.Carlos Vogt. 4\2\1943.SP.
.ÁGUA.
Por e suas mãos ,no gesto,o copo agora ali sobre a cristaleira
guarda outros copos ,porem vazios da contida água do primeiro copo;
nele deposita com o desejo de bebe-la a sede
senão de vinho,da vinha torrencial de continentes líquidos,
não os amarrados em forma de transparente solidão,
só´aqueles solitários na opaca transparência de muros sem razão.
Água ausente ,distante,mas inequívoca água
como bois rumina o tempo de estar ali parada
a espera que a mão,o movimento,a boca
deformem o conteúdo de sua estagnada e pronta chuva.
Água mais memoria de ter sido água
água-boi,água-quase,quase-queda,queda d´água
sem rochedos,pedras,precipícios,
água,talvez dissesse ali encerrada como em pasto estreito,
ou melhor pensada no instantâneo de um principio:
parte de alguma totalidade fluida cuja compreensão compreende a suposição do porte;
totalidade embora,mesmo que em si mesmo desconstruída em partes,
não leva já a parte alguma.
Água como diria,condenada ao copo e destinada ao corpo,
água vista agora na transparência quita da fusão de materiais estranhos,
água,sendo copo,conforma o copo do que não e´mais água
e tem do boi o mesmo olhar de gelatina e opaco brilho;
água com sede do outro quer ser água e não recusa continuar ser vidro,
água imóvel como cristais correntes
copos vazios cheios de ilusões aquáticas
água,pois.ali parada ,água-palavra a endurecer no copo,
copo de fala amolecido e pronto a derramar-se em cursos.
M.
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