de causas naturais e conseguiram concluir seu reinado até o fim estipulado de forma tranquila, enquanto maioria foi vítima de assassinato, suicídio ou de batalhas. Curiosamente, esse número de “sobreviventes” é significativamente inferior se comparado ao Império Romano do Oriente, que configura com uma taxa de quase 95% de mortes por causas naturais.
A pesquisa teve como base um total de 175 imperadores que dominaram o Império Romano, passando pelos principais períodos históricos e incluindo o processo separatista que resultou no distanciamento entre a porção oriental e a porção ocidental. Em nota, os historiadores responsáveis pelo projeto revelaram uma importante conexão entre a estabilidade superficial que atingia a nação na época e a intensidade dos conflitos internos e externos, produzindo padrões envolvendo dados de sobrevivência e o direito de poder.
“Examinando o tempo de morte violenta dos imperadores do Império Romano, observamos que o risco é alto quando o imperador assume o trono. Esse achado pode estar relacionado às lutas para lidar com as demandas que a posição exige e à falta de habilidades políticas do novo imperador”, esclarece P. L. Ramos, do Instituto de Matemática e Ciência da Computação da Universidade de São Paulo. “Nosso modelo sugere que o risco diminui sistematicamente até 13 anos de governo e, em seguida, aumenta rapidamente após esse ponto de mudança.”, expõe Ramos.
Enquanto 75,2% dos líderes do Império Romano do Ocidente morreram de forma violenta, em conspirações palacianas, combate contra inimigos estrangeiros ou de suicídio, algo que configura — estatisticamente falando — como três a cada quatro imperadores, o contexto geral de 175 imperadores registra apenas 30% de mortes violentas contabilizadas até o fim do reinado de cada indivíduo.
A lei de potência
O cientista de dados Francisco Rodrigues, coautor da pesquisa, revelou que os padrões de sobrevivência de imperadores segue uma tendência estipulada pela lei de potência, uma “distribuição de probabilidade encontrada em muitos outros fenômenos associados a sistemas complexos, como o tamanho das crateras lunares, a intensidade dos terremotos, a frequência com que as palavras aparecem em um texto, o valor de mercado das empresas e até o número de ‘seguidores’ que as pessoas têm nas mídias sociais”.
Esses fenômenos, então, estariam relacionados com a “regra 80/20”, que indica que a chance de ocorrer um evento comum é de 80%, enquanto eventos raros ocorreriam com probabilidades de 20%. No caso dos imperadores romanos do Ocidente, o fenômeno raro seria não ser assassinado.
“As formações históricas são sistemas complexos, compostos de agentes que interagem, colaboram e competem por poder e recursos. E as ações imprevisíveis dos indivíduos podem produzir padrões de comportamento coletivos previsíveis — portanto, sujeitos à investigação matemática”, conclui Rodrigues.
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