terça-feira, 22 de setembro de 2020

Olavo Bilac.

 .Via-Láctea. XIII.

"Ora (direis) ouvir estrelas!Certo

perdeste o senso."E ,eu vos direi,no entanto, 

Que para ouvi-las,muita vez desperto 

E abro as janelas ,pálido de espanto.


E conversamos toda a noite,enquanto

A via Láctea,como um palio aberto,

Cintila.E,ao vir do sol,saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora:"tresloucado amigo!

Que conversas com elas ?Que sentido 

Tem o que dizem ,quando estão contigo ?"


E eu vos direi:"Amai para entende-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."


.A Mocidade.

A mocidade e´a Primavera!

A alma cheia de flores,resplandece

Crê no bem,ama a vida ,sonha e espera,

E a desventura facilmente esquece.


E´a idade da força e da beleza:

Olha o futuro e inda não tem passado;

E,encarando de frente a Natureza,

Não tem receio do trabalho ousado.


Ama a vigília,aborrecendo o sono,

Tem projetos de gloria,ama a Quimera;

E ainda não da frutos como o outono,

Pois só da flores como a Primavera!.


.Língua Portuguesa.

Ultima flor do lácio,inculta e bela,

Es a um tempo,esplendor e sepultura,

Ouro nativo,que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo´te assim,desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor,lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te,o rude e doloroso idioma,


Em que da voz materna ouvi:"Meu filho!"

E em que Camões chorou ,no exílio amargo

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


M.







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