LORCA.
“Aonde os
olhos vão com prazer, o coração também vai e os pés não demoram a segui-los.”
Federico
Garcia Lorca, (5\6\1898-18\8\1936), poeta e dramaturgo Espanhol.
Lorca nasceu
e foi executado em Granada (Andaluzia), região de base mourisca, touradas,
Flamenco e o Alhambra (Granada).
O Século XIX
originou o arquétipo do poeta “maldito”, ou seja, aqueles que usavam sua pena
para apontar mazelas em suas sociedades, ficando a margem do otimismo social.
Ex.
Holderlin, Hugo, Baudelaire, Rimbaud, Souzândrade; entre outros. Essa posição
de antagonismo ao otimismo tem no Sec. XX continuidade com: Apollinaire,
Maicovski, Valéry, para citar alguns. Herdeiro desses “legados” surge Lorca.
Vanguardista,
ligado aos Surrealistas, amigo de Salvador Dalí e Luís Buñuel sua obra abrange
o folclore de sua região bem como as tradições Gitanas. Ligado à chamada
“Geração de 1927”, granjeia popularidade com seu “Romancero Gitano” de 1928.
Era também, pintor e musico. Tem em sua trilogia camponesa (tragédias rurais) a
consolidação de sua dramaturgia:
Magnus opus:
“Bodas de
sangue”1933;
“Yerma”1934;
“A casa de
Bernarda Alba”1936.
.Tinha
simpatias pelo Socialismo e tendências homossexuais.
Quando
eclodiu a Guerra Civil Espanhola (17\7\1936-1\4\1939); foi engolido pelo
conflito sendo morto a tiros por franquistas.
O regime
republicano foi atacado pelos nacionalistas liderados pelo gen. Franco. E uma
das primeiras regiões a cair em mãos fascistas, foi o solo Granadino. Os
motivos de sua execução são obscuros, pois não era militante da esquerda,
embora simpático, tinha transito com setores conservadores; e
foi-possivelmente-executado de costas; alusão a sua orientação sexual.
De todo
modo, tornou-se um “poeta-Mártir”, pois para alguns franquistas, sua caneta era
mais perigosa que um revólver...
Com a
Democratização do estado Espanhol, seu nome foi reabilitado. Os poetas e
visionários, silenciados, fuzilados, exilados ao longo da jornada humana, tem
em comum,
O
reconhecimento da posteridade, um destaque entre milhões de mortes. Lorca combinando Tradição e vanguardismo, temperado
pelo tom ácido da realidade; colocou seu nome entre os imortais, mesmo que
tenham calado sua pena.
Poemas:
.MEMENTO. (
Memória, Lembrança em Latim).
“Quando eu
morrer
Enterrem-me
na areia
Com a
guitarra
Quando eu
morrer
Entre a
laranjeira
E a hortelã
Quando eu
morrer
Se quiserem
Enterrem-me
num catavento
Quando eu
morrer. ”
“.A Casada Infiel.
E eu que a
levei ao rio
Supondo
fosse donzela,
Quando já
tinha marido.
Era noite de
são Thiago
E foi quase
um compromisso
Apagaram-se
os faróis
E se
acenderam os grilos.
Já nas
ultimas esquinas
Toquei-lhe
os peitos dormidos,
E se me
abriram de pronto
Como ramos
de jacintos
Polvilho de
sua anágua
Vinha
ranger-me ao ouvido
Tal como um
corte de seda
Por dez
laminas rompido.
Sem luz de
prata nas copas
Os troncos
tinham crescido,
E um
horizonte de cães
Ladrava
longe do rio.
Atravessando
o silvado
Por entre
juncos e espinhos
Sob a sua
cabeleira
Fiz uma
concha no limo.
Tirei minha
gravata
Ela tirou
seu vestido
Eu, o cinto
com o revolver
Ela, seus
quatro corpetes.
Nem nardos,
nem caracóis.
Mas uma
cútis tão fina,
Nem sob a
lua cristais
Relumbram
com tanto brilho.
Suas coxas
me escapavam
Como peixes
surpreendidos,
Metade
cheias de lume,
Metade
cheias de frio.
Naquela
noite corri
Pelo melhor
dos caminhos
Montado em
potra de nácar,
Sem freios,
nem estribos.
Não quero
dizer sou homem,
As coisas
que ela me disse.
E´ que a luz
do entendimento
Torna-me mui
comedido
.Suja de
beijo e areia,
Levei-a
dali, do rio
Em luta com
o ar, batiam-se
Brancas
espadas, os lírios.
Portei-me
como quem sou.
Como Gitano
legítimo
Dei-lhe
estojo de costura
Grande, de
fina palhinha
Mas não quis
enamorar-me,
Porque já
tendo marido,
Disse-me que
era donzela
Quando a
levava ao rio.”
.1910\Intermezzo.
“Aqueles
olhos meus de 1910
Não viram
enterrar os mortos,
Nem a feira
de cinzas do que chora na madrugada,
Nem o
coração que treme acossado
Como um
cavalo marinho.
Aqueles
olhos meus de 1910
Viram a
parede branca onde as crianças urinavam
O focinho do
touro, o cogumelo venenoso
Uma lua
incompreensível que iluminava pelos ermos
Pedaços de
limão seco sob duro negro das garrafas.
Aqueles
olhos meus no pescoço da pequena égua,
No peito
transfixado de Santa Rosa adormecida,
Nos telhados
do amor,
com gemidos e mão frescas,
Num jardim
onde gatos comiam rãs.
Vão onde o pó
antigo congrega estátuas e musgos,
Caixas que
guardam o silencio de caranguejos devorados
No lugar
onde o sonho
Tropeça com
a realidade.
Ali, meus
pequenos olhos.
Não me
pergunte nada. Vi que as coisas
Quando buscam
seu curso encontram seu vazio.
Há uma dor
de ocos pelo ar sem gente
E em meus
olhos criaturas vestidas
----- sem nudez!"
Tradução: Carlos
Drummond de Andrade.
Autor: Marco
Antônio E. Da Costa.
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