.A mão de uma mulher e´branca e formosa por ser de carne e osso ,não de marfim e prata;eu a estimo não porque brilha,mas porque agarra. Soror Juana Inês de La cruz.
.Graça,qual e´a sua ?
Tem gente que acha tudo sem graça.
Tem os que procuram ,tem os que acham e tem os que fazem graça.
Tem gente que tem uma graça cheia de graça.
Mas tem graça que e´uma desgraça.
E tem Maria das Graças.
As vezes,a graça de estar vivo não tem nenhuma graça.
As vezes,a graça esta dentro do peito.
As vezes e´o próprio defeito.
As vezes não se alcança.
Mas uma graça alcançada e´mil vezes agraciada.
A graça pode ser falta ou excesso de siso.
Mas se achar graça,já lucrou no prejuízo.
Tem vezes que só essa graça nos resta,
achar graça da própria desgraça.
E ,quando alguém ,cheio de graça,passa,
ou deixa uma graça ou deixa uma desgraça
ou deixa a gente sem graça.
De qualquer forma ,nada,nunca e´de graça.
E por isso mesmo,Muchas Gracias. Alice Ruiz.
.Ultimo Poema.
Assim eu queria o meu ultimo poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lagrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. Manuel Bandeira.
.Neobarroso: in memoriam.
"Hay cadáveres"-canta Nestor Perlongher
esta morrendo e canta
seu canto de perolas barrocas,bocas repintadas
unhas lunulas-ostras desventuradas
um olor de magnólias e esta espira
amarelo-marijuana novelando pensões
baratas e transas de miche
-esta morrendo e canta-
Mães de mayo heroínas -carpideiras vazadas em prata negra -
luto argentino rioplatense plange-
Hay cadáveres...
esta morrendo e canta
Nestor agora em Portunhol neste bar paulista
desafoga a noite
umida.espessa
o daime e´quase unção extrema
canta:
Hay cadáveres,
e esta morrendo.
Haroldo de Campos,Homenagem ao poeta de vanguarda argentino Nestor Perlongher,morto em 26\11\1993.
.Homem Comum.
Sou um homem comum
de carne e de memoria
de osso e esquecimento.
Ando a pé,de ônibus,de táxi,de avião,
e a vida sopra dentro de mim
panica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
rostos e
mãos,o guarda-sol vermelho ao meio-dia
em pastos-bons,
defuntas alegrias flores passarinhos
facho de tarde luminosa
nomes que já nem sei. Ferreira Gullart.
M.
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