domingo, 1 de dezembro de 2013

Pensão.

                                    Pensão.

                                                     .Conforme relatos colhidos na cidade de Mariana.

                                                     .  A Beaumarchais.


Obs.Qualquer semelhança com pessoas ou fatos e ´mero acaso.




Contam que , no inicio do século XX, havia em uma cidade do interior de Minas uma pensão.
A pensão pertencia a dona Emerenciana, mas porque fosse difícil pronunciar seu nome ou por habito, chamavam-na dona Midiana.Entre os moradores , o destaque era um papagaio que atendia por Chico.
- Da o pé, louro, da lourinho...
- Ele se chama Chico!
-E o louro confirmava: Chico, Chico!
Os novos moradores da pensão achavam graça no bichinho, mas, alguns dos antigos, o odiavam. Então, o papagaio tinha inimigos! Ate porque ele não fechava o bico...
Dona Marina, por exemplo, não suportava o animal, porque quando passava pela área de serviço, ouvia:
- Balofa, Balofa! .
E o dr.Dirceu (era chamado assim, por ter sido vereador,afastado do cargo por corrupção);durante uma discussão ,esmurrou a mesa e bradou:
- Eu não sou desonesto!
O louro, que memorizava a ultima palavra, disparava, quando ele passava:
-Desonesto!, Desonesto!
Os defensores de Chico argumentavam que o animal apenas repetia o que ouvia, não tinha culpa do que as pessoas falavam... Mas, seus desafetos, insistiam que ele era pernicioso.
Dona Dilma, esposa do escrivão Luizinho, por exemplo, tinha o habito de dizer: “Não sei de nada!”.
E o Chico – Nada,nada...
Seus inimigos se reuniram e pediram providencias a dona Midiana.
-Ele e´malvado.dizia um.
-Debochado, insistia outro.
-Atrevido, completava mais um.
-E´um provocador,disse exaltada ,dona Marina.
Reconhecendo a voz da distinta, o peralta mandou:
-Balofa!Balofa!
A dona do estabelecimento, no entanto, descartava as queixas e afirmava:
-E´um bichinho,alma boa,um pouco levado;mas e´um anjo !
.Um anjo ! Um anjo !, Repetia o louro ,como que concordando com d.Midiana.
Pela manha, um dialogo surrealista era travado na cozinha entre Creusa, a cozinheira e o louro. Adoravam-se, mas viviam as turras.
-Cala a boca, peste.
-João, João.
João, fora um namorado de Creusa, que a abandonara na sua longínqua juventude.
-Cala a boca, praga. Senão eu te faço para o almoço!
-Bucho! Bucho! Retorquia o lourinho.
E a discussão ia ate o almoço ficar pronto.
Certo dia, porem, Chico amanheceu doente. Abatido, recusava alimento e emitia uma espécie de ronco, baixo. Seria problema respiratório? Seus defensores suspeitavam de envenenamento por seus vários inimigos. Todos alegaram inocência e ate se solidarizaram com o lourinho.
-Pobrezinho...
-Não e´ tão endiabrado assim...
Por uma semana, quedou prostrado e nem as tentativas da velha cozinheira davam resultado.
-Fala peste dos infernos!
Mas,  so´silencio. A preocupação tomou conta da casa. E ate os velhos desafetos quando chegavam, perguntavam:
-Melhorou?
-Nada de novo?
D.Midiana, a beira de um colapso, mandou chamar um veterinário.
Dr.Genoino, veterinário local, tinha o exótico apelido de nariz de porco, pelo formato de suas narinas. Mas, ninguém se atrevia a chamá-lo assim, não pessoalmente.
Apalpa ali, ausculta aqui e todos em silencio, a volta;esperando algum resultado.
O louro, nada.Súbito, olhos inchados, o animalzinho mirou o veterinário e rouco,fulminou:
-De porco! De porco!
Explosão de alegria, a casa virou uma festa, abriram cidras, Creusa trouxe quitutes da cozinha e os moradores se abraçavam ao redor do poleiro do combalido louro. Festança, alegria geral, menos para o dr.Genoino, que, indignado, saiu batendo a porta e chamando a pensão de pocilga.

Autor: Marco Antonio E. da Costa.



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