domingo, 3 de março de 2019

Baudelaire.

.Gato.

Vem cá ,meu gato,aqui no meu regaço;
Guarda essas garras devagar,
E nos teus olhos de ágata e aço
Deixa-me aos poucos mergulhar.
Quando meus dedos cobrem de carícias
Tua cabeça e o dócil torso,
E minha mão se embriaga nas delicias
De afagar-te o elétrico dorso,
Em sonho eu vejo.Seu olhar,profundo
Como o teu,amável felino,
Qual dardo dilacera e fere fundo,
E,dos pés á cabeça ,um fino
Ar sutil,um perfume que envenena
Envolvem-lhe a carne morena.

.A Beleza.

De um sonho escultural tenho a
beleza rara,
E o meu seio,jardim onde
cultivo a dor,
Faz despertar no poeta um
vivo e intenso amor,
Com a eterna mudez
do mármore de Carrara.

Sou esfinge sutil no Azul a dominar,
Da brancura do cisne e com
a neve fria;
Detesto o movimento,e estremeço
a harmonia,
Nunca soube o que e´rir,
nem sei o que e´chorar.

O Poeta,se me vê nas atitudes fátuas
Que pareço copiar das mais
nobres estatuas,
Consome em noite e dia em estudos ingentes...

Tenho,para fascinar o meu
dócil amante,
Espelhos de cristal,que tornaram
deslumbrante
A própria imperfeição ;
os meus olhos ardentes!

Charles Baudelaire.Poeta Simbolista.XIX.


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