Kafka e o teatro do Absurdo.

 .Franz Kafka.3\7\1885.Praga-3\6\1924.Praga.Sobre "O processo"-diz Sabato Magaldi: "Um processo conduzindo a um julgamento trás em si muito de teatral,existe um núcleo dramático espontâneo. Escolhido por um poder invisível e impiedoso,Joseph mostra,desde o inicio,fatalizado,e o leitor não duvida que ele sucumbira´,vitima do sobrenatural.Modelo das mais antigas Tragedias Gregas."

Carrouges,refere-se a múltipla visão de Kafka;ou seja,Através de uma unica visão evoca tudo o que se passa em diversos setores da totalidade.Esta múltipla visão,o orgânico simultâneo convergente põe em relevo a "estrutura teatral "na obra Kafkaniana. Teatral,entendida aqui como utilização notável das técnicas de cena.Exemplo: Schmar,assassino,espreita sua vitima Wese,em uma esquina. Pallas,senhorio ,placido em sua janela.M. de Wese,inquieta.A sineta do escritório toca e Wese sai.Não o veem,mas as pedras da calçada contam-lhe os passos. Schmar se atira sobre ele e lhe planta o punhal no ventre. Pallas, a viúva e uma multidão acorrem ao local.A narração e´construída como drama clássico ,com 3 atores centrais e comparsas que robustecem a ação.Papeis nítidos e fulminantes,tudo regulado por coreografia limpa.Outro aspecto importante:a quase ausência do "narrador";tudo reduzido ao horizonte existencial do personagem,semelhante ao nosso horizonte unidimensional da realidade,o leitor vive nele ,personagem,sua angustia,frustração,aqui -agora,sem retorno ao passado ou ida ao futuro.Tal atualidade e´a do Teatro.Kafka transmita direto ao personagem a responsabilidade ontológica,como no teatro,onde o personagem e´posto a viver seu próprio destino.Quanto a linguagem,Flaubert era um dos autores favoritos de Kafka e que sua arte recorre a processos realistas.Dai,a minucia exaustiva,intensidade na descrição de ambientes,seres e objetos-que nos escapam-a dimensão fantástica de um mundo em que as coisas e os outros ,parecem a nosso alcance;mas situam-se num plano de efervescência atordoante.A linguagem realista de Kafka e´,em ultima analise,um despiste.Os objetos representam em sua existência injustificada obstáculos a existência humana ,tão confinantes na ótica Kafkaniana. Os seres humanos quase se "Coisificam",impenetráveis na sua aparente transparência.Absurdos de primeiro grau que se articulam com o grande Absurdo:O Absoluto Inacessível .Com límpida linguagem realista ,Kafka torna-a inócua,incapaz de comunicação vital entre os seres e o homem e o mundo.

De outra forma,o Teatro do Absurdo denuncia também essa desvalorização da linguagem,esvaziada de sentido,corroída pela mentira sistemática,difundida nos clichés e slogans,obviamente desmentidos a cada passo.O teatro de Vanguarda-moldura que engloba o Teatro do Absurdo-utiliza a linguagem como objeto\Vaunnier;capaz de esgotar em si toda a substancia do Teatro.A originalidade esta em uma dramaturgia das relações humanas ao nível da linguagem.Quando a linguagem se torna um objeto,surge uma critica de valores.O drama da palavra e´o drama do Absurdo,o teatro da linguagem-antiteatro-dialética,onde se observam todas as consequências na obra de Ionesco,obcecado pelo lugar comum.

Esse lugar comum,poético;equipara-se a linguagem linear ,Realista de Kafka,os mesmos efeitos:Sentimento de Absurdo perante ordenação,racionalização,comunicação,desarmonia interior,Nonsense absoluto no centro da vida.O teatro do Absurdo oferece uma cosmovisão,uma visão trágica e irracional do mundo.Irrupção do irracional em nossa era.Se e´verdade que fora do mundo Teocêntrico ha lugar para o trágico,nenhum teatro seria mais trágico que o do Absurdo,apesar do cômico e grotesco que o atravessam.Reflete uma visão do mundo não Antropocêntrica,pois,o centro perdeu-se.Se não esta nos deuses,muito menos no homem.Tanto no teatro do Absurdo,como em Kafka,isto confere um sentido angustiante,"Sui Generis".Um trágico que reside na redução do ser,na ausência de força vital,na desumanização humana.

M.