Poesia Grega
Clássica.
“Somos todos Gregos.”
Konstantynos Kavafis.
Dos textos Clássicos Gregos poucos chegaram aos nossos dias.
Convulsões sociais, intolerância intelectual e religiosa e, até, acidentes
geográficos contribuíram para uma perda irreparável. No entanto, fragmentos e
algumas obras sobreviveram , revelando um pouco do brilho que a Cultura
Helênica produziu. Este esplendor se refletiu, em um primeiro momento no
Renascimento e depois, difundiu-se pela cultura ocidental, assim como outras
heranças Gregas; Teatro, Filosofia e Política.
O Lirismo Grego foi de tal modo desenvolvido, que muitos
conceitos Avant´Gard do Modernismo ( Seculo XX), na poesia; já se encontravam
nos poemas áticos da antiguidade, como :” o verso livre “–Apolelymèna e” Poesia
concreta” – Technopaìgnion.Vale lembrar, que os escritos criados então e
mutilados pelos séculos, lançaram as bases do Pensamento Ocidental;mantendo
vivo o espírito indômito ,criativo e indagador dos antigos gregos.
Breve Antologia.
Antologia, do Grego: “Ramalhete (coletânea) de flores”.
A poesia Lírica (referencia ao instrumento lira, que
acompanhava os recitais) teve maior expressão no Período Arcaico Helênico: Sec.
VIII-V A.C. Momento brilhante na civilização ocidental de que restaram
fragmentos literários e tradições posteriores colhidas por pensadores como Aristóteles.
Nesta época, a densidade populacional levou os cidadãos a buscarem outros lares
( Apoikia); o que acarretou a expansão grega pelo Mediterrâneo e Mar Negro.Nas
colônias (Poleis), surgiram :escultura,Poesia Lírica e a filosofia pré-Socrática.
O avanço bárbaro persa determinou outros rumos para as cidades gregas
independentes. Este período clássico observa um cânone de poetas ( Aedos)
Líricos :
.Poetas Mèlicos.
Mèlica, canto com musica. Daí, melodia em Português.
Alcmâ , Alceu , Safo, Estesìcoro, Ìbico,Anacreonte,Semônides,Pìndaro,
Baquìlides,Hìbrias.
.Poetas Iâmbicos ou Jâmbicos.Métrica poética que alternava
sílabas longas e curtas ,criando um ritmo próprio.Significa, muitas vezes,
Ironia e sarcasmo.
Arquìloco,Semônides,Praxila,íon.
.Poetas Elegíacos. Elegia. Poema que reflete profunda tristeza,
lástima
Mimnerno,Sòlon,Tèognis,Erina.
.Poetas Tradicionais ou didáticos. Temas: aforismos (gnoma),
Hìnica(religiosa),genealógica
(origens, dos deuses, inclusive), Narrativa (Prosa objetiva).
Hesìodo,Melanìpides,Timóteo.
.Antologia Palatina ou Antologia Grega.Coletânea de
Epigramas (composição poética breve que expressa uma única idéia) do período
Clássico grego e Bizantino.
Platão,Laminas Orficas,Filoxeno,Licofronides, Teòcrito,Meleagro,Paulo
silenciario.
PíNDARO ( 558-448 AC.), Nasceu em Cinoscèfalos,Beòcia,origem
nobre.Estudou em Atenas e foi hospede ,entre outros, de Alexandre Magno; da
Macedônia.Religioso e tradicional dele restaram Epinicios ; Odes a vitorias
conquistadas nos jogos e Ditirambos ( canto coral destinado ao deus
Dionísio),hinos e partenios (coro feminino destinado a honrar a deusa Athena.).Considerado
por Platão e Heródoto, um Clássico, e´ ao lado de Safo, um dos maiores da
antiguidade.Tal respeito se fez presente ,quando Alexandre devastou Tebas
,poupando apenas,a casa do Poeta.
O
SONHO DE UMA SOMBRA.
A sorte
dos mortais
Cresce num
só momento;
e um só
momento basta
Para
lançar por terra,
Quando o
cruel destino
a venha
sacudir.
Efêmeros! Que somos?
Que não
somos? O homem
E´ o sonho
de uma sombra.
Mas quando
os deuses lançam
Sobe ele a sua luz,
Claro
esplendor o envolve
E doce e´
então a vida.
Comentário. De caráter piedoso, o poema alerta para a
efemeridade da vida e a importância do beneplácito das divindades. A influencia
sobre Shakespeare e´ notável.
O
ELISIO.
Enquanto aqui e ´noite,
O sol fulgura vigoroso para eles,
No mundo subterrâneo;
E diante da cidade,
Pelos campos de rosas carmesins, o incenso
Derrama a sua sombra,
E os ramos vergam-se com frutos de ouro.
Uns se divertem com cavalos ou lutando,
Enquanto jogam outros, ou a lira tocam,
E entre eles a felicidade e´ como uma árvore
Que já cresceu de todo e se acha em flor.
Por esta terra amável
Um doce aroma sem cessar se espalha:
Nos altares dos deuses eles mesclam
Arômatos de toda espécie
Ao fogo que de longe brilha.
Denso negror expele no outro lado
Os lentos rios da sombria noite.
Comentario. O aspecto religioso prevalece, uma vez que O
Elìsio destinava-se aos virtuosos e mortos em combate, com gloria, portanto. O
outro lado, O Hades, era reservado para os atormentados pela morte ou por
deuses. A noção de Céu e ínferno já existia, em certa medida, difundida pelas
Culturas antigas, ente elas a Clássica.
SAFO.
Natural de Mitilene,foi ,ao lado de Alceu, a maior expressão
lírica do Século VII AC. .
“A poetisa”, “a Décima Musa”, conforme Platão; apresentava
forma expressiva e bela em seus textos, o que a coloca entre os grandes líricos
do Ocidente.
O AMOR.
O amor agita meu espírito
Como se fosse um vendaval
A desabar sobre os carvalhos.
Comentário. O sentimentalismo e´ forte, como nos Românticos
do Século XIX !
Como o Jacinto.
Como o Jacinto que os pastores
Calcam aos pés nos montes
E ainda abre a sua flor
De púrpura no chão.
Comentário. Quem não ama, mesmo sofrendo? A esperança
costuma fazer dos que amam
Peões no tabuleiro da vida.
Ìbico.Magna Grécia,texto limpo e puro, como o de Safo.
Cèlebre, na antiguidade, a expressão “ os Grous de ìbico.”;
que narra o seguinte ;
Assaltado e ferido mortalmente por ladrões ,Ìbico,agonizante,
apontou para os grous que voavam por ali e disse que eles seriam seus
vingadores; para diversão dos bandidos. Pouco depois ,em Corinto, os ladrões viram
os pássaros e um disse :” vejam , os grous de ìbico.”
Intrigados, os moradores da cidade questionaram os
meliantes, que acabaram confessando seu crime.
Temo Adquirir.
Temo adquirir
Honras
humanas
Ao preço de pecar
Perante
os deuses.
Anacreonte. Da Iônia,nascido em 560 ac. ( ?! ).Possivelmente , participou da fuga de Teos,
quando da invasão persa (Grécia asiática).Foi acolhido por Hiparco, em Atenas,
desfrutando de grande prestigio.Conforme Pausanias, havia uma estatua dele na Acrópole,
ao lado da de Xantipo, vencedor dos persas em Micale.Cantava o amor, a beleza e
o vinho.
Amargura.
Encaneceram minhas têmporas,
Tenho a cabeça calva e branca;
Deixou de estar comigo
A
amável juventude,
E
já meus dentes são de velho.
Resta-me breve prazo
De doce vida; e assim
Eu ergo meu lamento,
Com pavor do outro mundo.
Terrível e´ a mansão da morte,
Árduo, o caminho para la´;
E
certo e´ que uma vez la´ embaixo
Não haverá retorno.
Comentário. O poeta, envelhecido, sofre com sua condição e
com a inevitabilidade histórica da morte; que o privara dos prazeres da vida.
Semônides de Ceos. (556-468 ac.), contemporâneo de
Anacreonte, viveu na corte de Hiparco, em Atenas.Poeta , laureado em vários
concursos;diplomata, mediou conflitos entre cidades rivais e conforme Plutarco,
considerava “ A Poesia uma pintura que fala,”Célebre seu epitáfio para os
Gregos que pereceram nas Termòpilas.( 480 ac.)
Epitáfio.
”Estrangeiro vai contar aos Lacedemônios que jazemos aqui,
“Por
obedecermos às suas leis.”
E o Poema, Aos Que Morreram
nas Termòpilas.
Dos que morreram nas
Termòpilas
Ilustre foi a sina, bela a morte;
Seu jazigo e ´um altar
Onde as lembranças são as libações
E
os louvores o vinho derramado.
Sobre esta pedra não terá poder
o musgo
Nem
mesmo o tempo que domina tudo:
Na
tumba dos Heróis habita agora
O
resplendor da Grécia.
Atesta-o Leônidas, o Rei de Esparta,
Do
qual bravura e glória
Eternamente brilham.
Comentário. O poeta celebra aqui, a bravura dos gregos, que
liderado pelos Espartanos opuseram tenaz resistência aos bárbaros persas,
causando pesadas baixas no inimigo. Apesar da disparidade: cerca de 5 mil gregos contra cerca de 300 mil bárbaros
( Heródoto).os Helenos resistiram heroicamente ,sabendo da morte certa
,lançando as sementes da resistência grega que,por fim, expulsaria o invasor da
Europa.
Foi a derrota mais vitoriosa da Grécia/Europa; quiçá da
Historia.
O atraso e perdas persas significaram, em longo prazo, uma
derrota acachapante. Se os asiáticos tivessem dominado a Europa, certamente, a
Filosofia, as Artes e a democracia não teriam florescido.
De origem nobre, foi para Tassos, onde com versos satíricos
e obscenos se vingou do amor recusado de uma mulher, Neoubule´ e seu pai. A
tradição conta que os “homenageados “ se mataram de vergonha.Teve vida de
guerreiro , em Esparta.Morreu combatendo em uma guerra de Paros contra
Naxos.Alem de poemas, escreveu elegias e hinos.
A
GRANDE ARTE.
Tenho uma
grande arte:
Eu firo
duramente
Aqueles que
me ferem.
SOMBRAS.
Com um ramo de mirto
E uma bela
rosa
Ela brincava
E os cabelos
Caiam-lhe
pelos ombros
E pelas costas,
Como
sombras...
PRAXILIA. De siciâo,floresceu durante a 82*Olimpíada ( 451
AC.).
Famosas foram suas canções de Vinho, teve sua imagem
imortalizada em bronze, por Lisipo.
O ESCORPIÂO.
Espia bem amigo:
Sob cada pedra
Pode esconder-se um escorpião.
Tèognis. De Mégara,aristocrata dório,,segunda metade do
Século VI AC. Foi exilado, em função das lutas internas entre nobres e
plebeus.Cantava o amor, tinha um senso de mistério.
DO
AMOR.
Jovens, dormi
com as moças
De vossa idade,
e desfrutai
De labor e
delícias amorosas.
Que no Banquete
soem flauta e canto.
Para homem e mulher,
que há de mais sábio?
De que me valem
honra e riqueza?
O prazer e a
alegria a tudo excedem.
.................................................................
O amor e´
amargo e doce,encantador e cruel,
Enquanto, Cirno,
os jovens o pretendem:
Doce e´
alcançá-lo,
Mas triste e´ procurá-lo e
não o achar.
Comentário. O poeta fala da maior bênção que uma pessoa pode
receber, o amor; mas , ao mesmo tempo, alerta o amigo e discípulo Cirno de que
; a mesma fonte de alegria ,pode ser causa de sofrimento e angùstia.
Hesíodo. Figura lendária floresceu no Século VIII AC, adaptou
o verso épico ao cotidiano.
De Ascra, na Beòcia, venceu um concurso dos jogos fúnebres
na Eubeia. Após sua morte, suas cinzas –por orientação de um oráculo- foram
colocadas no centro da àgora,ao lado das de Mìnias, patriarca local.Sua obra :
“ os trabalhos e os dias.” e “ Teogonia.”,são clássicos da literatura helênica.A influencia do poeta
, sobre a religião foi enorme.
Verão.
Quando floresce o cardo e na arvore, a cigarra
Verte de sob as asas doce canto estrídulo,
No tempo em que o verão e´ fatigante,
Mais gordas vem-se as cabras e melhor o vinho,
Mais sensuais as mulheres, débeis os varões:
--Sirius lhes queima a fronte e os joelhos, e o calor
Lhes seca a pele. Possa eu ter, nessa ocasião,
A sombra de uma rocha, vinho bìblino,
Pão e leite de cabras que já
desmamaram,
E carne de novilha que pastou no bosque
E ainda não deu cria, ou, caso falte,
De cordeirinhos do primeiro parto
E possa eu, para beber o vinho negro,
À sombra me estender de coração feliz
Com o meu banquete, e, dando o rosto ao vento oeste,
Junto à fonte perpétua, viva e imperturbada
Mesclar três partes de água e uma de vinho.
Comentário.O poeta descreve aqui, os prazeres do cotidiano,
de forma bucólica e malemolente.Nao fosse grego, diria que e ´um brasileiro na
praia...
Meleagro de Gàdara. Século I.Organizou uma antologia de
Epigramas( poemas elegíacos),
Tal coletânea ficou conhecida como “ Antologia
Palatina.”;referencia à livraria
palatina de Heidelberg, onde os manuscritos foram encontrados , no Século
XVIII.
E ´o pai da poesia Bucólica.
V.144.
Floresce o goivo
branco
Em flor se vê o
Narciso que ama as chuvas,
Floresce o lírio
das montanhas.
Flor luxuriante
em meio às flores,
Desabrochou Zenòfila, a amorável,
Doce rosa da
obediência,
Prados por que
rides sem razão,
A sacudir assim
vossos cabelos?
Sim, vale mais a
jovem
Que as coroas
perfumadas.
Comentário. A reunião de aspectos afetivos e da
natureza,fornecem o lirismo típico do Bucolismo ( poesia pastoral que exalta as
virtudes da vida campestre);retomada pelos poetas do Arcadismo,Século XVIII.
Bibliografia/Referencias:
Botelho, Raposo. Compendio de História Universal. Parceria
Pereira, Lisboa, 1933.
Heródoto. História. Melhoramentos, Rio de Janeiro, 1974.
Ramos, Péricles. Poesia Grega e Latina. Cultrix,São
Paulo,1964.
Gregos. Um povo na origem do ocidente. História viva. Duetto,São
Paulo/Lisboa,2007.
Deuses Gregos. Lendas. Mitos. História. Mistérios do Olimpo.
Escala ,São Paulo, 2006.
Os antigos Gregos. Abril, São Paulo, 2003.
Autor: Marco Antonio E. Da Costa.
AGRADEÇO NOS BRINDAR COM TÃO BELA TRADIÇÃO
ResponderExcluir"Ó divina poesia, deusa, filha de Zeus [...]"
ResponderExcluirOnde posso encontrar mais poesias. De fato, são muito belas, a cultura grega nos proporcionou joias maravilhosas.
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