segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Palavra

                                         PALAVRA.











O poema e´ uma ligeira insanidade
Um grito de silenciosa solidão
Busca de palavras pela vida
Lápis semântico
Para colorir o existir.

“ Ergo meu crânio repleto de versos
a todos os que foram amados.”,
Bradou Maiakovski,
despetalando o dia
Com suas entranhas de fogo.

Autor: Marco Antonio E. da Costa.



Beija-flor



                                               Beija-Flor.







O colibri
Provou o mel da flor
Rasgou o céu
Para o sul voou.

O colibri
Sem saber se apaixonou
Porém, quando retornou
Não havia mais flor.

Cheio de dor,
O colibri
Descobriu
O amor.

Autor: Marco Antonio E. da Costa.



PORTO.



                                     PORTO.









Teu abismo dourado
E´meu porto, meu destino,

Existência adorada
Floresta em chamas,

Convite à anatomia
Loucura obscena,

Estação da vida
Metáfora amorosa.


Autor: Marco Antonio E. da Costa.




quarta-feira, 25 de setembro de 2013

tempo


                                                    TEMPO.
                                                                                “ Matamos o tempo,
                                                                                  O tempo nos enterra.”
                                                                                                                    Machado de Assis
                                                                                                                            (1839-1908)



                                                                                                                                  


  Se o tempo fosse
  Remédio para tudo,
  Seria vendido em farmácias
 

  O tempo e´ um véu
  Que transforma a dor em memória
  E a ferida em cicatriz.


  Mas nas noites de lua
  Lânguida, límpida e lépida,
  A dor lateja,
  As perdas pulsam


  E como lobos fitando os céus
   Uivamos para o passado
  Com olhar melancólico
  Em busca do que foi

A serenidade adormece
A placidez da lugar
A  recordações amargas; nostalgia
Ou lembranças doces; saudade


E assim, expostas as feridas
Vemos que as dores não foram perdidas,
E nada acaba
Mas tudo muda.


Autor: Marco Antonio E. da Costa.








segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ode Etìlica

                                                          ODE  ETÌLICA.

                                                                               A  AUGUSTO DOS ANJOS.




Bebe nas noites
A angústia Cor de chumbo
Adorno do tácito mármore,
Abraçando cruzes e jazigos
Epitáfios e lápides sem vida.


Os olhos revelam
Uma dor de sangue,
No hálito fétido
Névoa pútrida invencível,
`a mais leve brisa.


Esquálido perfil
Das dores filho,
Cadavérico sorriso
Em ébrios caminhos.


Trôpego, deformado
Bailando errante
Rumo ao nada
Distorcido em noturna queda.


Tragando  a mágoa ,
Trajeto do invisível
Frêmito interior
De fictícias certezas.



Esquife gélido, decomposto
Enlaçando flores mortas,
Banquete de vermes em
Inequívocas trevas.



Autor: Marco Antonio E. Da Costa.










       

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Poesia Grega Clàssica

                                  Poesia Grega Clássica.
                                                                                       “Somos todos Gregos.”
                                                                                        Konstantynos Kavafis.




Dos textos Clássicos Gregos poucos chegaram aos nossos dias. Convulsões sociais, intolerância intelectual e religiosa e, até, acidentes geográficos contribuíram para uma perda irreparável. No entanto, fragmentos e algumas obras sobreviveram , revelando um pouco do brilho que a Cultura Helênica produziu. Este esplendor se refletiu, em um primeiro momento no Renascimento e depois, difundiu-se pela cultura ocidental, assim como outras heranças Gregas; Teatro, Filosofia e Política.

O Lirismo Grego foi de tal modo desenvolvido, que muitos conceitos Avant´Gard do Modernismo ( Seculo XX), na poesia; já se encontravam nos poemas áticos da antiguidade, como :” o verso livre “–Apolelymèna e” Poesia concreta” – Technopaìgnion.Vale lembrar, que os escritos criados então e mutilados pelos séculos, lançaram as bases do Pensamento Ocidental;mantendo vivo o espírito indômito ,criativo e indagador dos antigos gregos.

Breve Antologia.
Antologia, do Grego: “Ramalhete (coletânea) de flores”.
A poesia Lírica (referencia ao instrumento lira, que acompanhava os recitais) teve maior expressão no Período Arcaico Helênico: Sec. VIII-V A.C. Momento brilhante na civilização ocidental de que restaram fragmentos literários e tradições posteriores colhidas por pensadores como Aristóteles. Nesta época, a densidade populacional levou os cidadãos a buscarem outros lares ( Apoikia); o que acarretou a expansão grega pelo Mediterrâneo e Mar Negro.Nas colônias (Poleis), surgiram :escultura,Poesia Lírica e a filosofia pré-Socrática. O avanço bárbaro persa determinou outros rumos para as cidades gregas independentes. Este período clássico observa um cânone de poetas ( Aedos) Líricos :
.Poetas Mèlicos.  Mèlica, canto com musica. Daí, melodia em Português.
Alcmâ , Alceu , Safo, Estesìcoro, Ìbico,Anacreonte,Semônides,Pìndaro, Baquìlides,Hìbrias.
.Poetas Iâmbicos ou Jâmbicos.Métrica poética que alternava sílabas longas e curtas ,criando um ritmo próprio.Significa, muitas vezes, Ironia e sarcasmo.
Arquìloco,Semônides,Praxila,íon.
.Poetas Elegíacos. Elegia. Poema que reflete profunda tristeza, lástima
Mimnerno,Sòlon,Tèognis,Erina.
.Poetas Tradicionais ou didáticos. Temas: aforismos (gnoma), Hìnica(religiosa),genealógica
(origens, dos deuses, inclusive), Narrativa (Prosa objetiva).
Hesìodo,Melanìpides,Timóteo.
.Antologia Palatina ou Antologia Grega.Coletânea de Epigramas (composição poética breve que expressa uma única idéia) do período Clássico grego e Bizantino.
Platão,Laminas Orficas,Filoxeno,Licofronides, Teòcrito,Meleagro,Paulo silenciario.




PíNDARO ( 558-448 AC.), Nasceu em Cinoscèfalos,Beòcia,origem nobre.Estudou em Atenas e foi hospede ,entre outros, de Alexandre Magno; da Macedônia.Religioso e tradicional dele restaram Epinicios ; Odes a vitorias conquistadas nos jogos e Ditirambos ( canto coral destinado ao deus Dionísio),hinos e partenios (coro feminino destinado a honrar a deusa Athena.).Considerado por Platão e Heródoto, um Clássico, e´ ao lado de Safo, um dos maiores da antiguidade.Tal respeito se fez presente ,quando Alexandre devastou Tebas ,poupando apenas,a casa do Poeta.

                                              O SONHO DE UMA SOMBRA.
                        
                                      A sorte dos mortais
                                     Cresce num só momento;
                                     e um só momento basta
                                      Para lançar por terra,
                                       Quando o cruel destino
                                      a venha sacudir.

                                    Efêmeros! Que somos?
                                   Que não somos? O homem
                                   E´ o sonho de uma sombra.
                                    Mas quando os deuses lançam 
                                   Sobe ele a sua luz,
                                   Claro esplendor o envolve
                                   E doce e´ então a vida.  


Comentário. De caráter piedoso, o poema alerta para a efemeridade da vida e a importância do beneplácito das divindades. A influencia sobre Shakespeare e´ notável.



                                         O ELISIO.

                         Enquanto aqui e ´noite,
                        O sol fulgura vigoroso para eles,
                         No mundo subterrâneo;
                         E diante da cidade,
                        Pelos campos de rosas carmesins, o incenso
                         Derrama a sua sombra,
                        E os ramos vergam-se com frutos de ouro.
                        Uns se divertem com cavalos ou lutando,
                        Enquanto jogam outros, ou a lira tocam,
                        E entre eles a felicidade e´ como uma árvore
                        Que já cresceu de todo e se acha em flor.
                        Por esta terra amável
                        Um doce aroma sem cessar se espalha:
                         Nos altares dos deuses eles mesclam
                         Arômatos de toda espécie
                          Ao fogo que de longe brilha.


                       Denso negror expele no outro lado
                       Os lentos rios da sombria noite.


Comentario. O aspecto religioso prevalece, uma vez que O Elìsio destinava-se aos virtuosos e mortos em combate, com gloria, portanto. O outro lado, O Hades, era reservado para os atormentados pela morte ou por deuses. A noção de Céu e ínferno já existia, em certa medida, difundida pelas Culturas antigas, ente elas a Clássica.




                        
    SAFO.
Natural de Mitilene,foi ,ao lado de Alceu, a maior expressão lírica do Século VII AC. .
“A poetisa”, “a Décima Musa”, conforme Platão; apresentava forma expressiva e bela em seus textos, o que a coloca entre os grandes líricos do Ocidente.

                                        O AMOR.
                          O amor agita meu espírito
                          Como se fosse um vendaval
                          A desabar sobre os carvalhos.

Comentário. O sentimentalismo e´ forte, como nos Românticos do Século XIX  !


                              Como o Jacinto.

                        Como o Jacinto que os pastores
                        Calcam aos pés nos montes
                         E ainda abre a sua flor
                         De púrpura no chão.


Comentário. Quem não ama, mesmo sofrendo? A esperança costuma fazer dos que amam
Peões no tabuleiro da vida.




Ìbico.Magna Grécia,texto limpo e puro, como o de Safo.
Cèlebre, na antiguidade, a expressão “ os Grous de ìbico.”; que narra o seguinte ;
Assaltado e ferido mortalmente por ladrões ,Ìbico,agonizante, apontou para os grous que voavam por ali e disse que eles seriam seus vingadores; para diversão dos bandidos. Pouco depois ,em Corinto, os ladrões viram os pássaros e um disse :” vejam , os grous de ìbico.”
Intrigados, os moradores da cidade questionaram os meliantes, que acabaram confessando seu crime.
          
                                              Temo Adquirir.

                                               Temo adquirir
                                              Honras humanas
                                              Ao preço de pecar
                                              Perante os deuses.




Anacreonte. Da Iônia,nascido em 560 ac. ( ?!  ).Possivelmente , participou da fuga de Teos, quando da invasão persa (Grécia asiática).Foi acolhido por Hiparco, em Atenas, desfrutando de grande prestigio.Conforme Pausanias, havia uma estatua dele na Acrópole, ao lado da de Xantipo, vencedor dos persas em Micale.Cantava o amor, a beleza e o vinho.

                                        Amargura.

                    Encaneceram minhas têmporas,
                     Tenho a cabeça calva e branca;
                     Deixou de estar comigo
                     A amável juventude,
                     E já meus dentes são de velho.
                     Resta-me breve prazo
                     De doce vida; e assim
                     Eu ergo meu lamento,
                     Com pavor do outro mundo.
                     Terrível e´ a mansão da morte,
                     Árduo, o caminho para la´;
                    E certo e´ que uma vez la´ embaixo
                     Não haverá retorno.

Comentário. O poeta, envelhecido, sofre com sua condição e com a inevitabilidade histórica da morte; que o privara dos prazeres da vida.




Semônides de Ceos. (556-468 ac.), contemporâneo de Anacreonte, viveu na corte de Hiparco, em Atenas.Poeta , laureado em vários concursos;diplomata, mediou conflitos entre cidades rivais e conforme Plutarco, considerava “ A Poesia uma pintura que fala,”Célebre seu epitáfio para os Gregos que pereceram nas Termòpilas.( 480 ac.)

                                                    Epitáfio.

                 ”Estrangeiro vai contar aos Lacedemônios que jazemos aqui,
                  “Por obedecermos às suas leis.”

 E o Poema,                            Aos Que Morreram nas Termòpilas.
                  
                   Dos que morreram nas Termòpilas
                   Ilustre foi a sina, bela a morte;
                    Seu jazigo e ´um altar
                    Onde as lembranças são as libações
                   E os louvores o vinho derramado.
                  Sobre esta pedra não terá poder o musgo
                  Nem mesmo o tempo que domina tudo:
                  Na tumba dos Heróis habita agora
                  O resplendor da Grécia.
             

                  Atesta-o Leônidas, o Rei de Esparta,
                  Do qual bravura e glória
                  Eternamente brilham.


Comentário. O poeta celebra aqui, a bravura dos gregos, que liderado pelos Espartanos opuseram tenaz resistência aos bárbaros persas, causando pesadas baixas no inimigo. Apesar da disparidade: cerca de  5 mil gregos contra cerca de 300 mil bárbaros ( Heródoto).os Helenos resistiram heroicamente ,sabendo da morte certa ,lançando as sementes da resistência grega que,por fim, expulsaria o invasor da Europa.
Foi a derrota mais vitoriosa da Grécia/Europa; quiçá da Historia.
O atraso e perdas persas significaram, em longo prazo, uma derrota acachapante. Se os asiáticos tivessem dominado a Europa, certamente, a Filosofia, as Artes e a democracia não teriam florescido.   

            

                   

 Arquìloco.Natural de Paros,floresceu no Século VII AC.Supostas datas de vida : 705-645 AC.
De origem nobre, foi para Tassos, onde com versos satíricos e obscenos se vingou do amor recusado de uma mulher, Neoubule´ e seu pai. A tradição conta que os “homenageados “ se mataram de vergonha.Teve vida de guerreiro , em Esparta.Morreu combatendo em uma guerra de Paros contra Naxos.Alem de poemas, escreveu elegias e hinos.

                                             A GRANDE ARTE.

                                   Tenho uma grande arte:

                                    Eu firo duramente
                                    Aqueles que me ferem.


                                        SOMBRAS.

                                  Com um ramo de mirto
                                   E uma bela rosa
                                   Ela brincava

                                   E os cabelos
                                   Caiam-lhe pelos ombros
                                   E pelas costas,

                                  Como sombras...





PRAXILIA. De siciâo,floresceu durante a 82*Olimpíada ( 451 AC.).
Famosas foram suas canções de Vinho, teve sua imagem imortalizada em bronze, por Lisipo.


                                                 O ESCORPIÂO.
                                             Espia bem amigo:
                                              Sob cada pedra
                                            Pode esconder-se um escorpião.





Tèognis. De Mégara,aristocrata dório,,segunda metade do Século VI AC. Foi exilado, em função das lutas internas entre nobres e plebeus.Cantava o amor, tinha um senso de mistério.

                                             DO AMOR.
                                Jovens, dormi com as moças
                                De vossa idade, e desfrutai
                                 De labor e delícias amorosas.
                                Que no Banquete soem flauta e canto.
                                Para homem e mulher, que há de mais sábio?
                               De que me valem honra e riqueza?
                                O prazer e a alegria a tudo excedem.
                               .................................................................
                                O amor e´ amargo e doce,encantador e cruel,
                               Enquanto, Cirno, os jovens o pretendem:
                               Doce e´ alcançá-lo,
                                Mas triste e´ procurá-lo e não o achar.

Comentário. O poeta fala da maior bênção que uma pessoa pode receber, o amor; mas , ao mesmo tempo, alerta o amigo e discípulo Cirno de que ; a mesma fonte de alegria ,pode ser causa de sofrimento e angùstia.


                              





                               Hesíodo. Figura lendária floresceu no Século VIII AC, adaptou o verso épico ao cotidiano.
De Ascra, na Beòcia, venceu um concurso dos jogos fúnebres na Eubeia. Após sua morte, suas cinzas –por orientação de um oráculo- foram colocadas no centro da àgora,ao lado das de Mìnias, patriarca local.Sua obra : “ os trabalhos e os dias.” e “ Teogonia.”,são clássicos  da literatura helênica.A influencia do poeta , sobre a religião foi enorme.


                                                       Verão.
Quando floresce o cardo e na arvore, a cigarra
Verte de sob as asas doce canto estrídulo,
No tempo em que o verão e´ fatigante,
Mais gordas vem-se as cabras e melhor o vinho,
Mais sensuais as mulheres, débeis os varões:
--Sirius lhes queima a fronte e os joelhos, e o calor
Lhes seca a pele. Possa eu ter, nessa ocasião,
A sombra de uma rocha, vinho bìblino,
Pão e leite de cabras que já  desmamaram,
E carne de novilha que pastou no bosque
E ainda não deu cria, ou, caso falte,
De cordeirinhos do primeiro parto
E possa eu, para beber o vinho negro,
À sombra me estender de coração feliz
Com o meu banquete, e, dando o rosto ao vento oeste,
Junto à fonte perpétua, viva e imperturbada
Mesclar três partes de água e uma de vinho.

Comentário.O poeta descreve aqui, os prazeres do cotidiano, de forma bucólica e malemolente.Nao fosse grego, diria que e ´um brasileiro na praia...






 Meleagro de Gàdara. Século I.Organizou uma antologia de Epigramas( poemas elegíacos),
Tal coletânea ficou conhecida como “ Antologia Palatina.”;referencia à  livraria palatina de Heidelberg, onde os manuscritos foram encontrados , no Século XVIII.
E ´o pai da poesia Bucólica.

                                                       V.144.
      Floresce o goivo branco
      Em flor se vê o Narciso que ama as chuvas,
     Floresce o lírio das montanhas.
     Flor luxuriante em meio às flores,
     Desabrochou  Zenòfila, a amorável,
     Doce rosa da obediência,
     Prados por que rides sem razão,
     A sacudir assim vossos cabelos?
     Sim, vale mais a jovem
     Que as coroas perfumadas.

Comentário. A reunião de aspectos afetivos e da natureza,fornecem o lirismo típico do Bucolismo ( poesia pastoral que exalta as virtudes da vida campestre);retomada pelos poetas do Arcadismo,Século XVIII.


Bibliografia/Referencias:
Botelho, Raposo. Compendio de História Universal. Parceria Pereira, Lisboa, 1933.
Heródoto. História. Melhoramentos, Rio de Janeiro, 1974.
Ramos, Péricles. Poesia Grega e Latina. Cultrix,São Paulo,1964.

Gregos. Um povo na origem do ocidente. História viva. Duetto,São Paulo/Lisboa,2007.
Deuses Gregos. Lendas. Mitos. História. Mistérios do Olimpo. Escala ,São Paulo, 2006.
Os antigos Gregos. Abril, São Paulo, 2003.

Autor: Marco Antonio E. Da Costa.