quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Macbeth

Autor: Flávio carvalho
Macbeth é uma tragédia do dramaturgo inglês William Shakespeare, sobre um regicídio e suas consequências. É a tragédia shakespeariana mais curta, e acredita-se que tenha sido escrita entre 1603 e 1606, com 1607 como a última data possível.



Sobre a peça:
Shakespeare pegou a história emprestada de diversos relatos existentes nas Crônicas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, uma história das ilhas Britânicas compilada inicialmente por Raphael Holinshed e muito conhecida na época. Nas Crônicas um homem chamado Donwald encontra diversos membros de sua família assassinados pelo seu rei, o rei Duff, por terem se envolvido com bruxas. Após ser pressionado por sua esposa, ele e quatro de seus criados matam o rei em sua própria casa. Quanto ao próprio Macbeth, as Crônicas o retratam como um personagem esforçado em manter o reino diante da incapacidade do rei Duncan. Ele e Banquo encontram-se com três bruxas, que fazem exatamente as mesmas previsões da versão de Shakespeare; os dois tramam então a morte de Duncan, a pedido de Lady Macbeth. Macbeth reina então por dez anos antes de eventualmente ser deposto por Macduff e Malcolm. Os paralelos entre as duas versões são claros; alguns estudiosos, no entanto, acreditam que a obra Rerum Scoticarum Historia, de George Buchanan, seja ainda mais similar à versão de Shakespeare. A obra estava disponível, em latim, na Inglaterra da época de Shakespeare.

Macbeth foi adaptado diversas vezes para o cinema, destacando-se a versão de 1948 com  Orson Welles dirigindo e interpretando o personagem título, e a versão de 1971 dirigida por Roman Polanski, com Jon Finch  como Macbeth.





Sinopse:
Macbeth e seu amigo Banquo eram generais do exército da Escócia. Enquanto cavalgavam, ouviram vozes. Tratava-se de três bruxas que preveram que Macbeth se tornaria Lord de Cowdor – o de mais alta confiança do Rei, e posteriormente, seria coroado Rei da Escócia.
Somente poderia tornar-se rei os filhos ou, na ausência destes, o general de Cowdor. Tendo isso em vista, Macbeth sabia que para essa profecia tornar-se realidade, seria necessário atravessar a hierarquia de algumas pessoas, mas principalmente do filho do Rei, o jovem Malcom. Além disso, seu amigo Banquo, que já o avisara que essa ambição traria a ele muitas consequências, era a principal testemunha da previsão das bruxas e desconfiaria de qualquer atitude de Macbeth.
Após vencerem uma batalha contra a Noruega, os generais foram procurados por mensageiros de Duncan, naquele momento, Rei da Escócia, que informam a eles que o Rei quer parabenizar Macbeth pela vitória contra a Noruega e que irá torná-lo Lord de Cowdor.
Com a primeira parte da profecia já realizada, Macbeth acredita mais ainda nas bruxas de que logo seria coroado Rei. Resolve então contar os ocorridos para sua esposa, que exercia forte influência sobre ele e decidem cometer uma série de assassinatos, começando pelo amigo Banquo.
A sua esposa então, começa a tramar a morte do Rei Duncan para logo tornar-se rainha. Organiza uma festa em sua casa com o pretexto de que todos assistissem à morte de um traidor do Rei. A festa acontece e o homem é enforcado. Quando todos os hóspedes vão dormir, a esposa de Macbeth dá orientações a seu esposo de como tudo deveria ser feito. Começa então servindo vinho aos camareiros que fazem a guarda do Rei, e isso os faz dormir mais profundamente. A caminho do quarto onde o Rei dormia, Macbeth começa a ter visões de um punhal, o que estranha. Ele então entra no quarto e mata o Rei com o punhal. Logo em seguida, Macbeth começa a ter outras visões, a ouvir vozes, mas logo acha que tudo aquilo era só imaginação. Sua esposa coloca o punhal usado nas mãos de um dos camareiros com o objetivo de incriminá-los. Ao amanhecer, os mensageiros do Rei chegam para acordá-lo e deparam-se com o Rei morto. Aos gritos, todos acordam e Macbeth, encenando desespero, mata os camareiros do Rei na frente de todos, dizendo que aqueles eram os perigosos assassinos.
O filho do Rei, Malcom e seu companheiro, o nobre Macduff, fogem para a Inglaterra, com medo de serem incriminados pelo assassinato.
Macbeth que já era Lord de Cowdor, e na ausência de filhos do Rei, é então coroado Rei da Escócia. Porém, já na festa de seu reinado, o fantasma do Rei Duncan e de Banquo aparecem para ele. Sua esposa, agora chamada de Lady Macbeth, que antes poderia ser condiderada uma mulher tímida, recatada e de bem, após revelar sua ganância, egoísmo e poder de persuadir o esposo, também passa a ter delírios e crises de sonambulismo.  Em uma dessas crises, Lady Macbeth, inconscientemente revela ao médico e à sua camareira que a observavam, que tem culpa nos assassinatos. Faz repetidamente o gesto de lavar as imaginárias manchas de sangue das mãos e isso também a denuncia. Posteriormente, Lady Macbeth comete suicídio.
Macbeth, ignora a morte da esposa, argumentando que ela teria que morrer "em uma melhor hora." Cansado de ter visões, Macbeth vai consultar novamente as bruxas. Numa segunda previsão, as bruxas dizem que ele só seria derrotado se um “bosque chegasse ao castelo”, e que ele não precisaria preocupar-se, pois “nenhum homem nascido de mulher” poderia matá-lo, porém avisa-o para tomar cuidado com Macduff, o nobre que fugiu com Malcom, filho do Rei.
Ambas as previsões pareciam impossíveis: que um bosque chegasse ao castelo e que existisse de um homem que não houvesse nascido de mulher, assim, Macbeth sentia-se seguro mas, por precaução , manda matar a esposa e todos os filhos de Macduff.
 Mensageiros procuram Macduff na Inglaterra, e quando contam a ele a tragédia com sua família, Macduff decide voltar para a Escócia, mas para guerrear contra Macbeth.
 Com a ajuda de 10.000 homens do exército inglês, aproximam-se então do castelo. Os soldados ingleses, para se camuflarem, seguravam troncos e ramos de árvores e isso, sendo visto de longe, parecia um bosque ou uma montanha em movimento, cumprindo-se então a primeira parte da segunda profecia das bruxas.
Começa então a guerra entre os exércitos e o duelo entre Macbeth e Macduff. Durante a luta, Macbeth diz ao oponente que está seguro porque nenhum homem nascido de mulher poderia matá-lo, mas Macduff revela a ele que não nasceu, e sim, foi tirado prematuramente do ventre da mãe por cesariana. Macduff então mata Macbeth e tira-lhe a cabeça. Assim, em grande festa, Malcom, filho do Rei Duncan é então coroado e consagrado Rei da Escócia.
Análise da peça:
A peça de Willian Shakespeare, Macbeth  eu seu inicio nos faz refletir se o que acontece em nossas vidas e o que fazemos é nossa culpa ou existe um destino que nos guia. No inicio vemos três bruxas prevendo a  ascensão de Macbeth na nobreza e posteriormente ele se tornaria rei. Elas avisam de sua previsão a Macbeth após este ter saído vitorioso em uma batalha, ele de inicio fica cético quanto ao que foi lhe dito, mas após parte da previsão ter se concretizado, ele começa a acreditar no que as bruxas lhe disseram e luta para que toda a previsão se concretize.
Logo seduzido pela ambição da previsão das bruxas e influenciado por sua esposa, Macbeth assassina o rei para ser coroado rei da Escócia e persegue Lord Banquo para evitar que o restante da previsão ocorresse, que os descendentes de Banquo e não dele seriam os reis da Escócia.
Macbeth fez o que fez por sua vontade ou o destino o forçou a cometer os crimes que cometeu para que se tornasse rei?
As bruxas sabiam o que Macbeth faria, e ao admitir a presciência em relação aos acontecimentos futuros —, se assim se deu, pode nos fazer refletir se pode existir uma vontade livre onde é evidente uma necessidade tão inevitável?
Ainda que as bruxas prevejam as nossas vontades futuras, não se segue que não queiramos algo sem vontade livre. Não podemos negar que algo não está em nosso poder, quando aquilo que queremos não se encontra à nossa disposição. Entretanto, quando queremos, se a própria vontade nos faltasse, evidentemente não o quereríamos. Mas se, por impossível, acontecer que queiramos sem o querer, está claro que a vontade não falta a quem quer. E nada mais está tanto em nosso poder, quanto termos à nossa disposição o que queremos. Consequentemente, nossa vontade sequer seria mais vontade, se não estivesse em nosso poder.

Se as coisas previstas acontecem necessariamente, não é porque a presciência das bruxas, mas somente porque há uma presciência. Porque, se a coisa prevista não fosse certa, não haveria presciência. Não se segue na previsão das bruxas que MacBeth seria forçado a fazer aquilo que foi previsto; nem a presciência mesma o forçaria a fazer o que ele fez.

Todos os atos criminosos de Macbeth foram movidos pela ambição de ter o poder e se eternizar nele através de seus descendentes. Um simbolismo do ser humano de ter o poder por tempo indefinido. O poder por ser uma armadilha.
“Não invejem a sorte dos que estão em posição privilegiada. O que parece ser altura é, na verdade, um precipício.
Aqueles a quem uma sorte iníqua colocou em uma encruzilhada, estarão seguros diminuindo as coisas que são por si elevadas, conduzindo seu destino tanto quanto possível no nível de normalidade.
Muitos são os que devem se manter em seu pedestal, do qual não podem descer a não ser caindo.” – Sêneca.
A ambição desmedida por se consolidar no poder fez MacBeth perpetrar mortes em todo reino da Escócia, tornando a situação intolerável, levando a uma rebelião da nobreza contra ele, tendo uma funesta consequência que fora sua morte.
O poder longe de ser uma fonte de sua satisfação fora fonte de sua ruína, sua busca o fez cometer crimes horríveis, inclusive de seu amigo Lord Banquo, o suicídio de sua esposa, o abalo de sua saúde mental com os crimes e por fim a sua morte.
Diz-nos Epicuro:
“O apogeu do prazer será alcançado quando todas as dores forem eliminadas.”
Longe de o levar a bem-aventurança, a ambição de Macbeth só o levou ao sofrimento e morte. A ambição pode ser considerada negativa quando implica em cometer crimes ou quando trás sofrimento.  
Os crimes e traições de Macbeth vieram com consequências tanto para ele quanto sua esposa logo que praticados. Em meio a um banquete para a nobreza, Macbeth avista o fantasma de Lord Banquo, que ele acabara de mandar matar Lord Banquo e este vem o condenar pelo seu ato de traição. Já Lady Macbeth enlouquecida em vão tentava lavar suas mãos do sangue de seus crimes. Em contraste com o rei Ducan que fora traído por dois homens em quem ele confiava, mas que morrera em paz, de consciência tranquila.
 “A vida de um justo é pouco perturbada por inquietações, a do injusto é cheia das maiores inquietações.” – Epicuro.
O fantasma de Lord Banquo e o sangue nas mãos de Lady Macbeth, representam o tormento, as inquietações que sua consciência lhes impõe, por mais que ambos fossem ambiciosos, em seu interior, sua consciência sabe o que fizeram é errado e esse senso de justiça interior os atormenta com a culpa pelos seus atos como repetindo que nunca deveriam terem feito o que fizeram. Já o rei Ducan que nada fez, morreu tranquilo sem ter algo em sua consciência que o atormente.
Fonte:
AGOSTINHO. Livre-Arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995.
EPICURO Pensamentos. São Paulo: Martin Claret, 2012.
William SHAKESPEARE. Macbeth. Rio Grande do Sul. L&PM, 2006.
William SHAKESPEARE. Macbeth. São Paulo. Martin Claret, 2012.
SÊNECA. Da Tranquilidade da alma precedido de Da Vida retirada e seguido de da Vida Feliz. Rio Grande do Sul: L&PM, 2012.



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