quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

LORCA.

                               LORCA.







“Aonde os olhos vão com prazer, o coração também vai e os pés não demoram a segui-los.”
Federico Garcia Lorca, (5\6\1898-18\8\1936), poeta e dramaturgo Espanhol.



Lorca nasceu e foi executado em Granada (Andaluzia), região de base mourisca, touradas, Flamenco e o Alhambra (Granada).
O Século XIX originou o arquétipo do poeta “maldito”, ou seja, aqueles que usavam sua pena para apontar mazelas em suas sociedades, ficando a margem do otimismo social.
Ex. Holderlin, Hugo, Baudelaire, Rimbaud, Souzândrade; entre outros. Essa posição de antagonismo ao otimismo tem no Sec. XX continuidade com: Apollinaire, Maicovski, Valéry, para citar alguns. Herdeiro desses “legados” surge Lorca.
Vanguardista, ligado aos Surrealistas, amigo de Salvador Dalí e Luís Buñuel sua obra abrange o folclore de sua região bem como as tradições Gitanas. Ligado à chamada “Geração de 1927”, granjeia popularidade com seu “Romancero Gitano” de 1928. Era também, pintor e musico. Tem em sua trilogia camponesa (tragédias rurais) a consolidação de sua dramaturgia:
Magnus opus:
“Bodas de sangue”1933;
“Yerma”1934;
“A casa de Bernarda Alba”1936.
.Tinha simpatias pelo Socialismo e tendências homossexuais.
Quando eclodiu a Guerra Civil Espanhola (17\7\1936-1\4\1939); foi engolido pelo conflito sendo morto a tiros por franquistas.
O regime republicano foi atacado pelos nacionalistas liderados pelo gen. Franco. E uma das primeiras regiões a cair em mãos fascistas, foi o solo Granadino. Os motivos de sua execução são obscuros, pois não era militante da esquerda, embora simpático, tinha transito com setores conservadores; e foi-possivelmente-executado de costas; alusão a sua orientação sexual.
De todo modo, tornou-se um “poeta-Mártir”, pois para alguns franquistas, sua caneta era mais perigosa que um revólver...
Com a Democratização do estado Espanhol, seu nome foi reabilitado. Os poetas e visionários, silenciados, fuzilados, exilados ao longo da jornada humana, tem em comum,
O reconhecimento da posteridade, um destaque entre milhões de mortes. Lorca  combinando Tradição e vanguardismo, temperado pelo tom ácido da realidade; colocou seu nome entre os imortais, mesmo que tenham calado sua pena.  
  
Poemas:

.MEMENTO. ( Memória, Lembrança em Latim).    
        
“Quando eu morrer
Enterrem-me na areia
Com a guitarra

Quando eu morrer
Entre a laranjeira
E a hortelã         

Quando eu morrer
Se quiserem
Enterrem-me num catavento      

Quando eu morrer. ”    
       

 “.A Casada Infiel.

E eu que a levei ao rio
Supondo fosse donzela,
Quando já tinha marido.

Era noite de são Thiago
E foi quase um compromisso
Apagaram-se os faróis
E se acenderam os grilos.
Já nas ultimas esquinas
Toquei-lhe os peitos dormidos,
E se me abriram de pronto
Como ramos de jacintos
Polvilho de sua anágua
Vinha ranger-me ao ouvido
Tal como um corte de seda
Por dez laminas rompido.
Sem luz de prata nas copas
Os troncos tinham crescido,
E um horizonte de cães
Ladrava longe do rio.

Atravessando o silvado
Por entre juncos e espinhos
Sob a sua cabeleira
Fiz uma concha no limo.
Tirei minha gravata
Ela tirou seu vestido
Eu, o cinto com o revolver
Ela, seus quatro corpetes.
Nem nardos, nem caracóis.
Mas uma cútis tão fina,
Nem sob a lua cristais
Relumbram com tanto brilho.
Suas coxas me escapavam
Como peixes surpreendidos,
Metade cheias de lume,
Metade cheias de frio.
Naquela noite corri
Pelo melhor dos caminhos
Montado em potra de nácar,
Sem freios, nem estribos.
Não quero dizer sou homem,
As coisas que ela me disse.
E´ que a luz do entendimento
Torna-me mui comedido
.Suja de beijo e areia,
Levei-a dali, do rio
Em luta com o ar, batiam-se
Brancas espadas, os lírios.

Portei-me como quem sou.
Como Gitano legítimo
Dei-lhe estojo de costura
Grande, de fina palhinha
Mas não quis enamorar-me,
Porque já tendo marido,
Disse-me que era donzela
Quando a levava ao rio.”


.1910\Intermezzo.
“Aqueles olhos meus de 1910
Não viram enterrar os mortos,
Nem a feira de cinzas do que chora na madrugada,
Nem o coração que treme acossado
Como um cavalo marinho.

Aqueles olhos meus de 1910
Viram a parede branca onde as crianças urinavam
O focinho do touro, o cogumelo venenoso
Uma lua incompreensível que iluminava pelos ermos
Pedaços de limão seco sob duro negro das garrafas.

Aqueles olhos meus no pescoço da pequena égua,
No peito transfixado de Santa Rosa adormecida,
Nos telhados do amor,
 com gemidos e mão frescas,
Num jardim onde gatos comiam rãs.

Vão onde o pó antigo congrega estátuas e musgos,
Caixas que guardam o silencio de caranguejos devorados
No lugar onde o sonho
Tropeça com a realidade.
Ali, meus pequenos olhos.

Não me pergunte nada. Vi que as coisas
Quando buscam seu curso encontram seu vazio.
Há uma dor de ocos pelo ar sem gente
E em meus olhos criaturas vestidas
----- sem nudez!"

Tradução: Carlos Drummond de Andrade.
Autor: Marco Antônio E. Da Costa.












                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário