Pensão.
.Conforme relatos colhidos na cidade de Mariana.
. A Beaumarchais.
Obs.Qualquer semelhança com pessoas ou fatos e ´mero acaso.
Contam que , no inicio do século XX, havia em uma cidade do
interior de Minas uma pensão.
A pensão pertencia a dona Emerenciana, mas porque fosse
difícil pronunciar seu nome ou por habito, chamavam-na dona Midiana.Entre os
moradores , o destaque era um papagaio que atendia por Chico.
- Da o pé, louro, da lourinho...
- Ele se chama Chico!
-E o louro confirmava: Chico, Chico!
Os novos moradores da pensão achavam graça no bichinho, mas,
alguns dos antigos, o odiavam. Então, o papagaio tinha inimigos! Ate porque ele
não fechava o bico...
Dona Marina, por exemplo, não suportava o animal, porque
quando passava pela área de serviço, ouvia:
- Balofa, Balofa! .
E o dr.Dirceu (era chamado assim, por ter sido vereador,afastado
do cargo por corrupção);durante uma discussão ,esmurrou a mesa e bradou:
- Eu não sou desonesto!
O louro, que memorizava a ultima palavra, disparava, quando
ele passava:
-Desonesto!, Desonesto!
Os defensores de Chico argumentavam que o animal apenas
repetia o que ouvia, não tinha culpa do que as pessoas falavam... Mas, seus
desafetos, insistiam que ele era pernicioso.
Dona Dilma, esposa do escrivão Luizinho, por exemplo, tinha
o habito de dizer: “Não sei de nada!”.
E o Chico – Nada,nada...
Seus inimigos se reuniram e pediram providencias a dona
Midiana.
-Ele e´malvado.dizia um.
-Debochado, insistia outro.
-Atrevido, completava mais um.
-E´um provocador,disse exaltada ,dona Marina.
Reconhecendo a voz da distinta, o peralta mandou:
-Balofa!Balofa!
A dona do estabelecimento, no entanto, descartava as queixas
e afirmava:
-E´um bichinho,alma boa,um pouco levado;mas e´um anjo !
.Um anjo ! Um anjo !, Repetia o louro ,como que concordando
com d.Midiana.
Pela manha, um dialogo surrealista era travado na cozinha
entre Creusa, a cozinheira e o louro. Adoravam-se, mas viviam as turras.
-Cala a boca, peste.
-João, João.
João, fora um namorado de Creusa, que a abandonara na sua
longínqua juventude.
-Cala a boca, praga. Senão eu te faço para o almoço!
-Bucho! Bucho! Retorquia o lourinho.
E a discussão ia ate o almoço ficar pronto.
Certo dia, porem, Chico amanheceu doente. Abatido, recusava
alimento e emitia uma espécie de ronco, baixo. Seria problema respiratório?
Seus defensores suspeitavam de envenenamento por seus vários inimigos. Todos
alegaram inocência e ate se solidarizaram com o lourinho.
-Pobrezinho...
-Não e´ tão endiabrado assim...
Por uma semana, quedou prostrado e nem as tentativas da
velha cozinheira davam resultado.
-Fala peste dos infernos!
Mas, so´silencio. A
preocupação tomou conta da casa. E ate os velhos desafetos quando chegavam, perguntavam:
-Melhorou?
-Nada de novo?
D.Midiana, a beira de um colapso, mandou chamar um
veterinário.
Dr.Genoino, veterinário local, tinha o exótico apelido de
nariz de porco, pelo formato de suas narinas. Mas, ninguém se atrevia a
chamá-lo assim, não pessoalmente.
Apalpa ali, ausculta aqui e todos em silencio, a
volta;esperando algum resultado.
O louro, nada.Súbito, olhos inchados, o animalzinho mirou o
veterinário e rouco,fulminou:
-De porco! De porco!
Explosão de alegria, a casa virou uma festa, abriram cidras,
Creusa trouxe quitutes da cozinha e os moradores se abraçavam ao redor do
poleiro do combalido louro. Festança, alegria geral, menos para o dr.Genoino,
que, indignado, saiu batendo a porta e chamando a pensão de pocilga.
Autor: Marco Antonio E. da Costa.
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