.Via-Láctea. XIII.
"Ora (direis) ouvir estrelas!Certo
perdeste o senso."E ,eu vos direi,no entanto,
Que para ouvi-las,muita vez desperto
E abro as janelas ,pálido de espanto.
E conversamos toda a noite,enquanto
A via Láctea,como um palio aberto,
Cintila.E,ao vir do sol,saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora:"tresloucado amigo!
Que conversas com elas ?Que sentido
Tem o que dizem ,quando estão contigo ?"
E eu vos direi:"Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
.A Mocidade.
A mocidade e´a Primavera!
A alma cheia de flores,resplandece
Crê no bem,ama a vida ,sonha e espera,
E a desventura facilmente esquece.
E´a idade da força e da beleza:
Olha o futuro e inda não tem passado;
E,encarando de frente a Natureza,
Não tem receio do trabalho ousado.
Ama a vigília,aborrecendo o sono,
Tem projetos de gloria,ama a Quimera;
E ainda não da frutos como o outono,
Pois só da flores como a Primavera!.
.Língua Portuguesa.
Ultima flor do lácio,inculta e bela,
Es a um tempo,esplendor e sepultura,
Ouro nativo,que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo´te assim,desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor,lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te,o rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi:"Meu filho!"
E em que Camões chorou ,no exílio amargo
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
M.
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