16 outubro, 1572. É condenado o cronista Damião de Góis a prisão perpétua, pelo Tribunal do Santo Ofício
Personalidade ímpar do pensamento renascentista em Portugal, Damião de Góis foi um diplomata e alto funcionário régio com elevadas missões no exterior.
Em abril de 1571, com quase setenta anos, o seu trabalho não foi apreciado pelos interesses de algumas famílias nobres e foi denunciado à inquisição do Tribunal do Santo Ofício. Já em 1545 havia sido acusado de heterodoxia. Em virtude do interesse e proteção da corte, os processos pendentes foram naquela altura arquivados.
Damião de Góis tinha áurea de prestígio em toda a Europa quando foi convidado por D. João III a ser mestre do príncipe D. João Manuel. Moço do Paço, havia sido enviado jovem como secretário da feitoria portuguesa na Flandres, tendo depois encabeçado várias importantes missões diplomáticas. Publicou diversas obras em latim, língua franca em que era exímio, e manteve contacto e correspondência variada com a élite intelectual do seu tempo.
Após o seu regresso a Lisboa, mais de vinte anos depois de ter saído, foi nomeado guarda-mor da Torre do Tombo, em 1548 interino e definitivo em 1571.Tendo-lhe sido cometido encargo e com acesso a fundos arquivísticos da chancelaria do rei, escreveu a Crónica do Felícissimo Rei D. Manuel em 1566 e no, ano seguinte, a Crónica do Príncipe Dom João, que suscitaram de novo invejas e reavivaram as anteriores acusações.
Sem a proteção de D. João III, já falecido, e abandonado pelo irmão deste, inquisidor mor cardeal D. Henrique, foi condenado por contumácia em heresia e luteranismo e sentenciado. Com a sentença teve o confisco dos bens e presídio no Mosteiro da Batalha. Alquebrado, velho e doente, no ano seguinte deixaram-no ir para a casa em Alenquer, onde veio a ser encontrado morto, só, com suspeitas de assassinio, em 30 de Janeiro de 1574, a 3 dias de completar 72 anos de idade.
Ao longo do século XVI, o ambiente social e cultural português foi-se fechando à experiência e inovação; foi um modo de perpetuar os privilégios e os interesses instalados. O brilho da corte quando D. Manuel era rei, ainda fulgia quando Damião de Góis partiu para a Flandres, mas quando voltou estava cada vez mais sombrio com os fumos da Inquisição.
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