ÁGORA: Diocleciano.

Quem foi Diocleciano?

Foi um Imperador Romano, aquele que conseguiu abrir caminho ao período conhecido como "Dominado".

Passo a citar:

Diocleciano ficou famoso não apenas como um bom militar, mas também como o organizador da tetrarquia, um sistema de quatro governantes cooperantes. Como logo se constatou, apenas uma personalidade forte como o próprio Diocleciano poderia operar esse sistema com eficácia.

O imperador romano Valerius Diocleciano nasceu de uma família simples (seu avô foi escravo) em 245 DC. em Diocleia perto de Salona na Dalmácia. Cedo ingressou no exército, onde fez uma carreira fulgurante, tornando-se, de um simples soldado, não só um oficial, mas principalmente como deputado na Moésia, cônsul e comandante da guarda. O imperador Probo esteve particularmente envolvido em sua ascensão, mas seu sucessor Carus também manteve seus cargos para Diocleciano. Ele também esteve na guerra contra a Pérsia com este imperador, mas de onde Carus não voltou e deixou o império para seu filho Numeriano. Este foi rapidamente assassinado por seu sogro Aper, que esperava uma proclamação do imperador dos soldados vitoriosos. Em vez disso, no entanto, o exército elegeu 17 de setembro de 284 DC. Diocleciano, que imediatamente mandou matar Apera (supostamente até o terá morto por suas próprias mãos).

Então Diocleciano obteve a púrpura imperial (*). Ainda havia problemas desesperantes a afligir o império, apesar de todas as melhorias dos últimos quinze anos. Foi ameaçado por todos os lados por inimigos externos e fragmentado após a desintegração do poder imperial a partir do final da dinastia dos Severos e de dentro, por isso ainda estava ameaçado de se desmoronar. Felizmente, Diocleciano era um homem certo no lugar certo - ele subiu ao trono apenas por mérito e tinha considerável experiência militar. Logo embarcou em uma série de reformas para salvar o império. Mas primeiro ele teve que reunir o império, pois o filho do de Carinus estava governando no Ocidente, e foi à guerra com Diocleciano. No entanto, ele foi derrotado e morto na Batalha do Danúbio em 285 DC.

(*) Nota do tradutor: o manto de cor purpura era uma insígnia do Imperador.

Talvez essa experiência tenha levado Diocleciano a decidir dividir o poder imperial e aumentar o número de imperadores, pois segundo ele todo o império não poderia ser governado por uma só pessoa, por mais talentosa que fosse. Em maio de 285, ele escolheu seu amigo Maximiano e o escolheu co-governante e filho. Originalmente, Maximiano carregava o título de César, mas após a vitória sobre os Bagaudas, ele foi promovido em 286 a Augusto e irmão de Diocleciano. Ele se estabeleceu no oeste, enquanto Diocleciano se retirou para o leste, onde a Pérsia estava, mais uma vez, a provocar conflitos. No entanto, já em 287, o imperador conseguiu derrotar a Pérsia e forçar uma paz que restaurou a influência romana na Armênia, onde o devotado governante Tirídates desembarcou vindo de Roma.

Após sucessos nas guerras, Diocleciano continuou a dividir o poder. Dois dos comandantes das legiões do Danúbio foram nomeados cesares, na época esse título significava algo como o vice-imperador. Galério de Serdica (Sofia) ajudaria Diocleciano na administração da parte oriental do império, enquanto Constâncio I de Naissos (Nisha) ficaria disponível para Maximiano no oeste. Os dois césares também se tornariam seus sucessores após a morte dos augustanos. O novo estilo de monarquia ganhou o nome de tetrarquia, com a participação de quatro governantes. O império também tinha quatro capitais - Diocleciano vivia em Nicomédia (Izmit) junto ao Mar de Mármara, pois a defesa do Bósforo se tornou uma tarefa cada vez mais importante do monarca oriental, Galério escolheu Salônica (Tessalônica) na Macedônia. No oeste, Maximiano tinha sua corte em Mediolano (Milão) e Constâncio em Trier (Trier), onde protegia a conexão natural entre o norte da Gália e a Renânia, ou em Eborac (York, Grã-Bretanha). O Senado continuou a ser baseado em Roma.

A divisão do império ocorrera várias vezes nos últimos anos, mas a tetrarquia pretendia ser uma solução sofisticada e duradoura para a questão dominante de Roma. O novo estilo de governo não dividiu oficialmente o governo, mas na verdade transferiu o peso da decisão para mais ombros. As leis foram então emitidas em nome dos quatro governantes. A lei de um Augusto tornava-se a lei do outro, e os dois césares eram obrigados a obedecer. A tetrarquia também simplificou muito a espinhosa questão da sucessão do imperador falecido, cujo fracasso quase destruiu o império no último meio século. Como mais tarde se descobriu, todo o sistema também se baseava nas habilidades do Augusto dominante (Augusto sênior), que era Diocleciano. Ele se tornou o melhor organizador e reformador desde a época de Augusto. De uma série de reformas e mudanças, selecionaremos apenas alguns ...

O primeiro grupo de reformas são atos administrativos. Ele aumentou o número de províncias de cinquenta para cem, reduzindo o território de cada província. O imperador queria reduzir o risco de rebeliões perigosas contra o governo central. Portanto, ele também separou completamente a função de administrador da província do comando militar. Outra inovação foi trazida pelo agrupamento das províncias em treze unidades maiores chamadas dioceses. Essas unidades administrativas, que existiam no início de algumas das nações de hoje, eram administradas por novos funcionários, os vigários, que por sua vez estavam sujeitos a quatro prefeitos pretorianos (cada um dos governantes tinha um).

Além disso, Diocleciano e seus co-tetrarcas embarcaram em uma nova reforma do exército, que quase não mudou desde a época de Septímio Severo. Como Roma precisava de unidades móveis e reservas, Diocleciano criou uma nova guarda de cavalaria. Foi chamado de scholae palatinae em homenagem ao local onde recebeu as ordens do monarca e foi incluído em um dos dois componentes em que o exército agora estava dividido. A primeira era uma unidade de campo móvel, novamente composta por quatro divisões. Este exército da corte (comitatenses) fazia parte da infantaria, mas sua principal força de ataque era uma cavalaria de origem predominantemente germânica.

O segundo componente do exército passou a ser as divisões de fronteira localizadas ao longo da fronteira agora fortemente fortificada. Os soldados dessas divisões eram chamados de limitanei ou riparienses, ou seja, homens da fronteira ou das margens dos rios. Essas divisões eram compostas por romanos e bárbaros que deveriam usar seus hábitos de luta e habilidades especiais. O exército agora tinha meio milhão de soldados, bem mais que Severus.

A fim de manter o exército em campo, Diocleciano teve que afrouxar a carga tributária ao nível máximo possível e tolerável. O meio século anterior de guerra civil significou uma carga tributária quase impossível para as pessoas comuns, mas Diocleciano foi forçado a aumentá-la. Ele então tentou, pelo menos, distribuir a carga tributária de maneira justa. Ele emitiu um decreto ordenando os preços máximos de todos os bens e os salários máximos dos trabalhadores em todo o império, que se baseava no facto de que Diocleciano queria garantir estabilidade social e reduzir a desonestidade dos cobradores de impostos dessa forma. Esse édito é então considerado o documento econômico antigo mais valioso. No entanto, tinha um problema - os tetrarcas não possuíam os meios de produção ou influenciavam o consumo, então eles não podiam fazer cumprir seus decretos. Assim, os produtos desapareceram do mercado e estourou uma forte inflação. Diocleciano queria impedi-lo, tentando reformar a moeda, mas ele falhou devido à escassez de metais preciosos e sua moeda artificial entrou em colapso.

Os imperadores fizeram outra tentativa de aliviar os problemas dos contribuintes. Eles decretavam a cobrança regular de impostos, uma atividade que costumava ser bastante aleatória. A seleção passou a ter uma nova base, sistemática e regular. Desde essa nova reforma, os valores e em espécie solicitados passaram a ser divulgados ao mesmo tempo e sempre de forma revisada. Alguns estados gregos fizeram experiências com esse sistema, mas só agora essa ideia passou a ser usada em tão grande escala. Outras reformas ocorreram nos impostos agrícolas. Para aliviar a injustiça da escolha. que não levou em consideração o tipo de solo, houve uma mudança. Um método de estimativa foi desenvolvido, de acordo com o qual as terras agrícolas são divididas em unidades medidas para levar em consideração as diferenças na qualidade do solo, colheitas e benefícios gerais do local.

No entanto, essas reformas - e muitas mais, já que o imperador emitiu 1.200 decretos - não levaram a uma reviravolta na situação econômica desfavorável, embora isso tenha sido mais devido às circunstâncias. Eles também estavam no início da servidão, obrigando os cidadãos a trabalhar hereditariamente nos mesmos lugares. No início, preocupava-se com os camponeses, mas depois a falta de liberdade pessoal passou para a administração do Estado ou a produção artesanal. Por outro lado, no exército, todo soldado agora poderia se tornar um oficial. Um homem verdadeiramente notável foi Diocleciano e seus co-governantes.

(Persas)

No entanto, as reformas sem dúvida levaram a pelo menos um resultado claro. O seu principal objetivo, nomeadamente o esforço de utilizar todos os meios para se defender dos inimigos, foi cumprido. Após vários anos de duras reformas, o imperador decidiu retornar ao campo de batalha. Em 295, uma revolta dos egípcios, que escolheram Aquiles como imperador, forçou o Imperador a voltar aos campos de batalha. O motim foi afogado em sangue. Um ano depois, Diocleciano decidiu resolver o problema das fronteiras orientais.

(Carga de catrafactos persas)

Ele partiu para a Pérsia, cujo rei Narses expulsara o rei da Armênia, cliente de Roma. As operações de guerra foram lideradas por César Galério, e deve ser dito que muito bem - os persas foram derrotados e fizeram as pazes por quarenta anos. A Armênia também retornou ao rei Tiridates, enquanto os romanos conquistaram o norte da Mesopotâmia e cinco províncias entre a Armênia e o Tigre. A revolta das tribos ibéricas no oeste também foi suprimida e a paz reinou no império.

Talvez nessa altura Diocleciano tenha introduzido outra mudança, de natureza pessoal. Ele se cercou de uma corte barulhenta, introduziu a etiqueta de corte e ele próprio já havia negado o princípio geral de que o Senado lhe dera o poder. Os próprios deuses tiveram que dar a ele a púrpura imperial. Diocleciano então se autodenominou dominus et deus - senhor e deus. Isso criou a segunda forma de poder imperial romano, o dominado. Ele prolongou a vida do império, mas não conseguiu salvá-lo. Ao contrário do principado, quando o monarca era oficialmente o primeiro cidadão, o dominado trouxe poder completo e ilimitado ao imperador. O Senado perdeu completamente o poder.

(Representação artistica)

E foi o título do imperador por Deus que marcou o conflito com os cristãos, que o rejeitaram, ofendendo assim o imperador. Assim, no final de seu reinado, em fevereiro de 303, Diocleciano iniciou sua perseguição aos cristãos, o que criou para a religião muitos novos mártires. Diocleciano então recebeu críticas terrivelmente negativas de escritores cristãos em todas as épocas. Por falar em literatura histórica, foi Diocleciano quem encorajou a escrita da história do império, desde Adriano até o próprio imperador; conhecemos esta obra como Historia Augusta. Em qualquer caso, esta última grande perseguição aos cristãos teve o mesmo resultado de antes - não levou a nenhum resultado duradouro, e o cristianismo se tornaria uma religião reconhecida pelo Estado em dez anos.

Em novembro de 303, os augustanos visitaram a negligenciada cidade de Roma, para celebrar o triunfo sobre os persas e os vinte anos do reinado de Diocleciano. No entanto, os jogos foram tão fracos e pobres que o povo se opôs ao Augusto e os revoltados deixaram a antiga capital por um mês. Diocleciano chegou a Nicomédia, onde contraiu uma doença grave. Talvez seja por isso que o imperador decidiu dar um passo sem precedentes - em 305 ele se resignou e convenceu Maximiano a dar o mesmo passo. Os Augustos tornaram-se os ex-Césares e escolheram seus próprios Césares.

No final de sua vida, Diocleciano mudou-se para o enorme palácio-fortaleza em Salons (Split). Aqui ele observou, no luxo e na adoração divina, a queda do sistema de tetrarquia, a morte de seu colega e amigo Maximiano e outros eventos. Sua saúde piorou e, em 313, o governante de quase setenta anos morreu. Diocleciano é certamente um dos governantes mais importantes do Império Romano e, especialmente na segunda metade da história do império, ele é uma figura dominante ao lado de Constantino ...