«Outro ponto que considerei interessante foi como se deu o processo de romanização da Itália. O que levou sociedades profundamente hostis a Roma (celtas do norte, samnitas) ou com forte tradição cultural (etruscos), a acabar por prescindir da sua própria cultura, quando Roma nem sequer fez um esforço para os integrar? Roma nunca impôs escolas e o ensino do latim, ou proibiu o uso das línguas autóctones.
O processo pode ser parcialmente acompanhado pela evolução dos túmulos. No século IV, quando os celtas e etruscos são conquistados, os seus túmulos revelam os objetos tradicionais das respetivas culturas (claro, que com alguns objetos de fora, coisa que sempre tinha sucedido). No caso dos celtas, aparecem armas e objetos de decoração típicos dos chefes; os etruscos mantêm as suas pinturas e escrita tradicional. Lentamente, as armas vão diminuindo para os celtas e os objetos (como fíbulas) mostram mudanças no vestuário, mas até ao principio do século IAC, ainda mantém o seu carácter celta. Depois da extensão da cidadania a toda a Itália (princípios do século I AC), o processo acelera-se e no período de Augusto, os túmulos são puramente romanos. O mesmo sucede com os túmulos etruscos.
Ou seja, no principio existe uma resistência ao que é romano, mas lentamente a cultura romana vai-se infiltrando, deixando de ser inimiga, tornando-se parte do dia-a-dia, coexistindo com a cultura local, mas num período de menos de um século (3 gerações) a população latiniza-se.
Pode-se ver isso também com a evolução da língua. O latim com a conquista romana, torna-se a língua oficial das negociações diplomáticas, mas nada mais; são as próprias comunidades locais, que decidem publicar a nível local as suas leis em modo bilingue, para mostrar a sua fidelidade. Com os jovens a serem recrutados para o exercito e a terem de aprender o latim, este rapidamente se espalharia (mesmo que sem substituir as línguas locais). A língua serviria de língua franca então entre todas as populações (sempre que um samnita ou um ósco fosse para outra zona de Itália teria de usar o latim para ser compreendido). Com uma simples questão de moda e de não parecer provinciano, as pessoas rapidamente abandonariam as línguas dos antepassados.
Mas um outro argumento que me pareceu interessante para as culturas aderirem à cultura romana, é de que o que apelidamos de cultura romana, era sobretudo uma amálgama que os romanos tinham feito a partir de outras culturas (que eles próprios resistiram a principio a adoptar, sobretudo os mais conservadores). Os restantes povos, ao aperceberem-se que eram elementos de outras culturas (banhos, jogos, aquedutos, etc) não lhes resistiam, dado que não consideravam que estavam a adoptar nada de romano, mas sim elementos culturais e materiais dos gregos, etruscos e outros. Mas o resultado era uma uniformização de norte a sul da Itália (e depois do império), mesmo que nunca tivesse sido esse o objectivo a principio.»
Por Fabiano, 4 de junho de 2009 in Roma Antiga
Imagens: PINTEREST
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