quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Via Crucis.

                                                                Via Crucis.

                                           Conto escrito a partir de relatos   colhidos na cidade de Pedro Leopoldo-MG.

Em períodos religiosos há frequentes e proverbiais demonstrações de fé devocional; vale lembrar aqui os autos de Flagelação nas Filipinas e as inúmeras procissões e representações no país-continente, Brasil.
Muita vez o burlesco e o hilário invadem a seara do religioso, fazendo resvalar o sacro para o profano.
La´pelos idos dos anos 80 (Sec.XX.),em Pedro Leopoldo, cidade conhecida por festas populares ,como :
“Aniversario de Poste.”,” Boi da Manta”; tudo regado a Cerveja e aguardente ,e ‘claro ;em certa semana santa sucedeu o que será narrado aqui.
Foi assim, Chovia. A cântaros. Mas o ritual tinha de acontecer, como todo ano, como todos esperavam, como era desejo do pároco. O desfile pretendia reproduzir, como em tantos outros lugares, as últimas e sofridas horas de CRISTO; para tal havia:” Veronica, Legionários Romanos, Pilatos, Barrarás, Etc. ”conforme o Novo Testamento Bíblico. Os atores, fiéis e voluntários da paróquia, já estavam bem molhados quando teve início a “ Via Crucis”;ou seja, a tortuosa e dolorida jornada de JESUS arrastando a cruz na qual seria pregado e perderia a vida ,após condenação, tortura e execração pública.
O ator que fazia o CRISTO ia com dificuldade, encharcado; cumprindo seu percurso ao GÒLGOTA. Quando um dos Legionários teve a ideia de fazerem uma parada e tomarem alguma coisa para aquecer, afinal, a chuva aumentara e o pessoal do cortejo estava molhado ate ‘os ossos... A multidão acotovelada esperava paciente pelos “desfilantes” que entraram em um boteco. Sem retirar suas fantasias, bebericaram por uns 15 minutos “bebidas quentes ”para enfrentar o restante do trajeto. Beberam cachaça, traçado, exceto um legionário  que não satisfeito com as 5 doses de conhaque, confiscou a garrafa para enfrentar a chuva, que continuava forte. A representação foi retomada, para alegria dos molhados fieis, mas o legionário do conhaque não parava de beber, no gargalo mesmo. Ele, então, começou a ter ideias: ”Que tal dar um toque de realidade a encenação?”. O teatro público ganharia mais vida, pensou o bêbado. Na Historia, JESUS fora açoitado pelos Romanos, no cortejo era uma simulação. Entusiasmado, o embriagado legionário soltou o chicote no Cristo! Não era sua função? Transmitir Realidade ?Ao que o Cristo retorquiu: “Calma rapaz, você esta exagerando, esta doendo.!”
Contido por outros, contrafeito ,o legionário se conteve.
Porem, pouco depois, veio de novo, cabeça repleta de conhaque, olhar irado e chicote na mão. “O Cristo não se conteve:” Porra, Você quer sair na porrada ?”
Confusão, Empurra-empurra, a turma do deixa-disso...Ânimos aplacados, retomaram a labuta, quase chegando no final o legionário bêbado lascou a borduna no Cristo novamente, que abandonando a Cruz devolveu o golpe com um gancho de direita e o pé nos” países baixos”... Como toda briga de rua, logo vários, senão todos estavam brigando. O Cristo enforcava o legionário beberrão que se agarrava a barba (falsa) do Messias; em meio a pancadaria, o padre, aflito interveio tentando apartar, ate ‘que um punho desconhecido arrancou-lhe um molar...o espírito Cristão deu lugar a uma selvageria
Digna de atila, o huno. Depois de muita pancada e com a persistência da chuva, os ânimos foram esfriando e o cortejo dispersou. O legionário foi conduzido ao Hospital, bebida e fraturas...
O padre, levado ao dentista, balbuciava algo sobre autorizar bebida em dias sacros...
O Cristo teve que enfaixar a mão, de tanto socar o ébrio...
E cada um  foi voltando para casa, ensopado, envergonhado, machucado, mas com a estranha certeza
De que nunca acontecera uma semana santa assim...

Autor: Marco Antônio E. Da Costa.











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