1
Não viverei em vão, se puder
Salvar de partir-se um coração,
Se eu puder aliviar uma vida
Sofrida, ou abrandar uma dor,
Ou ajudar exangue passarinho
A subir de novo ao ninho —
Não viverei em vão.
2
Dizer toda a Verdade
— em modo oblíquo —
No circunlóquio, o êxito:
Brilha demais p’ra nosso enfermo gozo
O seu sublime susto.
Como a meninos se explica o relâmpago
De modo a sossegá-los —
A Verdade há de deslumbrar aos poucos
Os homens — p’ra não cegá-los.
3
Publicar — é o Leilão
Da nossa Mente —
Pobreza — uma razão
De algo tão deprimente
Mas Nós — antes, em Greve,
Da Mansarda ir, sem cor,
Branca — Ao Branco Criador —
Que investir — Nossa Neve —
A Ele e o nosso Pensamento
Pertence — a Ele Que encomenda
Sua ilustração Corpórea — a Venda
Do Real Alento —
Mercar, sim — o que emana
Do Celeste Endereço —
Sem reduzir a Alma Humana
À Desgraça do Preço —
4
Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém — Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!
Que triste — ser — Alguém!
Que pública — a Fama —
Dizer seu nome — como a Rã —
Para as palmas da Lama!
5
O Cérebro — é mais amplo do que o Céu —
Pois — colocai-os lado a lado —
Um o outro irá conter
Facilmente — e a Vós — também —
O Cérebro é mais fundo do que o mar —
Pois — considerai-os — Azul e Azul —
Um o outro irá absorver —
Como as Esponjas — à Água — fazem —
O Cérebro é apenas o peso de Deus —
Pois — Pesai-os — Grama a Grama —
E eles só irão diferir — e tal acontecer —
Como a Sílaba do Som —
6
Nunca me senti em Casa — Cá em baixo —
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa — eu sei —
Eu não gosto do Paraíso —
Porque é Domingo — sempre —
E o Recreio — nunca chega —
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta-feira —
Se, ao menos, Deus fizesse visitas —
Ou Sestas —
E deixasse de nos ver — mas dizem
Que Ele — por seu um Telescópio
Perpétuo nos olha —
Eu própria fugiria
D’Ele — e do Espírito Santo — e de Todos —
Não fosse o “Juízo Final”!
7
O sucesso é muito mais doce
Para quem não o pode alcançar.
O que faz compreender um néctar
É a sede e o anseio de o provar.
Ninguém desta hoste purpúrea
Que hoje empunhou o pavilhão
Dará acerca da vitória
Mais perfeita definição
Do que ele, o vencido, — em agonia —
Sentindo irromper nos ouvidos
Os sons do triunfo: distantes
Porém claros, martirizantes.
8
Dizem que “o Tempo tudo cura” —
Mas o certo é que não —
A dor que é dor fica mais rija
Como velho Tendão —
O Tempo é Teste de Tormentos —
Não Remédio afinal —
Se algo isso prova, também prova
Que não havia Mal —
9
Não tive tempo para o ódio
Porque
Vivia a cova a me esperar —
E a vida não me foi tão longa
Que eu
Pudesse as rixas acabar —
Nem para o amor eu tive tempo —
Já que
Muito de mim tinha que dar —
O vão labor que o amor pedia
Achei
Duro demais para aguentar —
10
Morri pela Beleza, mas na tumba
Mal me tinha acomodado
Quando outro, que morreu pela Verdade,
Puseram na tumba ao lado.
Baixinho perguntou por que eu morrera.
Repliquei, “Pela Beleza” —
“E eu, pela Verdade” — ambas a mesma —
E nós, irmãos com certeza.
Como parentes que pernoitam juntos,
De um quarto a outro conversamos —
Até que o musgo alcançou nossos lábios
E encobriu os nossos nomes.
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