“A Tolerância é a
melhor das Religiões.”
Victor Hugo.
Tarde chuvosa em B.H. , “Rush Time” ;todos com pressa ,
agitados,evitando as gotas da garoa fina que cai , mas não evitando os encontrões típicos dos atribulados transeuntes.
Nestas circunstancias
ocorre um dos indecifráveis mistérios universais, ou seja, as pessoas
que andam com guarda-chuvas ou sombrinhas abertos sob a marquise...
Alem de "empurrarem” os que não tem estes objetos ,para
fora da proteção da marquise, ainda sujeitam os outros a serem espetadas pelas extremidades de suas "armas." Em uma
dessas ocasiões, estava eu tentando entrar na galeria do Othon,quando premido pelo mar de guarda-chuvas,fui atingido pela ponta de um deles e para não ser por outro ,me esquivei e
entrei o mais rápido que pude na galeria.
Colidi com um senhor já provecto,que com olhar furioso
fitou-me de cima a baixo e trovejou :
-“Escandinavo !” . Ante minha surpresa, insistiu :”Escandinavo!”
Não me contive e ri , afinal não é todo dia que se é insultado de forma
erudita...
Como dizem no interior de Minas , ai “a mandioca azedou de
vez”;
- “Seu Nórdico, Escandinavo”,atacou –de novo- o vetusto e
fulo senhor.
Tentei explicar que não tivera a intenção de me chocar com ele , que ele me perdoasse...
Ao que o zangado senhor –surdo aos meus apelos -retorquiu
histérico : “Juto.”
Por segundos , não consegui evitar visualizar uma cena de
mim como bárbaro, pilhando,saqueando e queimando Europa afora. Senti-me
lisonjeado, um misto de coragem e aventura
alimentou minhas fantasias de Pequeno-Burguês acomodado.
Este estado de abstração em que eu estava, não escapou ao
velhinho furioso:
- “ Volte para os fiordes”, despejou com fúria Bíblica.
Ante a ira indomável
do ilustre senhor e sua recusa em argumentar ,escolhi –com espírito
esportivo- me retirar e sai devagar sob
os impropérios do distinto, que ainda bradava :
-"Escandinavo,Escandinavo!."
Enquanto andava , pensava
em como é difícil ser tolerante ; com a falta de paciência dos outros ,
com as próprias falhas...
Se as pessoas fossem mais tolerantes,as relações seriam mais
fáceis , mais transparentes...
Dei uma olhada para trás e lá estava o senhor , já não
gritava, mas resmungava e eu podia jurar que era : “Escandinavo!”.
Senti uma espécie de alegria, afinal nunca fora insultado com tanta elegância, mas , ao mesmo tempo, pensei em como a Tolerância e fundamental e cada dia mais escassa e assim como a descortesia das calçadas, a gentileza entre as pessoas também esta definhando. Afinal ,Tolerância, nada mais é do que aceitar o que e´ diferente ou até oposto a você;certamente este era um dos pensamentos básicos dos Gregos quando criaram a Democracia, convivência com as diferenças.
Cada dia mais rara ! .
Autor : Marco Antonio E. Da Costa.
Infelizmente a cultura da vitimização sob o mano da LUTA CONTRA O PRECONCEITO abre espaço para outros. Conto bem sutil e belíssimo.
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ExcluirObrigado, parceiro.