Via Crucis.
Conto escrito a partir de relatos
colhidos na cidade de Pedro Leopoldo-MG.
Em períodos
religiosos há frequentes e proverbiais demonstrações de fé devocional; vale
lembrar aqui os autos de Flagelação nas Filipinas e as inúmeras procissões e
representações no país-continente, Brasil.
Muita vez o
burlesco e o hilário invadem a seara do religioso, fazendo resvalar o sacro
para o profano.
La´pelos
idos dos anos 80 (Sec.XX.),em Pedro Leopoldo, cidade conhecida por festas
populares ,como :
“Aniversario
de Poste.”,” Boi da Manta”; tudo regado a Cerveja e aguardente ,e ‘claro ;em
certa semana santa sucedeu o que será narrado aqui.
Foi assim,
Chovia. A cântaros. Mas o ritual tinha de acontecer, como todo ano, como todos
esperavam, como era desejo do pároco. O desfile pretendia reproduzir, como em
tantos outros lugares, as últimas e sofridas horas de CRISTO; para tal havia:”
Veronica, Legionários Romanos, Pilatos, Barrarás, Etc. ”conforme o Novo
Testamento Bíblico. Os atores, fiéis e voluntários da paróquia, já estavam bem
molhados quando teve início a “ Via Crucis”;ou seja, a tortuosa e dolorida
jornada de JESUS arrastando a cruz na qual seria pregado e perderia a vida
,após condenação, tortura e execração pública.
O ator que
fazia o CRISTO ia com dificuldade, encharcado; cumprindo seu percurso ao
GÒLGOTA. Quando um dos Legionários teve a ideia de fazerem uma parada e tomarem
alguma coisa para aquecer, afinal, a chuva aumentara e o pessoal do cortejo
estava molhado ate ‘os ossos... A multidão acotovelada esperava paciente pelos
“desfilantes” que entraram em um boteco. Sem retirar suas fantasias,
bebericaram por uns 15 minutos “bebidas quentes ”para enfrentar o restante do
trajeto. Beberam cachaça, traçado, exceto um legionário que não satisfeito com as 5 doses de
conhaque, confiscou a garrafa para enfrentar a chuva, que continuava forte. A representação
foi retomada, para alegria dos molhados fieis, mas o legionário do conhaque não
parava de beber, no gargalo mesmo. Ele, então, começou a ter ideias: ”Que tal
dar um toque de realidade a encenação?”. O teatro público ganharia mais vida, pensou
o bêbado. Na Historia, JESUS fora açoitado pelos Romanos, no cortejo era uma
simulação. Entusiasmado, o embriagado legionário soltou o chicote no Cristo! Não
era sua função? Transmitir Realidade ?Ao que o Cristo retorquiu: “Calma rapaz, você
esta exagerando, esta doendo.!”
Contido por
outros, contrafeito ,o legionário se conteve.
Porem, pouco
depois, veio de novo, cabeça repleta de conhaque, olhar irado e chicote na mão.
“O Cristo não se conteve:” Porra, Você quer sair na porrada
?”
Confusão, Empurra-empurra,
a turma do deixa-disso...Ânimos aplacados, retomaram a labuta, quase chegando
no final o legionário bêbado lascou a borduna no Cristo novamente, que
abandonando a Cruz devolveu o golpe com um gancho de direita e o pé nos” países
baixos”... Como toda briga de rua, logo vários, senão todos estavam brigando. O Cristo enforcava o legionário
beberrão que se agarrava a barba (falsa) do Messias; em meio a pancadaria, o
padre, aflito interveio tentando apartar, ate ‘que um punho desconhecido
arrancou-lhe um molar...o espírito Cristão deu lugar a uma selvageria
Digna de atila, o huno. Depois de
muita pancada e com a persistência da chuva, os ânimos foram esfriando e o
cortejo dispersou. O legionário foi conduzido ao Hospital, bebida e fraturas...
O padre, levado ao dentista,
balbuciava algo sobre autorizar bebida em dias sacros...
O Cristo teve que enfaixar a mão, de
tanto socar o ébrio...
E cada um foi voltando para casa, ensopado, envergonhado,
machucado, mas com a estranha certeza
De que nunca acontecera uma semana
santa assim...
Autor: Marco Antônio E. Da Costa.