quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Via Crucis.

                                                                Via Crucis.

                                           Conto escrito a partir de relatos   colhidos na cidade de Pedro Leopoldo-MG.

Em períodos religiosos há frequentes e proverbiais demonstrações de fé devocional; vale lembrar aqui os autos de Flagelação nas Filipinas e as inúmeras procissões e representações no país-continente, Brasil.
Muita vez o burlesco e o hilário invadem a seara do religioso, fazendo resvalar o sacro para o profano.
La´pelos idos dos anos 80 (Sec.XX.),em Pedro Leopoldo, cidade conhecida por festas populares ,como :
“Aniversario de Poste.”,” Boi da Manta”; tudo regado a Cerveja e aguardente ,e ‘claro ;em certa semana santa sucedeu o que será narrado aqui.
Foi assim, Chovia. A cântaros. Mas o ritual tinha de acontecer, como todo ano, como todos esperavam, como era desejo do pároco. O desfile pretendia reproduzir, como em tantos outros lugares, as últimas e sofridas horas de CRISTO; para tal havia:” Veronica, Legionários Romanos, Pilatos, Barrarás, Etc. ”conforme o Novo Testamento Bíblico. Os atores, fiéis e voluntários da paróquia, já estavam bem molhados quando teve início a “ Via Crucis”;ou seja, a tortuosa e dolorida jornada de JESUS arrastando a cruz na qual seria pregado e perderia a vida ,após condenação, tortura e execração pública.
O ator que fazia o CRISTO ia com dificuldade, encharcado; cumprindo seu percurso ao GÒLGOTA. Quando um dos Legionários teve a ideia de fazerem uma parada e tomarem alguma coisa para aquecer, afinal, a chuva aumentara e o pessoal do cortejo estava molhado ate ‘os ossos... A multidão acotovelada esperava paciente pelos “desfilantes” que entraram em um boteco. Sem retirar suas fantasias, bebericaram por uns 15 minutos “bebidas quentes ”para enfrentar o restante do trajeto. Beberam cachaça, traçado, exceto um legionário  que não satisfeito com as 5 doses de conhaque, confiscou a garrafa para enfrentar a chuva, que continuava forte. A representação foi retomada, para alegria dos molhados fieis, mas o legionário do conhaque não parava de beber, no gargalo mesmo. Ele, então, começou a ter ideias: ”Que tal dar um toque de realidade a encenação?”. O teatro público ganharia mais vida, pensou o bêbado. Na Historia, JESUS fora açoitado pelos Romanos, no cortejo era uma simulação. Entusiasmado, o embriagado legionário soltou o chicote no Cristo! Não era sua função? Transmitir Realidade ?Ao que o Cristo retorquiu: “Calma rapaz, você esta exagerando, esta doendo.!”
Contido por outros, contrafeito ,o legionário se conteve.
Porem, pouco depois, veio de novo, cabeça repleta de conhaque, olhar irado e chicote na mão. “O Cristo não se conteve:” Porra, Você quer sair na porrada ?”
Confusão, Empurra-empurra, a turma do deixa-disso...Ânimos aplacados, retomaram a labuta, quase chegando no final o legionário bêbado lascou a borduna no Cristo novamente, que abandonando a Cruz devolveu o golpe com um gancho de direita e o pé nos” países baixos”... Como toda briga de rua, logo vários, senão todos estavam brigando. O Cristo enforcava o legionário beberrão que se agarrava a barba (falsa) do Messias; em meio a pancadaria, o padre, aflito interveio tentando apartar, ate ‘que um punho desconhecido arrancou-lhe um molar...o espírito Cristão deu lugar a uma selvageria
Digna de atila, o huno. Depois de muita pancada e com a persistência da chuva, os ânimos foram esfriando e o cortejo dispersou. O legionário foi conduzido ao Hospital, bebida e fraturas...
O padre, levado ao dentista, balbuciava algo sobre autorizar bebida em dias sacros...
O Cristo teve que enfaixar a mão, de tanto socar o ébrio...
E cada um  foi voltando para casa, ensopado, envergonhado, machucado, mas com a estranha certeza
De que nunca acontecera uma semana santa assim...

Autor: Marco Antônio E. Da Costa.











sábado, 17 de dezembro de 2016

FÁBULAS de ESOPO.

                                      Fábulas De ESopo.   
       
                                                       “O Medo e ‘o pai da moralidade.”
                                                         Friedrich Nietzsche, 1844-1900, Filósofo Alemão.  


FÀBULA. Do Grego, Phao ;Dizer; Via Latim, Fari; Falar Narrar ,Jogar.
Fábulas. Narrativas de caráter alegórico e moral, em geral com animais, cujo objetivo e´ensinar virtudes ás pessoas.
Esopo. Escritor Grego do Sec. VII-VI AC. (620-560 AC.).Ex escravo, e ‘atribuído a ele a criação das fábulas como gênero literário.


Algumas Fábulas:
. A Águia e a Seta.
Uma águia pousada num penhasco olhava com muita atenção para todos os lados para ver se encontrava uma presa, Um caçador, escondido em uma fenda na montanha e em busca de caça, viu a águia  la´em cima e lançou uma seta. A haste da seta penetrou no peito da águia e atravessou seu coração. Pouco antes de morrer, a águia fixou os olhos na seta.
-Sorte Ingrata! –exclamou-Morrer desse jeito...Mas o mais triste è ver que a seta que me mata tem penas de águia !
Moral: As Desgraças para as quais contribuímos, são duplamente amargas.

.” Olha O Lobo”.
Um garoto pastor que cuidava de seu rebanho perto de um povoado, gostava de se divertir de vez em quando, gritando: ‘’Olha o lobo, Socorro, Olha O lobo!” Deu certo umas três vezes. Os habitantes do povoado vinham correndo auxiliar o pastorzinho e só encontravam risadas diante de seu esforço .Um dia apareceu um lobo ,de fato .O menino gritou desesperado ,mas os vizinhos acharam que era outra brincadeira e nem ligaram .O lobo devorou todas as ovelhas.
Moral: Os Mentirosos podem falar a verdade que ninguém acredita.

.A Raposa e a Máscara.
Um dia uma Raposa entrou na casa de um ator e encontrou uma linda máscara no meio de uma pilha de objetos usados no teatro. Encostando a pata na máscara disse:
-Que belo rosto temos aqui! Pena que não tenha cérebro.
Morai: Uma bela aparência não substitui o valor do espírito.

.O Cão e sua sombra.
Um cachorro com um pedaço de carne  roubada na boca estava atravessando um rio a caminho de casa quando viu sua imagem refletida na água .Pensando que estava vendo outro cão com outro pedaço de carne, ele abocanhou o reflexo para se apropriar da outra carne, mas quando abriu a boca deixou cair no rio o pedaço que já era dele.
Moral: A cobiça não leva a nada.

.A Reunião Geral dos Ratos.
Uma vez os ratos, que viviam com medo do gato, resolveram fazer uma reunião para encontrar um meio de acabar com aquele transtorno. Planos foram discutidos e abandonados. No fim, um jovem rato sugeriu colocar uma sineta no pescoço do gato, assim, quando ele chegasse todos ouviriam e poderiam fugir. Foi aplaudido, o problema estava resolvido. Um rato velho ate ‘então calado, levantou-se e disse que o plano era inteligente e os problemas terminariam, mas, faltava uma coisa: quem iria pendurar a sineta no pescoço do gato?
Moral: Falar e ‘uma coisa, fazer e ‘outra.


Bibliografia: Fabulas de Esopo. Cia das Letras São Paulo. 1994.


Autor: Marco Antônio E. Da Costa.





domingo, 4 de dezembro de 2016

Tudo Passa.

                                                  TUDO  PASSA.

                          “Os dias passam rápido como as águas do rio ou o vento do deserto.”
                                Omar Khayyam  (1048-1131),poeta Persa.


Viver e ´uma grande arte
Ser feliz e´ um desafio

Objetivos, estratégias
Fronteiras, caminhos

Quedas, esperanças
Desilusões, lembranças

Tudo passa rápido
E a cada segundo

Lutamos por um pouco de alegria
Na tormentosa

Fugaz jornada
Chamada existência.

Autor: Marco Antônio E. Da Costa.





sábado, 12 de novembro de 2016

Teus Olhos.

                                             Teus Olhos.

                                          “Os olhos são os interpretes do coração.”
                                             Blaise Pascal Filosofo Frances, 1623-1662.


Teus olhos agitados
Como o mar
Claros e enigmáticos
Como um templo

Sol e lua
Sorriso e tormento
Dizendo tudo
Em silencio

Fotografando
O tempo
Travessia
De milênios


Teus olhos...


Autor: Marco Antônio E. Da Costa.
                                                              




sábado, 22 de outubro de 2016

Jãngal.

                    Jângal.
                                   “O homem e ‘deus ou fera”.
                                         Aristóteles, Filósofo Grego (384 ac-322 ac.).


Meu lado de fora
Meu lado de fera

Dentro de mim
Morrem muitos tigres

Os que restam,
No entanto, são livres

Notívagos, sobreviventes,
Predadores de utopias.




Autor: Marco Antônio E. Da Costa.



sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Gitanos.

                              Gitanos.

                              “Ser livre não e ´nada fazer, e ‘ser o único  àrbitro         daquilo que se faz ou não se faz.”

Jean De La Bruyère, escritor Frances, 1645-1696.


Quem pode prender o vento
Ou o espírito Cigano?

Olhos ardentes
Trajeto leviano
Rotas incertas
Coração Gitano.

Não pertence
 a ninguém
senão
ao próprio destino.

Por Amor, morre e vive,
Alegre, triste
Solitário, gregário
Nômade, sociável.

Pelas estradas,
Rios e amores percorridos
O passado, mero fado
O futuro, eterna busca.

Gitanos, sua religião e ‘a Liberdade!


Autor: Marco Antônio E. Da Costa.






domingo, 2 de outubro de 2016

O Mundo e´um moinho-Cartola.

O mundo E ‘um Moinho-Cartola.

“Ainda E ‘cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem  saber mesmo o rumo que iras tomar
Preste atenção, querida.
Embora eu saiba que estas resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que es
Ouça-me bem, amor.
Preste atenção o mundo e ‘um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a po´
Preste atenção ,querida
De cada amor tu herdaras só o  cinismo
Quando notares estas a beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés."








Comentário: O Poema, tornado canção, reflete as preocupações de Cartola com sua enteada, filha de uma ligação anterior e criada por ele. Apesar dos esforços do padrasto, a moça seguiu vida amorosa irregular, transitando entre a promiscuidade e a prostituição.

Autor :Marco Antônio E, Da Costa.


o mundo e´um moinho.

O Mundo E´Um Moinho.
                                   “ A Poesia e´o mistério de todas     
                                      As coisas.” Garcia Lorca.Poeta
                                      Espanhol(1898-1936)

Agenor de Oliveira. (11\10\1908-30\11\1980, Rio);vulgo, Cartola. Considerado por muitos, como o maior sambista Brasileiro, passou a infância nas Laranjeiras. Poeta, boêmio, compositor ,cantor e violonista foi contemporâneo e amigo de Noel Rosa O Mundo E ‘Um Moinho.

E Carlos Cachaça, entre outros. Teve muitos de seus sambas gravados na década de 1930; por: Araci de Almeida, Carmen Miranda, Silvio caldas, Mario Reis e Chico Alves. Chegou a vender algumas de suas composições, assim como Noel fizera, para cantores “mais famosos”. Em 1928, Foi um dos fundadores Da escola de estação Primeira De Mangueira; que leva as cores verdes e rosa, por causa da bandeira do Fluminense, de quem Cartola era devotado torcedor. O Primeiro disco só foi gravado com mais de 60 anos de idade. Alguns de seus grandes sucessos: “ As Rosas não falam”,” O mundo e ‘um moinho”, ”Acontece”, ”O sol nascera”,” Cordas de Aço”,” Alvorada”,” Alegria”, ”Ensaboa”, Verde que te quero Rosa”, Etc.
Após anos de esquecimento, foi redescoberto pelo cronista “Stanislaw ponte preta ``e retomou a adormecida carreira. Influenciou ,entre outros, Paulinho da Viola. Na década de 60,criou o ZICARTOLA (Dona ZICA E CARTOLA),point de artistas e intelectuais no Rio. Já idoso, conheceu fama e um pouco de tranquilidade ,o que no passado não ocorrera. Era leitor de Guerra Junqueiro, Camões e Garcia Lorca ,entre outros.O Poema que escolhemos aqui e´: “ O Mundo e´um moinho.”


Autor: Marco Antonio E. Da Costa.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

                         INTERIOR.

                                        “Minas São Muitas.”
                                         Guimarães Rosa. Escritor Brasileiro. (1908-1967).


A Prosa corre solta
Cheiro forte de Café´
Lenha crepitando no fogo
Barulho,
Cachaça no coité.

Piso de terra batida
Broa e torresmos fritando
E o luar que, em silencio
Vem ameno,
Só chegando.

Minas e seus ais
Atávica,
Minas em mim
Em tantos,
Gerais.


Autor: Marco Antônio E. Da Costa.




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

                                                MANHÂ.
                                                    “Acredita sempre que cada dia que amanhece  e ‘teu ultimo.`´
                                                            Quintus Horatius Flaccus, poeta Romano. (65 AC-8 AC).



A alvorada me sacode o sono
Ventos e nuvens entristecem a manhã,
Janela aberta pede sol
Que, preguiçoso, não vem,

Vem o tédio
Dor que emana do céu,
Patético, poético
Traz chagas profundas
Austero, por solidão;

Manhã tão efêmera
Dia envolto de cismas
Cismas que me contem.
Já que a manhã me sacode o sono
Por que não me sacode a vida também?






Autor: Marco Antônio E. da Costa.






terça-feira, 9 de agosto de 2016

ENTARDECER.

 “E o sino chora  em lúgubres responsos :
    Pobre Alphonsus, pobre Alphonsus! “
Alphonsus de Guimaraens (1810-1921). Poeta Simbolista e Neo–Romântico Mineiro.

O sol que arde
No fim da tarde
E ‘doce,
Como se mel fosse

O fim do dia,
Melancolia,
Céu de papel,
Negro dossel,

Os sinos tangem
Salmos Que plangem
Dor secular,
Fendas antigas
Rendas tecidas
De manso
E remanso luar

Círio de culto
Projeta um vulto
No oculto altar,
Lírios esconsos
Lúgubres responsos
Do nobre Alphonsus
A soluçar!

Autor: Marco Antônio E. Da Costa.




sábado, 23 de julho de 2016

O CORVO.

                             .  O CORVO. De Edgar Allan Poe.
                               Tradução de Fernando Pessoa.

                       “O Rouxinol esta calado, ouço só o som dos corvos”.     
                                  Proverbio Chinês.   
                                                                  

Numa meia noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais,
“Uma visita”, eu me disse “esta batendo a meus umbrais”. ’’
“E ‘só isto, e nada mais.”

Ah! Que bem disso me lembro! Era no frio Dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu queria a madrugada, toda noite aos livros dada
Para esquecer ( em vão!) a amada, hoje dentro das hostes celestiais-
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Incutia-me, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força ,eu ia repetindo,
“E´uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
E ‘só isto, e nada mais !

E ,mais forte num instante, já´ nem tardo ou hesitante,
“ Senhor” eu disse,” ou Senhora ,decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo ,quando viestes batendo,
Tão  levemente batendo, batendo por meus umbrais,
“Que mal ouvi...” E abri largos, franqueando-os meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os  ninguém sonhou iguais
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais-
Eu o disse, o nome DELA, e o eco disseram nos meus ais,
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
““Por certo”, disse eu,” aquela bulha e ‘na minha janela.
Vamos  ver o que esta nela ,e o que são estes sinais.”
“ E ‘o vento ,e nada mais.”.

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
“Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “Mas de nobre e ousado,
Ò velho corvo emigrado das trevas  infernais!
Diz-me qual o teu nome lá nas trevas infernais!”
Disse o Corvo: “ Nunca Mais.”

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada em seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há ‘por seus umbrais,
Com o nome “Nunca Mais”

Mas o Corvo, sobre o busto, nada me dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz, nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei, lento, ”Amigo, sonhos-mortais todos-
Todos já se foram. Amanhã também te vais.”
Disse o Corvo: ”Nunca mais.”

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
“Por certo” ,disse eu,” são essas vozes usuais ,
Aprendeu-as de algum dono ,que a desgraça e o abandono
Seguiram ate ‘que o entono da alma se quebrou em ais,
“E o bordão de desesperança de seu canto cheio de ais.”
 “Era esse:”  Nunca Mais”.

Mas fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira,  pensei de muita maneira
Que queria essa ave agoureia  dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele: “ Nunca mais.”

Comigo isso discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ELA ,entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á  nunca Mais !

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem cujos leves passos soam musicais.
“ Maldito !”, a mim disse,” deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces,  e que faz esses teus ais.”
Disse o Corvo: “ Nunca Mais !.”

“Profeta”!”, disse eu,” profeta ou demônio ou ave preta
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há ‘um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais ¹
Disse o Corvo: ”Nunca Mais.”.



“Profeta!, disse eu,” profeta-ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Vera ‘essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabe as hostes celestiais.”
Disse o Corvo:” Nunca mais !”

“ Que esse grito nos aparte ,ave ou diabo!”,eu disse.” Parte!
Torna a ‘noite e a ‘tempestade! Torna ás trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te dos meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!
Disse o Corvo: “ Nunca Mais!”

E o Corvo, na noite infinda, esta ainda, esta ainda,
No alvo busto de Atena que há ‘por sobre meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança lhe a tristonha sombra no chão ha ‘mais e mais,
Libertar-se-á... Nunca Mais!


         
Comentário. POE tece um poema Dark, mórbido e gótico*.Em um fria noite de dezembro, enquanto lia textos ocultistas, quase dormindo, ele ouve um ruído ,uma leve batida em sua porta. Mas, não era ninguém... As leituras eram um bálsamo para cicatrizar a perda da amada, falecida recentemente; LENORA. Mesmo tomado pelo medo, vai ate a porta e depara-se com a escuridão da noite.
Nova batida ate que ao abrir a janela; um corvo*passa pela porta e pousa sobre o busto de Atena\Minerva*. Ao longo do poema, o animal agourento parece dizer: ”Nunca Mais”; como que a lembrar ao poeta a inevitabilidade histórica da morte. O conflito interno do poeta e ‘refletido na figura macabra do corvo. Ao passo que o animal lembra o tempo todo, a tristeza e a saudade de alguém que não se terá mais. “O som repetido pelo corvo- em Inglês:” Never More “- angustia o já atormentado homem; lembrando, simbolicamente, os sinos das igrejas que dobravam por finados, conforme costume vindo da Europa Medieval Cristã”. E ainda vigente em muitas cidades do interior das Gerais. O homem aterrorizado, o corvo humanizado, o amor perdido, a presença da morte-tema caro aos Românticos-, a angustia; enfim, uma cena ao sabor do período; amor e morte, andando próximas.

Obs. Gótico. A literatura Gótica tem seu inicio com Walpole, sec.XVIII, e tem como características:
Cenários Medievais: Castelos, Ruinas, Florestas;
Personagens Melodramáticos:
Donzelas, vilões, cavaleiros;
Temas\símbolos recorrentes: Profecia e maldiçoes, segredos, manuscritos.
.Corvo. Corvus Corax. Na mitologia, são vistos como portadores de maus presságios e hábitos necrófagos.
.Atena\Minerva. Deusa Greco-romana da sabedoria.

Referencia:
Autor : Marco Antônio E. Da Costa.
































domingo, 3 de julho de 2016

MARCIAL.

                                                  MARCIAL.

                                                         “Panem ET Circenses.”
                                                         Decimus Iunius Juvenalis, poeta Romano. (55-127 AD.).


.De Spetaculis XXIX. Marcial.

Enquanto Prisco e Vero alongavam o confronto
E por longo tempo a luta foi igual de ambos os lados
Altos e repetidos gritos reclamavam a liberdade para os homens,
Mas Cesar seguiu sua própria lei,
Era a lei de lutar com o escudo ate que um dedo se levantasse;
Fez o que lhe era permitido, muitas vezes deu comida e presentes
Mas chegou-se  ao final com a mesma igualdade:
Iguais a lutar, iguais a ceder.
Cesar enviou espadas de madeira e palmas a ambos
Portanto, a coragem e o talento receberam o seu premio.
Isto não aconteceu perante nenhum Príncipe, salvo tu, Cesar
Quando dois lutaram, ambos saíram vitoriosos.

Comentário. O poeta se refere aqui a um combate singular entre 2 gladiadores, na inauguração do Anfiteatro Flaviano (Coliseu),em 80 AD, sob Vespasianus. Dado o equilíbrio entre os contendores, e a satisfação do publico com o embate, o imperador, resolveu libertar a ambos .Oferecendo-lhes  uma espada de madeira-Rudius-símbolo de alforria. E´o único registro de um empate nos relatos travados nas arenas.A coragem e a bravura eram qualidades apreciadas pelos Romanos. Marcial lá estava e legou-nos o fato.

Marcus Valerius Martialis.(38-102 AD).
Nascido na Espanha, foi jovem para ROMA, frequentou o circulo de Juvenal, Plinio e Quintiliano .Ao que tudo indica teve Sêneca como mentor. Recebeu influencias de Catulo e Juvenal. Criou Poesias satíricas e obscenas, sendo chamado “boca de Roma”, por ser ferino. Influenciou: Wilde, Blake, Quevedo, Bocage e Gregório  de Mattos.



Autor :Marco Antônio E. Da Costa.












quarta-feira, 22 de junho de 2016

CRONOS.

                                   CRONOS.

                                                 “Matamos o tempo, o tempo nos enterra.”
                                                      Machado De Assis, (1839-1908), Maior escritor Brasileiro.



Coleciono fatos mortos
Grito pedras
Mas o vento e ‘surdo

Vai, esvai
Silente como serpente
Mudo como relógio digital

Hediondo,
Volátil
Vai-se

Implacável,
A tudo e a todos devora
Bebe o sangue vital

Em meio ao po´
Restam cinzas, ossos.
E memórias.


Autor: Marco Antônio E. Da Costa.














sexta-feira, 10 de junho de 2016

ESCRITURA.

                                   ESCRITURA.

                                                           “Escrever e ‘gritar sem ruído.”
                                                             Marguerite Duras. Escritora Francesa. (1914-1996).


Eu escrevo como
Quem busca a esperança,
Que alimenta a alma
E sustenta o corpo.

Eu escrevo como
Quem foge da dor,
Atravessa o dia
E acalanta a noite

Alegrias,
Tristezas,
Sentimentos,
Excitação

Melancolia,
Sonhos,
Saudade,
Paixão

Tudo isso e ‘busca
Tudo isso e ‘fuga,
Que eu torno poesias
No meu coração.



Autor :Marco Antônio E. Da Costa.





segunda-feira, 23 de maio de 2016

VILA RICA.

                                                  VILA   RICA.

                                                            “   Toda vez que um justo grita,
                                                                 Um carrasco vem calar
                                                                  Quem não presta fica vivo,
                                                                  Quem e ´bom, mandam matar ! “

                                                 Cecília Meireles, Poetisa Carioca. (1901-1964).
                                                         “ Romanceiro da Inconfidência.”


Casa dos Contos, igreja do Carmo
Ruas tortas, pé-de-moleque
Do tempo de El –Rei ; Cecília aqui viste
Romanceiro tão nobre e solerte.

Acrópole, de antes das dores
Índios, negros e colonizadores
Itacolomy, testemunha silenciosa

Que medo Barroco ainda resta aqui?
Que fantasma esquecido
Espreita, a ‘noite, o “bairro das cabeças”?

Pedra, jazidas latentes, bebeu sangue
Perdão  MINAS, foste violada,
Pedra esquece e da ‘como sempre, flores.







Autor: Marco Antônio E. Da Costa.









segunda-feira, 16 de maio de 2016

CARPE DIEM.

                                                        CARPE  DIEM.*
                  “Aproveite o dia, Aprecie o momento presente.”
                                                  Horácio. (65 AC-8 AC), Poeta Romano.


A vida e´ uma peça de teatro
Que não permite ensaios...
Viva intensamente,
Antes que a cortina se feche
E o espetáculo  termine sem aplausos.

Trabalhe, como se não existisse dinheiro
Ame, como se não houvesse mágoa
Dance como um grego em dia de festa
Porque, talvez
Anúbis já espere por você !







Autor: Marco Antônio E. Da Costa.





sábado, 23 de abril de 2016

Dança do Ventre.

                              Dança do ventre.
                   (Raqs Al-Baladi= Dança do povo.)




Sensualidade
Carne tremula
Suor  envolvente

Olhar cristalizado
Boca seca
Fascínio presente

Sinuosa como serpentes
Sedutora  como um oásis
Fatal  como o deserto

Desfila a dançarina
Gotas de desejo
Sonhos de amor desperto

Abranda o coração dos fortes
Amacia o cotidiano dos humildes
Faz a vida bela, um idílio.


Com aroma de lótus
Gosto de vinho,
A herança egípcia


Remete
As virgens de Allah
 no paraíso,
Yalla.


Autor: Marco Antônio Eustáquio da Costa.








terça-feira, 12 de abril de 2016

OMAR KHAYYAM.

                            .OMAR   KHAYAMM.
                                                             “Se em teu coração
                                                               Enxertaste a rosa
                                                               do amor,tua vida
                                                              Não passou inútil.”

                                                         .  Omar Khayamm (1050-1123).Poeta Persa.





.Sobre o poeta:
Omar Khayamm ,cujo nome completo era Ghiatud-din Abdulfath omar bin Ibrahim Al-Khayyami.  Al-Khayyami = o fabricante de tendas. Foi poeta, matemático e astrônomo.
Sua obra principal e´o Rubayat, quartetos ou quadras, livro  de poesias, no qual ele canta a brevidade da vida, a existência e transcendência humanas, O êxtase do amor e do vinho .Privilegia o momento presente, porque o passado e´um cadáver e o futuro indevassável. Apesar de seu hedonismo, imediatista; não contrariava o Alcorão. Há,inclusive,quem leia em seus poemas uma mensagem SUFI ,simbólica,onde; por exemplo,a taberna seria o templo; a divindade seria o vinho; a embriaguez  seria o êxtase místico.Foi admirado por poetas como Calderón de la Barca e Fernando Pessoa.

.Alguns trechos do Rubayat:

.Uma vez que ignora o que e´que nos reserva
O dia de amanhã, busca ser feliz hoje.
Vai sentar-te ao luar e bebe. Pois talvez
Não vivas mais amanhã quando voltar a lua.

.Nosso tesouro? O vinho,
O palácio? A taverna,
Os fieis companheiros?
O vinho e a embriaguez.

.Antes de apertares  na tua
A mão que te estendem, pergunta
A ti mesmo  se ela algum dia
Não se erguera para ferir-te.

.Vil coração, que amar não sabe,
De amor não pode se embriagar
Se não ama, como apreciar?
O fulvo sol, o doce luar.

.Ontem devias ser recompensado e não o foste;
Mas, não deplores nada, nem esperes coisa alguma.
O que te deve acontecer esta escrito no Livro
Que ao acaso vai folheando a Eternidade.

.Sabes que teu olhar
Tornou o rei babilônico
Um bispo de xadrez
Que foge da rainha?

.Por isso ouve esse meu conselho :
Bebe vinho e contempla a lua
Lembrando as civilizações
Que ela viu desaparecer.

.Seja igual teu amor
Ao da urna pela taça
Vê... Lábio contra lábio
A urna dá-lhe seu sangue.

.Um rouxinol cantou:
“Um dia de alegria
Pode ser que prepare
“Todo um ano de lágrimas.”

.Pois os mortos não têm
 Memória, e eu quero sempre,
Quero sempre rever
A minha bem-amada !

.Um pouco mais de vinho, bem-amada!
Tua face ainda não tem a cor das rosas
Um pouco mais de tristeza, Khayamm!
A tua bem-amada vai sorrir-te.

.Fui inclinar-me sobre todos
Os segredos do universo...
Voltei a casa invejando
Os cegos que eu encontrava.

.Toda manhã o orvalho pesa sobre as rosas,
Jasmins,tulipas,mas o sol livra-os do fardo.
Toda manhã meu coração pesa em meu peito;
Mas teu olhar logo o liberta da tristeza.

Bibliografia:
.O Rubaiyat de Omar Khayyam .Trad. Manuel Bandeira.Tecnoprint,Rio,1970.
Autor: Marco Antonio E. Da Costa.