Sussurros de imortalidade
Webster, possesso pela morte,
via, detrás da pele, os crânios;
riam sem lábios, reclinando-se
sem tórax, seres subterrâneos.
Não olhos: bulbos de narciso
pasmavam de órbitas escuras!
Sabia: a mente envolve restos
mortais com luxos e luxúrias.
Donne, posso crer, também achava
que era ao sentido que cabia
pegar, render e penetrar;
perito em mais do que a empiria,
ciente da angústia da medula,
do espasmo do esqueleto, viu
que, no contato dado à carne,
nada se aplacava o osso febril.
* * *
Grishkin é bela: sublinhados,
seus olhos russos são enfáticos;
sem sutiã, seu busto amigo
promete júbilos pneumáticos.
O jaguar brasileiro, à espreita
do mico lépido, o avassala
com eflúvio sutil de gato;
Grishkin possui um quarto-e-sala;
O nédio jaguar brasileiro,
em sua sombra arbórea, não
destila odor forte e felino
como o de Grishkin num salão.
Mesmo abstrações rondam seu charme.
Entre ossos secos, todavia,
meus iguais, rastejando, aquecem
a nossa vã filosofia.
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