Autor: Flávio carvalho
Macbeth é uma tragédia do
dramaturgo inglês William Shakespeare, sobre um regicídio e suas consequências.
É a tragédia shakespeariana mais curta, e acredita-se que tenha sido escrita
entre 1603 e 1606, com 1607 como a última data possível.
Sobre
a peça:
Shakespeare pegou a história
emprestada de diversos relatos existentes nas Crônicas da Inglaterra, Escócia e
Irlanda, uma história das ilhas Britânicas compilada inicialmente por Raphael
Holinshed e muito conhecida na época. Nas Crônicas um homem chamado Donwald
encontra diversos membros de sua família assassinados pelo seu rei, o rei Duff,
por terem se envolvido com bruxas. Após ser pressionado por sua esposa, ele e
quatro de seus criados matam o rei em sua própria casa. Quanto ao próprio Macbeth,
as Crônicas o retratam como um personagem esforçado em manter o reino diante da
incapacidade do rei Duncan. Ele e Banquo encontram-se com três bruxas, que
fazem exatamente as mesmas previsões da versão de Shakespeare; os dois tramam
então a morte de Duncan, a pedido de Lady Macbeth. Macbeth reina então por dez
anos antes de eventualmente ser deposto por Macduff e Malcolm. Os paralelos
entre as duas versões são claros; alguns estudiosos, no entanto, acreditam que
a obra Rerum Scoticarum Historia, de George Buchanan, seja ainda mais similar à
versão de Shakespeare. A obra estava disponível, em latim, na Inglaterra da
época de Shakespeare.
Macbeth foi adaptado
diversas vezes para o cinema, destacando-se a versão de 1948 com Orson Welles dirigindo e interpretando o
personagem título, e a versão de 1971 dirigida por Roman Polanski, com Jon
Finch como Macbeth.
Sinopse:
Macbeth e seu amigo Banquo
eram generais do exército da Escócia. Enquanto cavalgavam, ouviram vozes.
Tratava-se de três bruxas que preveram que Macbeth se tornaria Lord de Cowdor –
o de mais alta confiança do Rei, e posteriormente, seria coroado Rei da
Escócia.
Somente poderia tornar-se
rei os filhos ou, na ausência destes, o general de Cowdor. Tendo isso em vista,
Macbeth sabia que para essa profecia tornar-se realidade, seria necessário
atravessar a hierarquia de algumas pessoas, mas principalmente do filho do Rei,
o jovem Malcom. Além disso, seu amigo Banquo, que já o avisara que essa ambição
traria a ele muitas consequências, era a principal testemunha da previsão das
bruxas e desconfiaria de qualquer atitude de Macbeth.
Após vencerem uma batalha
contra a Noruega, os generais foram procurados por mensageiros de Duncan,
naquele momento, Rei da Escócia, que informam a eles que o Rei quer parabenizar
Macbeth pela vitória contra a Noruega e que irá torná-lo Lord de Cowdor.
Com a primeira parte da
profecia já realizada, Macbeth acredita mais ainda nas bruxas de que logo seria
coroado Rei. Resolve então contar os ocorridos para sua esposa, que exercia
forte influência sobre ele e decidem cometer uma série de assassinatos,
começando pelo amigo Banquo.
A sua esposa então, começa a
tramar a morte do Rei Duncan para logo tornar-se rainha. Organiza uma festa em
sua casa com o pretexto de que todos assistissem à morte de um traidor do Rei.
A festa acontece e o homem é enforcado. Quando todos os hóspedes vão dormir, a
esposa de Macbeth dá orientações a seu esposo de como tudo deveria ser feito.
Começa então servindo vinho aos camareiros que fazem a guarda do Rei, e isso os
faz dormir mais profundamente. A caminho do quarto onde o Rei dormia, Macbeth
começa a ter visões de um punhal, o que estranha. Ele então entra no quarto e
mata o Rei com o punhal. Logo em seguida, Macbeth começa a ter outras visões, a
ouvir vozes, mas logo acha que tudo aquilo era só imaginação. Sua esposa coloca
o punhal usado nas mãos de um dos camareiros com o objetivo de incriminá-los.
Ao amanhecer, os mensageiros do Rei chegam para acordá-lo e deparam-se com o
Rei morto. Aos gritos, todos acordam e Macbeth, encenando desespero, mata os
camareiros do Rei na frente de todos, dizendo que aqueles eram os perigosos
assassinos.
O filho do Rei, Malcom e seu
companheiro, o nobre Macduff, fogem para a Inglaterra, com medo de serem
incriminados pelo assassinato.
Macbeth que já era Lord de
Cowdor, e na ausência de filhos do Rei, é então coroado Rei da Escócia. Porém,
já na festa de seu reinado, o fantasma do Rei Duncan e de Banquo aparecem para
ele. Sua esposa, agora chamada de Lady Macbeth, que antes poderia ser
condiderada uma mulher tímida, recatada e de bem, após revelar sua ganância,
egoísmo e poder de persuadir o esposo, também passa a ter delírios e crises de
sonambulismo. Em uma dessas crises, Lady
Macbeth, inconscientemente revela ao médico e à sua camareira que a observavam,
que tem culpa nos assassinatos. Faz repetidamente o gesto de lavar as
imaginárias manchas de sangue das mãos e isso também a denuncia.
Posteriormente, Lady Macbeth comete suicídio.
Macbeth, ignora a morte da
esposa, argumentando que ela teria que morrer "em uma melhor hora."
Cansado de ter visões, Macbeth vai consultar novamente as bruxas. Numa segunda previsão,
as bruxas dizem que ele só seria derrotado se um “bosque chegasse ao castelo”,
e que ele não precisaria preocupar-se, pois “nenhum homem nascido de mulher”
poderia matá-lo, porém avisa-o para tomar cuidado com Macduff, o nobre que
fugiu com Malcom, filho do Rei.
Ambas as previsões pareciam
impossíveis: que um bosque chegasse ao castelo e que existisse de um homem que
não houvesse nascido de mulher, assim, Macbeth sentia-se seguro mas, por
precaução , manda matar a esposa e todos os filhos de Macduff.
Mensageiros procuram Macduff na Inglaterra, e
quando contam a ele a tragédia com sua família, Macduff decide voltar para a
Escócia, mas para guerrear contra Macbeth.
Com a ajuda de 10.000 homens do exército
inglês, aproximam-se então do castelo. Os soldados ingleses, para se
camuflarem, seguravam troncos e ramos de árvores e isso, sendo visto de longe,
parecia um bosque ou uma montanha em movimento, cumprindo-se então a primeira
parte da segunda profecia das bruxas.
Começa então a guerra entre
os exércitos e o duelo entre Macbeth e Macduff. Durante a luta, Macbeth diz ao
oponente que está seguro porque nenhum homem nascido de mulher poderia matá-lo,
mas Macduff revela a ele que não nasceu, e sim, foi tirado prematuramente do
ventre da mãe por cesariana. Macduff então mata Macbeth e tira-lhe a cabeça.
Assim, em grande festa, Malcom, filho do Rei Duncan é então coroado e
consagrado Rei da Escócia.
Análise
da peça:
A peça de Willian
Shakespeare, Macbeth eu seu inicio nos
faz refletir se o que acontece em nossas vidas e o que fazemos é nossa culpa ou
existe um destino que nos guia. No inicio vemos três bruxas prevendo a ascensão de Macbeth na nobreza e
posteriormente ele se tornaria rei. Elas avisam de sua previsão a Macbeth após
este ter saído vitorioso em uma batalha, ele de inicio fica cético quanto ao
que foi lhe dito, mas após parte da previsão ter se concretizado, ele começa a
acreditar no que as bruxas lhe disseram e luta para que toda a previsão se
concretize.
Logo seduzido pela ambição
da previsão das bruxas e influenciado por sua esposa, Macbeth assassina o rei
para ser coroado rei da Escócia e persegue Lord Banquo para evitar que o
restante da previsão ocorresse, que os descendentes de Banquo e não dele seriam
os reis da Escócia.
Macbeth fez o que fez por
sua vontade ou o destino o forçou a cometer os crimes que cometeu para que se
tornasse rei?
As bruxas sabiam o que
Macbeth faria, e ao admitir a presciência em relação aos acontecimentos futuros
—, se assim se deu, pode nos fazer refletir se pode existir uma vontade livre
onde é evidente uma necessidade tão inevitável?
Ainda que as bruxas prevejam as nossas vontades futuras, não se segue que não queiramos
algo sem vontade livre. Não podemos negar que
algo não está em nosso poder, quando aquilo que queremos não se encontra à
nossa disposição. Entretanto, quando queremos, se a própria vontade nos
faltasse, evidentemente não o quereríamos. Mas se, por impossível, acontecer
que queiramos sem o querer, está claro que a vontade não falta a quem quer. E
nada mais está tanto em nosso poder, quanto termos à nossa disposição o que queremos.
Consequentemente, nossa vontade sequer seria mais vontade, se não estivesse em
nosso poder.
Se as coisas previstas
acontecem necessariamente, não é porque a presciência das bruxas, mas somente porque
há uma presciência. Porque, se a coisa prevista não fosse certa, não haveria
presciência. Não se segue na previsão das bruxas que MacBeth seria forçado a fazer
aquilo que foi previsto; nem a presciência mesma o forçaria a fazer o que ele
fez.
Todos os atos criminosos de
Macbeth foram movidos pela ambição de ter o poder e se eternizar nele através
de seus descendentes. Um simbolismo do ser humano de ter o poder por tempo
indefinido. O poder por ser uma armadilha.
“Não invejem a sorte dos que
estão em posição privilegiada. O que parece ser altura é, na verdade, um precipício.
Aqueles a quem uma sorte
iníqua colocou em uma encruzilhada, estarão seguros diminuindo as coisas que
são por si elevadas, conduzindo seu destino tanto quanto possível no nível de
normalidade.
Muitos são os que devem se
manter em seu pedestal, do qual não podem descer a não ser caindo.” – Sêneca.
A ambição desmedida por se
consolidar no poder fez MacBeth perpetrar mortes em todo reino da Escócia,
tornando a situação intolerável, levando a uma rebelião da nobreza contra ele,
tendo uma funesta consequência que fora sua morte.
O poder longe de ser uma
fonte de sua satisfação fora fonte de sua ruína, sua busca o fez cometer crimes
horríveis, inclusive de seu amigo Lord Banquo, o suicídio de sua esposa, o
abalo de sua saúde mental com os crimes e por fim a sua morte.
Diz-nos Epicuro:
“O apogeu do prazer será
alcançado quando todas as dores forem eliminadas.”
Longe de o levar a
bem-aventurança, a ambição de Macbeth só o levou ao sofrimento e morte. A
ambição pode ser considerada negativa quando implica em cometer crimes ou
quando trás sofrimento.
Os crimes e traições de
Macbeth vieram com consequências tanto para ele quanto sua esposa logo que
praticados. Em meio a um banquete para a nobreza, Macbeth avista o fantasma de
Lord Banquo, que ele acabara de mandar matar Lord Banquo e este vem o condenar
pelo seu ato de traição. Já Lady Macbeth enlouquecida em vão tentava lavar suas
mãos do sangue de seus crimes. Em contraste com o rei Ducan que fora traído por
dois homens em quem ele confiava, mas que morrera em paz, de consciência
tranquila.
“A vida de um justo é pouco perturbada por
inquietações, a do injusto é cheia das maiores inquietações.” – Epicuro.
O fantasma de Lord Banquo e
o sangue nas mãos de Lady Macbeth, representam o tormento, as inquietações que
sua consciência lhes impõe, por mais que ambos fossem ambiciosos, em seu
interior, sua consciência sabe o que fizeram é errado e esse senso de justiça
interior os atormenta com a culpa pelos seus atos como repetindo que nunca
deveriam terem feito o que fizeram. Já o rei Ducan que nada fez, morreu
tranquilo sem ter algo em sua consciência que o atormente.
Fonte:
AGOSTINHO. Livre-Arbítrio.
São Paulo: Paulus, 1995.
EPICURO Pensamentos. São
Paulo: Martin Claret, 2012.
William
SHAKESPEARE.
Macbeth. Rio Grande do Sul. L&PM, 2006.
William
SHAKESPEARE.
Macbeth. São Paulo. Martin Claret, 2012.
SÊNECA. Da Tranquilidade da
alma precedido de Da Vida retirada e seguido de da Vida Feliz. Rio Grande do
Sul: L&PM, 2012.
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