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Segundo a mitologia grega, Micenas teria sido fundada por Perseu, neto do rei Acrísio de Argos, pela sua filha, Dânae. Tendo matado acidentalmente o seu avô, Perseu não herdou o trono de Argos. Em contrapartida, procedeu à troca de domínios com o seu primo, Megapentes, que ficou com Argos enquanto que Perseu passou a reinar em Tirinte, tendo, posteriormente, procedido à fortificação de Micenas.[4]
Perseu, casado com Andrómeda, depois de ter tido dela vários filhos, entrou em guerra com Argos, onde foi morto por Megapentes.[5] O seu filho, Electrião, viu a sucessão disputada pelos Táfios, filhos de Ptérelas. Estes reclamavam para si o trono por pertencerem à linhagem dos Perseidas através do seu bisavô Mestor, irmão de Eléctrion. Como este último não abdicou aos interesses dos Táfios, estes vingaram-se procedendo ao roubo de grande parte dos rebanhos reais, que levou os filhos de Eléctrion a entrar num combate que resultou na morte de todos os contendores. Eléctrion decidiu, então, seguir para a guerra, confiando a sua filha Alcmena ao seu sobrinho Anfitrião, que lhe havia resgatado as cabeças de gado. Anfitrião, contudo, mata acidentalmente o seu tio e é obrigado a purificar-se do seu acto, seguindo para o exílio.[6][7]
O trono passou para Esténelo, o terceiro na dinastia e filho de Perseu. Este abriu caminho para a futura grandeza ao casar com Nícipe, uma filha do rei Pélope de Élis, o mais poderoso estado da região, na altura. Com esta, teve um filho, Euristeu, o quarto e último rei da Dinastia Perseida. Quando um filho de Héracles, Hilo, matou Esténelo, Euristeu tornou-se conhecido pela inimizade que passou a votar a Héracles e à violenta perseguição aos Heráclidas, os descendentes de Héracles. Estes últimos, que identificar-se-iam com o povo dórico, reclamavam para si o trono de Micenas, pelo que Euristeu determinou-se em aniquilá-los e, em consequência, procuraram refúgio em Atenas. No curso da guerra, Euristeu foi morto juntamente com todos os seus filhos. A dinastia Perseida via chegar o seu fim. O povo de Micenas decide, então, colocar o tio materno de Euristeu, Atreu, um Pelópida, no trono.
Dinastia Átrida
O regresso de Agamémnon
O povo de Micenas tinha sido aconselhado por um oráculo a escolherem o novo rei de entre alguém dos Pelópidas. Os dois pretendentes eram Atreu e o seu irmão, Tiestes. Este foi o inicialmente escolhido. Mas, na sequência desta escolha, o sol percorreu o céu em sentido inverso, pondo-se a Este. Atreu aproveitou o fenómeno para argumentar que, tal como o caminho do sol tinha sido invertido, também a eleição o deveria ser. O argumento foi tido em conta e Atreu tornou-se rei. O seu primeiro acto foi perseguir Tiestes e toda a sua família - isto é, os seus próprios familiares, mas Tiestes conseguiu escapar.
Segundo a lenda, Atreu tinha dois filhos, Agamémnon e Menelau, os Átridas. Egisto, filho de Tiestes, matou Atreu e restaurou o reinado de seu pai. Com a ajuda do Rei Tíndaro de Esparta, os Átridas conseguiram, contudo, levar Tiestes de novo para o exílio. Tíndaro, por sua vez, tinha duas filhas, Helena e Clitemnestra, que casaram, respectivamente, com Menelau e Agamémnon. Este último herdou Micenas e Menelau tornou-se rei de Esparta.
O assassinato de Agamémnon
Pouco depois destes acontecimentos, Helena fugia de casa do seu marido com Páris de Troia. Agamémnon conduziu, então, uma guerra de 10 anos contra Troia no intuito de a reaver para seu irmão. Devido à falta de vento, o navio de guerra onde deveria seguir a Troia não saía praticamente do porto, o que levou-os a chamar um oráculo para esclarecer o que estava acontecendo. O oráculo esclarece que quando Agamemnon matou um cervo em uma floresta sagrada e se gabou de ser o melhor caçador, desagradou Ártemis e como punição Agamémnon deveria sacrificar a sua filha mais velha Ifigênia em seu altar. Clitemnestra é enganada para trazer a filha com a promessa de que ela casaria com Aquiles. Ao descobrir a trama Ifigênia, diante da revolta do exército, aceita se sacrificar. A deusa da caça, Ártemis, substituiu-a, sobre ao altar, no último momento, por uma corça, levando Ifigênia para Táurida para ser sua suma sacerdotisa. Tendo as divindades ficado satisfeitas com tal sacrifício, os ventos começaram a soprar de novo e a frota partiu para Troia.[8]
Conta ainda a lenda que a longa e árdua Guerra de Troia, ainda que tivesse sido, nominalmente, uma vitória para os Gregos, trouxe consigo a anarquia, pirataria e ruína para os povos envolvidos. Mesmo antes da partida da frota grega para Troia, o conflito provocou divisões entre os próprios deuses, acarretando consigo maldições e actos de vingança em torno dos heróis gregos. Depois da guerra, Agamémnon, no seu regresso, foi recebido com todas as honras, sendo de seguida morto durante o banho por Clitemnestra, que o odiava desde a altura em que este tinha ordenado o sacrifício da sua filha, Efigénia, ainda que esta se tenha salvo posteriormente. Clitemnestra foi ajudada no seu crime por Egisto, que reinou em seguida, mas Orestes, filho de Agamémnon, conseguiu fugir para a Fócida, de onde voltou, já adulto, para assassinar Egisto e Clitemnestra. De seguida, fugiu para Atenas para fugir da justiça devido ao matricídio, passando por uma fase de loucura. Entretanto, o trono de Micenas passou para Aletes, filho de Egisto, mas não por muito tempo. Ao recuperar a sanidade, Orestes voltou a Micenas e matou-o, recuperando o trono.[9]
Orestes construiu, então, um dos maiores estados do Peloponeso, mas morreu com a dentada de uma cobra, na Arcádia. O seu filho, Tisâmeno, o último da dinastia Átrida, foi morto pelos Heráclidas no seu regresso ao Peloponeso. Estes reclamavam o direito dos Perseidas de herdar os vários reinos do Peloponeso e sortear o seu domínio. Quaisquer que sejam as realidades históricas reflectidas nestas histórias, os Átridas estavam firmemente estabelecidos na época próxima do fim da Era Heróica, com a chegada dos Dóricos. Não existem histórias estabelecidas sobre qualquer casa real em Micenas depois dos Átridas, o que pode reflectir o facto de que não terão passado pouco mais que cinquenta a sessenta anos desde a queda de Troia VII (que teria inspirado a Troia homérica) e a queda de Micenas.
Os Átridas na Ásia Menor
De facto, houve um eclipse total do sol no mar Egeu a 5 de março de 1223 a.C., que poderia ter levado os Atreus a interpretarem-no como a inversão natural do curso do sol, como se tivesse posto a oriente, de acordo com a lenda. Esta data não resolve todos os enigmas levantados pela narrativa mitológica.
Uma data posterior está relacionada com a Guerra de Troia, que poderia estar, nesse caso, realmente relacionada com Troia VII. Os Perseidas terão estado no poder cerca de 1340, altura de que data a base de uma estátua de Kom el-Heitan no Egito, em memória do itinerário de uma embaixada egípcia ao mar Egeu no tempo de Amenófis III. Aceitando que M-w-k-i-n-u,[10] uma das cidades visitadas, correspondia a Micenas, este é um raro documento a referir a cidade, pertencente aos "Tanaja", identificados com os Dânaos citados por Homero, cujo nome proviria de Dânae, mãe de Perseu, o que sugere que os Perseidas tinham alguma forma de domínio sobre a região do Egeu.
Também no século XIV a.C há notícia dos problemas causados pelos Ahhiya a vários reis do Império Hitita. Ahhiyawa ou Ahhiya, termos que ocorrem algumas vezes em várias tábuas hititas ao longo deste século, corresponderia provavelmente a Achaiwia, forma reconstruída do grego micénico para designar a Acaia. Os Hititas não usavam o termo Danaja, como faziam os Egípcios, ainda que a primeira referência aos Ahhiya nos "Pecados de Madduwatta"[11] preceda a correspondência entre Amenófis III e um dos sucessores de Madduwatta em Arzaua, Tarunta-Radu. As fontes externas correspondentes ao Heládico Tardio IIIA:1 concordam, contudo, na omissão de qualquer grande rei ou outra qualquer estrutura unificadora além de Tanaja / Ahhiya.
Por exemplo, em "Os Pecados de Madduwatta", Attarissiya, o "homem de Ahhiya" (i.e. o seu governante), ataca Madduwatta e repele-o do seu território. Este obtém refúgio e ajuda militar do grande rei Hitita Tudalia. Depois da morte deste último e no reinado do seu filho, Arnuwanda, Madduwatta alia-se a Attarissiya e, juntamente com outro governante, atacam Alaxia, ou seja, Chipre.
Esta é a única ocorrência documental de alguém com o nome de Attarissia. As tentativas de relacionar o nome a Atreu não têm sido suportadas pela comunidade científica, nem existe qualquer evidência de qualquer Pelópida chamado Atreu por esta altura.
Durante o Heládico Tardio LHIIIA:2, Ahhiya, já conhecido como Ahhiyawa, estendeu a sua influência até Mileto, fixando-se na costa da Anatólia, tendo competido com os Hititas pela influência e controlo da Anatólia Ocidental. Por exemplo, por Uhha-Ziti de Arzaua e, através dele, pela região do Rio Seha de Manapa-Tarhunta. Ainda que estabeleçam a credibilidade dos Micénicos enquanto poder histórico, estes documentos levantam tantos problemas quanto os que resolvem.
De forma semelhante, um rei hitita escreveu a chamada "Carta de Tawagalawa"[12] para o grande rei dos Ahhiyawa, sobre os danos causados por um aventureiro de nome Piyama-Radu, de Luwiyan. Nenhum dos nomes desses grandes reis está, de facto, estabelecido, podendo o rei hitita ser Muwatalli II ou o seu irmão Hattusili III, o que fará datar a carta para o Heládico Tardio LHIIIB, segundo os padrões Micénicos. Mas nem na lenda de Atreu nem na de Agamémnon se faz referência a quaisquer irmãos chamados Etewoclewes (Etéocles), nome que, contudo, está associado a Tebas que, durante o precedente período do Heládico Tardio, LHIIIA, Amenófis III considerava igual a Micenas.
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