terça-feira, 3 de agosto de 2021

Moacyr Laterza-Poemas.

 .Moacyr Laterza. 23\9\1928.Uberaba-13\10\2004.BH.Intelectual de ampla influencia nos meios acadêmicos e culturais de Minas.Professor da UFMG,Doutor pela Universidade Temple-Us.

.Comentário de Henriqueta Lisboa:Não e´fácil estudar o artista moderno.Principalmente quando se trata da poesia sensível de Laterza. Dom gratuito,singular,desnorteante.Como traduzir em palavras aquilo que o poeta consegue dizer de si mesmo ,através de expressões alógicas?Limito-me a admirar as sutis expressões ,quebradiças na aparência,seguras no mistério poético.Esse mistério e´força ,a proteger a sensibilidade do poeta ,a cada momento ferida pelo fato de existir.Seu hermetismo vem de temperamento concentrado  ,rico de gradações psicológicas.Entre a humildade Cristã -nele essencial-e uma aristocracia estética marcante,Moacyr,mistico por índole e ascético por determinação atravessa problemas com serenidade filosófica.Cristão convicto tem possibilidades maiores para a arte ,em seus embates entre a argila e o molde,a densidade humana e artística.Suas imagens e metáforas oferecem um jogo colorido,graça auditiva,processos espirituais.Sinto-me feliz de haver reconhecido ,logo nos primeiros versos,o valor desse menino poeta.  BH,19\11\1954.

PRESSAGIO.

Sera na luz dos ventos quietos

e das madrugadas sozinhas.

Ouvir-se-a um gemido de mãe

e o balanço definido do fruto.

A realização da vida

na fraqueza desse verde

matara a solidão estéril

dessas formas contorcidas

e pelo espaço dissipadas.


Sera na luz dos ventos quietos.


POSIÇÃO.

Apenas espreito.

Sou um clandestino no barco

que ainda não embarquei.

Vigio a esquina do casco neutro

e junto a tensas cordas

e desmemoriados ferros

desafio as náuticas decisões

das gáveas que comandam

tardias esperanças.

(São as ilhas que acenam,

de impossíveis,tão perfeitas!)


Talvez me largue ao vento,

sem regresso,

ou então fique para ver outros passarem,

com braços e portos já nos olhos dormentes.


Nada sei.Apenas espreito.


E me sinto eternamente

ave colhida de inverno,

sem dialogo nem barcos,

sombra seca e varia nas ondas,

marco de silenciosas dissolutas partidas.


CANTO QUE AMANHECE.

Tenho barro nas mãos

e este lamento nos braços.


Nosso canto que desliza 

exangue e pungente no asfalto,


desprendeu-se de nosso corpo.

---velhas noites graves rios.


Canto que amanhece grande como a rua,

com o sal da noite,mortal e frio,


para o alimento dos ossos da praça

e o incêndio ,friíssimo,do mundo.


E´a voz de argila e desconsolo,

candeias semi-cativas de dores


que acordam e regressam remotas fontes

e flores isentas de sangue.


No pasmo das praças vazias,

nas curvas das quebradiças tíbias,


nos olhos ermos das gentes,

no dia que floresce o mortal caminho,


e´o canto que amanhece o canto,

sem vitoria e sem bandeira estendida.


Pois se os mortos reclamam a terra,

os vivos,se restam,só pedem a vida.


Pobre e enorme canto que eu canto,

barro nas mãos lamento nos braços.


Somos dois e nascemos.

Fomos dois e morremos.














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