segunda-feira, 26 de julho de 2021

Dieta Espartana.

 

Por que os espartanos são retratados como musculosos, quando eles tinham bem pouco o que comer (e isso prejudica o crescimento e o desenvolvimento de músculos)?

Eu vou tentar fazer uma análise curta sobre como era a aparência real dos espartanos.

Acima está uma escultura que acreditam ter se originado em Esparta e que mostra um hoplita espartano do sexto século AC.

Ambos Plutarco e, ainda mais importante, Xenófono, enfatizam que os jovens espartanos (ou seja, os que estavam na idade crítica de desenvolvimento e crescimento físico) não tinham permissão de comer "demais". Xenófono falou que eles comiam "Justamente a quantidade certa para que nunca se tornassem molengas por terem comido muito, e ao mesmo tempo tinham um gostinho de como era não ter comida suficiente. [Licurgo] tinha a opinião de que os meninos, sob esse regime, seriam mais capazes de, quando necessário, trabalhar duro mesmo sem comer, e também de fazer a comida durar mais, quando fossem mandados a fazer isso; eles ficariam satisfeitos com uma dieta simples, se adaptariam melhor a aceitar qualquer tipo de comida, e teriam condições melhores de saúde. [Licurgo] também tinha a opinião de que uma dieta que produz corpos mais magros era melhor para fazer os meninos ficarem mais altos do que uma com muita comida, que faria eles ficarem musculosos." (Spartan Society:2).

Plutarco, que é a fonte menos confiável, escreve: "O objetivo de fornecer [aos meninos espartanos] apenas uma porção pequena era fazer com que eles se motivassem a compensar suas deficiências alimentícias por meio de roubo e vilania. Embora esse aparentemente tenha sido o motivo principal para a sua dieta escassa, um outro o desenvolvimento dos seus corpos; a dieta supostamente lhes ajudava a ficar mais altos. Quando as pessoas comem muito, suas respirações são mais trabalhosas e, assim, produzem corpos mais largos e baixos. Em contraste, se a respiração sofre de apenas um pequeno atraso e dificuldade, e se tiver um fluxo fácil, o corpo pode se desenvolver mais livremente e confortavelmente. Aparência boa é produzida assim também, visto que corpos magros se articulam melhor, enquanto os mais gordos não conseguem se moldar bem aos formatos das articulações." (Licurgo:17).

É muito aparente que Xenófono foca sua explicação sobre como os espartanos restringiam a dieta dos jovens para fins muito úteis em operações de combate, enquanto a especulação de Plutarco é mais sobre roubo e "vilania". Certamente, se seguirmos a lógica de Plutarco, a juventude espartana não sofria nenhuma privação, visto que eles simplesmente roubavam mais comida e, quanto melhores e mais espertos fossem os roubos, mais eles ficavam gordos, acabando com todo o argumento "secundário" a respeito de melhoramento físico.

É notável, entretanto, que apesar das explicações diferentes sobre os motivos dos espartanos instituírem esses regimes severos aos jovens, ambos os autores sugerem que ele produzia homens "altos" e, no caso das afirmações de Plutarco, bonitos. A ciência moderna, contudo, prova que comida de menos, na verdade, prejudica o crescimento, e não o contrário. Claramente os comentaristas da antiguidade postularam um efeito causal onde não havia nenhum, mas tais teorias provavelmente se basearam em dois fatos conhecidos: os jovens espartanos comiam menos do que seus equivalentes atenienses etc., e os espartanos era, no geral, mas altos do que os seus inimigos.

(O observador moderno deveria reparar muito o fato de que se os espartanos eram, aparentemente, geralmente mais altos do que os outros gregos, então isso é um forte indicador de que eles não sofreram com qualquer tipo de privação real de comida, quando crianças. Mesmo que dessem "pouca" comida para os jovens, não era tão pouco assim a ponto de prejudicar seu crescimento de qualquer forma que fosse, já que mesmo que um pouco dos jovens fossem inclinados a roubar comida, não seriam todos eles que se submeteriam a isso.)

Voltando para o tema da aparência física, contudo, nós claramente temos uma indicação racional de que os espartanos eram, em média, notavelmente mais altos do que a maioria dos homens de sua época. Já que a antiga explicação (sobre eles receberam pouco o que comer quando crianças) é implausível, nós precisamos procurar outras explicações possíveis que faria essa tese (sobre os espartanos serem geralmente mais altos) crível.

Aqui a experiência do Japão moderno pode ser um corolário útil. Enquanto a dieta dos japoneses era dependente quase que exclusivamente de peixes como fonte de proteína, os japoneses eram notavelmente baixinhos; a introdução de carne levou a altura média dos japoneses a subir muito, mais ou menos 30 centímetros, em apenas duas gerações. Se lembrarmos que peixe era a comida preferida de Atenas e a proteína mais facilmente encontrada em todas as ilhas gregas, ao mesmo tempo que os espartanos eram invejados por seus pastos ricos e florestas cheias de caça, eu acho que é justo postular que a dieta espartana tinha mais carne do que a da maioria dos seus rivais. Faz sentido, então, imaginar que os espartanos eram incomumente altos, julgando pelos padrões da época.

Seria errado concluir, contudo, que eles eram também mais largos do que os seus contemporâneos. Ao contrário, os comentaristas da antiguidade enfatizam que os espartanos eram magros, algo que eles atribuíam às porções fixas na sissítia. Ao mesmo tempo, homens muito altos e muito magros teriam sido incapazes de marchar longas distâncias ou de lutarem muito bem em uma falange. Então provavelmente eles eram homens magros, mas não magricelas.

Embora possa ser tentador imaginar um espartano no seu auge com uma aparência super musculosa, eu devo apontar que o sucesso militar de Esparta não era somente e simplesmente uma função da habilidade das tropas espartanas de forçarem mais o seu caminho entre os inimigos, mas também da sua capacidade de marchar muito mais rapidamente (e durante a noite) e de andarem em terrenos difíceis. Com a ênfase na caça, principalmente feita pelos homens nas reservas, isso me sugere que os espartanos não eram necessariamente musculosos, mas sim magros e rápidos, com ombros largos e braços fortes. Em conclusão, Eu enfatizo que os espartanos tinham corpos atléticos desenvolvidos com décadas e décadas de atividades físicas que iam de esportes e caça até as atividades militares, em combinação com uma dieta saudável mas não com muita proteína que lhes fazia serem fortes e magros, mas não extremamente musculosos.

Essa estátua foi escavada em Esparta e data do começo do quinto século AC. Pode-se presumir que ela representa um homem espartano "ideal" de acordo com a própria perspectiva espartana da época.


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