Transar e manter uma conversa intelectual à altura - Estes eram os atributos esperados dessas belas e cultas mulheres que estavam à diposição da aristocracia na Grécia antiga. A fama das hetairas atravessou os tempos e chegou até nós com uma aura de que algumas mulheres optavam por essa vida por livre e espontânea vontade, segundo alguns historiadores. No entanto, nem todas estavam nessa "vida" por opção.
Muitas hetairas eram provavelmente mulheres de classe alta que se tornaram escravas após a conquista de sua cidade-estado na Grécia ou de outros estados fora da Grécia. A captura de mulheres para torná-las escravas prostitutas é atestada já no século VIII aC. Também havia mulheres que escolheram a profissão e assim se tornaram trabalhadoras independentes, ou aquelas que foram forçadas a isso por circunstâncias como dívidas por não poderem contar com parentes do sexo masculino para sustentá-las. Naturalmente, uma das maiores diferenças entre os tipos de prostitutas era o preço, que poderiam custar desde apenas "um obol", chegando a 500 dracmas ou 3 mil obols as hetairas de primeira classe. A prostituição era uma parte aberta e legal da sociedade grega, onde bordéis públicos eram frequentemente financiados pelo estado porque eram vistos como uma parte necessária da vida diária. E as hetairas eram consideradas participantes normais nos entretenimentos aceitos por aqueles que podiam pagar por eles. Segundo a tese "MULHERES EM ATENAS, NO SÉCULO IV: O TESTEMUNHO DO CONTRA NEERA, DE DEMÓSTENES", de Eduarda Tavares Peters e Fábio Vergara Cerqueira, "além da beleza, elas se destacavam pelas artes que dominavam como a dança, tocar instrumentos e, inclusive, conhecimentos filosóficos, por conta desses fatores podiam até escolher seus próprios clientes. As hetairas, além do privilégio de poderem opinar e debater questões políticas, não estavam submetidas a normas de conduta em relação ao seu comportamento, ou seja, ao modo de se vestir, agir, e se comportar em público".
Uma das hetairas mais famosas da história trata-se da moçoila Frinéia, que nasceu em Thespies, mas viveu a maior parte de sua vida em Atenas no século 4 AC. Frinéia se tornou célebre por ter sido modelo do escultor Praxíteles, criador das estátuas de Hermes e Dionísio em Olimpia:
Diz a lenda que Frinéia serviu de modelo para as várias cópias de estátuas de Afrodite, de Praxíteles. Ela, no entanto, se viu em maus lençóis quando fora acusada de profanar os "Mistérios de Elêusis" (ritos de iniciação ao culto de deusas agrícolas), chegando a ser processada por seus acusadores. Frinéia, no entanto, foi defendida pelo orador Hipérides, um de seus amantes. Quando Hipérides percebeu que o veredito seria desfavorável, rasgou o manto da bela Frinéia, exibindo seu corpo, conseguindo assim que os juízes a absolvessem. Outra versão diz que ela mesma tirou suas roupas. Mas a mudança no julgamento dos juízes não foi simplesmente porque eles ficaram fascinados pela beleza de seu corpo nu, mas porque, na Grécia Antiga, o belo era identificado com o bom, como um aspecto da divindade ou um sinal de favor divino.
Por ocasião de um Festival de Poseidon, na cidade grega de Elêusis, ela colocou de lado suas roupas, soltou os cabelos, e entrou nua no mar, à vista do povo, inspirando o pintor Apeles, em sua grande obra "Afrodite Anadyomène" (às vezes também retratada como "Vênus Anadyomène "), para o qual Frinéia posara como modelo.
Devido à sua beleza, ela também inspirou mais tarde a pintura do artista Jean León Gérome, "Frinéia devant l'Areopage" (1861), bem como outras obras de arte ao longo da história.
No Brasil, Frinéia também ganhou homenagens. O poeta brasileiro Olavo Bilac descreve o julgamento da bela no poema " Julgamento de Frinéia (1888). No cancioneiro popular brasileiro, Nelson Gonçalves, em 1958, lançou o álbum Escultura, em cuja música de mesmo nome, composta por Adelino Moreira, "A malícia de Frinéia", surge como parte de uma obra perfeita, aludindo ao mito de Pigmaleão. Charles Baudelaire, se inspirou nela ao escrever seus poemas "Lesbos" e "La beauté", assim como Rainier Maria Rilke, em seu poema "Die Flamingos", também se inspirou na beleza e fama de Frinéia.
Na música erudita, Frinéia foi tema de uma ópera de Camille San Saens: Phryne (1893). No cinema, há referências sobre ela em Altri tempi", série de Alessandro Blasetti (1951) na qual o oitavo e último episódio é intitulado "Il processo di Frine".
Sua fama também ganhou o espaço sideral quando um asteroide, descoberto em 1933, ganhou o nome de "1291 Phryne".
http://www.neauerj.com/Nearco/arquivos/numero12/68-84.pdf
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