sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Origens de Roma.

 

Quais são alguns fatos interessantes, que ainda não terão sido referidos, sobre as Origens de Roma?

A lenda da fundação de Roma entronca em Eneias.

Porque motivo os romanos foram buscar um ancestral de origem troiana para seu fundador? Na verdade, Eneias sendo troiano, era acima de tudo grego. Ele encarnava, assim, os valores de uma civilização bastante admirada pelos romanos. Atribuindo a sua proveniência direta a um personagem de Homero, eles outorgavam uma origem prestigiante aos primeiros romanos e, ao mesmo tempo, embebiam as suas raízes nos modelos gregos.

(Troia)

Esta origem lendária terá nascido algures no século V a.C., o que permitiu aos romanos afirmar a sua superioridade sobre as outras cidades italianas que os rodeavam.

Mas porquê Troia? Roma, ao atribuir-se uma origem grega mitológica, não se podia filiar em qualquer outra cidade grega, cuja história era bem conhecida, mas apenas em Troia, em grande parte pela sua natureza ignorada.

(Eneias, fugindo de Troia, com a sua família e carregando o seu velho pai)

No entanto, Eneias possuía ainda outra particularidade: Ele era filho de Vénus. Assim, os romanos podiam-se vangloriar de descender de uma deusa. Eneias era também um modelo de virtude, pelo respeito que evidenciou para com os seus ancestrais. Era o herói ideal, um modelo de qualidade que se pretendia para esta nação.

(Guerreiro Romano, entre os séculos VII e VI A.C)

Ainda que legendária, a história de Eneias não foi totalmente inventada. Ela pode testemunhar uma influência distante de marinheiros gregos, presentes no mar Tirreno já desde os séculos XIV a.C., embora sem evidências arqueológicas que o confirmem. Talvez, num sentido mais alargado, a vinda de Eneias corresponda, grosso-modo, à chegada a Itália de povos conquistadores indo-europeus.

Uma das personagens por excelência da narrativa sobre as origens de Roma é Romulus. Mas os investigadores têm-se questionado se esta personagem terá realmente existido.

O próprio nome traz alguns problemas. A sua raiz etimológica é etrusca, mas não se sabe se deriva dum termo com o significado de ‘força’ ou de outro com o sentido de ‘peito ou mama’.

Ninguém pode verdadeiramente afiançar de que terá sido ele o fundador de Roma. Do que podemos estar seguros é que, na origem desta cidade, terá existido alguém, talvez um rei, dotado de poderes políticos e religiosos, que terá marcado a ascensão deste povoado e da sua comunidade até à potência imperial que conhecemos.

Sobre a existência deste rei fundador, deu-se em 1899 uma descoberta enigmática na parte ocidental do Fórum de Roma, no lugar onde a tradição diz ter sido assassinado ou onde terá falecido Rómulo.

Consiste num bloco prismático de mármore negro, celebremente denominado como lapis niger pela sua cor escura, com quatro faces inscritas em texto latino arcaico, escrito em forma boustrophidon, isto é, escrito sucessivamente de cima para baixo e de baixo para cima, que dizia:

«Todo aquele que violar este lugar seja consumido nas chamas do inferno e todo aquele que contaminar este lugar com imundície, ser-lhe-á confiscada toda a sua propriedade pelo rei, baixo a responsabilidade da lei. Todo aquele que o rei descobrir passando por esta estrada, ele dará ordem ao oficial de justiça para medir os seus animais de carga pelos rins, de forma que saiam da estrada imediatamente e tomem o devido caminho. Todo aquele que persistir passeando por esta estrada, a se negar a volver caminho, por ordem da lei, será vendido como escravo ao maior licitante»

O texto parece ter sido formulado por mando de um rei e é interpretado como sendo uma espécie de legislação que regulamenta os ritos do culto a Vulcano.

(Vulcano)

O cipo foi recolhido junto dos restos dum complexo monumental composto por uma plataforma, sobre a qual se encontra um altar e uma base circular, destinada seguramente a ostentar uma estátua. Estas estruturas foram interpretadas como pertencendo também a um santuário consagrado ao deus Vulcano. No local foram também encontrados restos osteológicos humanos dum indivíduo sacrificado. Com base na tradição literária, sabia-se que Rómulo estaria enterrado perto dum santuário dedicado ao deus Vulcano, o que permitiu ampliar as expectativas em torno do achado.

Os investigadores interrogaram-se se esta lápide testemunharia de facto o sepulcro de Rómulo, mas as últimas pesquisas parecem excluir a hipótese.

(Sepulcro de Rómulo)

A análise paleográfica do texto permite datá-lo do período da monarquia etrusca, em torno do século VI a.C. (alguns datam especificamente do ano 575 a.C.), portanto dois séculos depois da data tradicional de fundação de Roma, tratando-se mesmo assim da epígrafe mais antiga encontrada em Roma. A sua datação aponta para um período em que Roma ainda constituía um pequeno aglomerado antes de se converter na grande metrópole. Onde o espaço de achado destas estruturas, que se transformaria mais tarde no forum, já tinha ganho a centralidade da vida comercial das aldeias e aglomerados das colinas circundantes.

Qual a importância do monte Palatino?

Diz a narrativa que foram 12 aves a dar um bom presságio a Romulus na escolha deste local para edificar um burgo e aí ao irmão fratricida foi aclamado rei e fundou a cidade que levou, em sua memória, o nome de Roma.

O verdadeiro motivo para a primitiva ocupação humana local advém, tal como inúmeros outros assentamentos populacionais, do seu valor estratégico. O Palatino era uma verdadeira fortaleza natural, dominando a planície pantanosa do Tibre e o famoso vau da ilha Tiberina – o melhor ponto de travessia desta linha de água.

Este local situava-se na intersecção de duas importantes rotas: a via norte/sul que conectava as cidades gregas do sul da península itálica, com os povoados etruscos mais a norte; e um caminho de ligação entre o mar Tirreno e o mar Adriático, relacionado sobretudo com o comércio do sal e com as rotas de transumância para os pastos de Inverno na costa SO. As duas rotas entrecruzam-se exatamente nas proximidades da ilha tiberina, na passagem do rio Tibre.

Para além do Palatino, também a colina do Capitólio constituía uma fortificação natural de controlo desta encruzilhada estratégica de caminhos e gentes. As suas vertentes abruptas e arborizadas protegiam-na das cheias regulares do rio e das doenças que infestavam os pântanos. Não havia melhor sítio nas redondezas para fundar um povoado.

As escavações arqueológicas têm confirmado isto mesmo - o importante papel desempenhado pelo Palatino no nascimento de Roma, tendo-se descoberto aí inúmeros vestígios de cabanas e abrigos de pastores datáveis dos séculos VIII-VII a.C.

Por Fabiano in (Roma Antiga)

Imagens: PINTEREST


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