quarta-feira, 3 de abril de 2019
Mulatas.
.A uma mulata de Pana mirim.
Se a todos os cinco sentidos
Não tendes coisas que dar,
Dai ao de ver e apalpar,
Os sois sejam preferidos:
Não deis que ouvir com os ouvidos,
Mas dai aos olhos que ver
E ao tacto que se entreter;
Deitemos a bom partir
Os dois sentidos a rir
E os demais a padecer.
As mãos folgam de apalpar,
Os olhos folgam de ver,
Os dois logrem seu prazer,
Os três sintam seu pesar:
Que depois que isso lograr,
Vira o mais por seu pé´,
Que ainda que ninguém me de
Nem eu tome a ninguém,
Morrera vosso desdem,
As forças de minha fé´.
Gregório de Matos.Poeta Barroco.
.Diamante Negro.
Vi-te uma vez ,e estremeci de medo...
Havia susto no ar,quando passavas:
Vida morta enterrada num segredo,
Letárgico vulcão de ignotas lavas.
Ias como quem vai para um degredo,
De invisíveis grilhões as mãos escravas,
A marcha dúbia,o olhar turvado e quedo
No roxo abismo das olheiras cavas.
Aonde ias ?Aonde vais ?Foge o teu vulto:
Mas fica o assombro do teu passo errante,
E fica o sopro desse inferno oculto,
O horrível fogo que contigo levas,
Incompreendido mal ,negro diamante,
Sol sinistro e abafado ardendo em trevas.
Olavo Bilac.Poeta Parnasiano.
.Segunda Canção do Beco.
Teu corpo moreno
E´da cor da praia.
Deve ter o cheiro
Da areia da praia.
Deve ter o cheiro
Que tem ao mormaço
A areia da praia.
Teu corpo moreno
deve ter o gosto
De fruta de praia.
Deve ter o travo
Deve ter a cica
Dos cajus da praia.
Manuel Bandeira.Poeta Modernista.
.Saudação a Palmares.
Cantem eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços:
e beijem os férreos laços
Que não ousam sacudir...
Eu canto a beleza tua...
Caçadora seminua...!
Em cuja perna flutua
Ruiva a pele de um tapir.
Crioula! o teu seio escuro
Nunca deste ao beijo impuro!
Luzidio,firme,duro
Guadas te-o pra nobre amor
Negra Diana selvagem...
Que escutas sob a ramagem
As vozes-que traz a aragem
Do teu rijo caçador!.
Castro Alves.Poeta Romântico.
.Receita de Mulher.
E´preciso,absolutamente preciso
que seja tudo belo e inesperado.
E´preciso que as extremidades sejam magras;
que uns ossos despontem,
sobretudo a rotula ao cruzar das pernas
e as pontas pélvicas num enlaçar
de uma criatura semovente.
Indispensável que haja uma ponta de barriguinha
e em seguida,a mulher se alteia em cálice,
e que seus seios sejam uma expressão Greco-Romana,
mais gótica ou barroca
e possam iluminar o escuro
com uma capacidade minima de 5 velas,
os membros que terminem como hastes
haja um certo volume de coxas,lisas
como a pétala e com suave penugem
sensível a caricia em sentido contrario.
Vinicius de Moraes.Poeta Modernista.
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