Ou o Flâuner e o Progresso.
Autor: Marco Antônio Costa
"Morrem Cedo Aqueles que
os Deuses Amam."
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
ABSTRACT.
The relevance of the songs and poetry of Noel Rosa in Brasil´s Culture is hugh; by his liric ,critic and poetic point of views.It brings news about the Changing in a society in building.
Key-words : Flauner,Irony,slumdog, Positivism.
RESUMO.
A importancia da obra poetico-musical de Noel Rosa e´enorme para a cultura Brasileira, pela qualidade lirico-estetica e pelo olhar critico que noticia as transformaçoes de uma sociedade em transição.
Palavras-chave: Flâneur, Ironia, Malandragem, Positivismo.
O FLÂUNER.
The relevance of the songs and poetry of Noel Rosa in Brasil´s Culture is hugh; by his liric ,critic and poetic point of views.It brings news about the Changing in a society in building.
Key-words : Flauner,Irony,slumdog, Positivism.
RESUMO.
A importancia da obra poetico-musical de Noel Rosa e´enorme para a cultura Brasileira, pela qualidade lirico-estetica e pelo olhar critico que noticia as transformaçoes de uma sociedade em transição.
Palavras-chave: Flâneur, Ironia, Malandragem, Positivismo.
O FLÂUNER.
Produto
da moderna sociedade industrial , O Flâuner ( Do Frances: "Aquele que da
uma volta”), é um observador mordaz, diletante da Urbis , e que reluta em
aceitar a adaptação da Arte á metrópole, á ciência ou seus ditames. Esse
Anti-Herói pequeno-burguês, reflete no culto ao ócio seu protesto contra a
divisão do trabalho e as leis do mercado. O Poeta representa aqui,um olhar
GAUCHE da periferia marginalizada para o utilitarismo consumista burguês;
opondo a vivencia do “malandro” à lógica cientifica: a criação à
razão: a boemia à moral burguesa:o morro (ou vila) ao asfalto(cidade): a ironia ao
progresso.
A
Flâneurie ( Em Frances: “Dar uma volta”),estabelece um dialogo com as
“modernidade”, tendo na poesia e musica ,recursos contra os contraditórios
avanços da sociedade. O “Flaneur" é uma criação de Paris e Baudelaire,seu
apostolo;com sarcástico olhar das ruas e costumes de Paris, da paisagem humana
da metrópole, “detetive” da cidade, investigando significados sociais e
caminhando em meio aos acontecimentos urbanos em fins do Sec. XIX.
A Paris
tropical-Rio de Janeiro - teve ,também, em meados dos anos 10/20 do Sec. XX,seu
Flauner; narrador do cotidiano, “Baudelaire” brasileiro; Noel Rosa.
O POETA.
Noel de
Medeiros Rosa (*Rio de Janeiro.11 de dezembro de 1910- + Rio de Janeiro,4 de
maio de 1937).
Noel
nasceu em Vila Isabel ,de um parto complicado,em que o uso de fórceps
causou-lhe causo-lhe uma lesão no maxilar, estigma para a vida inteira.Da
classe media e da Medicina migrou para a Boemia carioca,cantor e
compositor,onde conviveu com outros artistas ,como : Ismael Silva, Pixinguinha,
Braguinha,
Almirante,Mario
Lago,entre outros.
De sua vasta obra ,mais de 300 composições, podem-se destacar :
1929. “Com que Roupa?”
1930.”Gago apaixonado”
1931. “Aeiou”,”Adeus”, “Mentiras de Mulher”
1932. “Até amanha”, “Fita amarela”, “Para me livrar do mal”.
“Mulher indigesta”, “Feitio de oração”, “Filosofia”.
1933. “Não tem tradução”, “3 apitos”, “POSITIVISMO”, “Você só...mente”,
”Onde esta a honestidade?”, “ O orvalho vem caindo”.
1934. “Pastorinhas”, ´Tenho raiva de quem sabe”, “O século do progresso” “Remorso”
1935. “Feitiço da vila”, “Provei”, “Belo Horizonte”, “Conversa de botequim”,
“Palpite infeliz”, “Pierrot apaixonado”, “Joaquim condutor”, “Silencio de um minuto”,
1936. “Dama do Cabare”, “Quem ri melhor”, “São coisas nossas”,
“O x do problema”, “Na Bahia”.
1937.”Chuva de vento”, “Eu sei sofrer”, “Cabrocha do rocha”,
“Pra que mentir?” e “Ultimo desejo” para Ceci, seu grande amor...
Após anos
de luta contra a tuberculose ;em que alternou internações em sanatórios e
recaídas boemias,morreu antes de completar 27 anos,abatido afinal, pelo mesmo
“Mal Du Siecle”, que no século XIX,devastara seus predecessores e irmãos em
Arte,os poetas Românticos : Castro Alves, Cassimiro de Abreu e Álvares de
Azevedo, também consumidos pela tísica.
O POETA FLÂNEUR:
Noel, poeta
Flaneur,pedestre narrador do paradoxo: tradicional x moderno,do Rio de Janeiro
;então Distrito Federal, faz da rua sua moradia ,criando--das barricadas
periféricas à burguesia--um olhar critico e irônico sobre as mudanças de seu
tempo.Assim ,registra,irreverente,a política clientelista e oligárquica da
Republica Velha em “Feitiço da Vila” :
“São Paulo da café
Minas da leite
e a vila
Isabel da samba”...
Melancólico, revela a crescente Urbanização do pais : “Coisas Nossas”:
“Queria ser pandeiro
Pra sentir o dia inteiro
a tua mão na minha pele a batucar
saudade do violão e da palhoça
Coisa nossa ...coisa nossa”...
O Poeta, reconhece na multidão anônima ,o atropelo do impacto moderno,como em “3 Apitos”:
“Quando o apito
da fabrica de tecidos
vem ferir os meus ouvidos
eu me lembro de você ...
...você que atende ao apito
de uma chaminé de barro
porque não atende ao grito tão aflito
da buzina do meu carro?”
O Poeta da vila ,da voz aos excluídos, aos artistas pobres;que muitas vezes vendiam seus sambas para artistas ricos...como em “Feitio de Oração”`:
“Batuque é um privilegio
ninguém aprende samba no colégio
sambar é chorar de alegria
é sorrir de nostalgia
dentro da melodia..”
O “Malandro” faz do coletivo lugar de suas divagações ,das diferenças e indiferenças da Modernidade com os “Descamisados” ,recita sua critica ,como em “O orvalho vem caindo” :
“O orvalho vem caindo
vai molhar o meu chapéu
e também já vão sumindo
as estrelas lá no céu
tenho passado tão mal
que a minha cama é
uma folha de jornal.”
Ele é a voz “marginal”,arauto dos esquecidos,andarilho das estrelas que tornou a boemia sua religião.como em “Filosofia” :
“O Mundo me condena
mas ninguém tem pena
falando sempre mal do meu nome
deixando de saber de eu vou morrer de sede
ou se eu vou morrer de fome
mas, a Filosofia
hoje me auxilia a viver indiferente assim
nessa prontidão sem fim
vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim."
O
envolvimento com a multidão esta presente na tradição Literária Ocidental,como
se vê em : Charles Baudelaire - “As Flores do Mal”; Victor Hugo – “Os
Miseráveis” e Aluisio de Azevedo - “O Cortiço”.
Filhos do
Sec. XIX ,que fermentam textos calcados na dura e cruel realidade da
então,emergente sociedade industrial;legado inequívoco para os mais argutos do
Sec. XX.
O
Flauner,ele próprio uma mercadoria ,adequa-se às exigências do mercado
moderno,fazendo concessões, para sobreviver;mas,resistindo.
De modo
Lúdico, Noel aponta - como Lima Barreto- a submissão econômico - cultural do
pais ao estrangeiro.Tratando com Ironia o Lema Positivista .debocha da
racionalidade absoluta,alerta para a dependência do “Progresso” e para as
dividas externas,como em “Positivismo”:
“A verdade meu amor mora num poço
É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz
E também faleceu por ter pescoço
o autor da guilhotina de Paris...
Vai orgulhosa querida
Mas aceita esta lição;
No cambio incerto da vida
A libra é o coração
O amor vem por PRINCIPIO
A ORDEM por base
O PROGRESSO é que deve vir por fim
Despezaste esta
lei de Augusto Comte
E foste ser feliz longe de mim
vai coração que não vibra
com seu juro exorbitante
transformar mais esta libra
em divida flutuante
A intriga mora,nasce num café pequeno
que se toma para ver quem vai pagar
para não sentir mais o seu veneno
foi que eu resolvi me envenenar.”
vai coração que não vibra
com seu juro exorbitante
transformar mais esta libra
em divida flutuante
A intriga mora,nasce num café pequeno
que se toma para ver quem vai pagar
para não sentir mais o seu veneno
foi que eu resolvi me envenenar.”
POSITIVISMO.
Escola filosófica criada por Augusto Comte ,no sec. XIX ,baseada no Iluminismo,
entende que o Conhecimento Cientifico é a única forma de Conhecimento
verdadeiro; "Amor como PRINCIPIO e ORDEM por base ,o PROGRESSO”, por fim ;
Ideário Positivista presente na Bandeira do Brasil Republica ( “Ordem e
Progresso”).
O
Progresso Positivista é associado à guilhotina Jacobina (período mais sangrento
da Revolução Francesa);
O
“Jacobinismo Tupiniquim” - primórdios da Republica - não livrou o pais da
divida externa ( empréstimo de libras esterlinas...),nem dos juros escorchantes
.Getúlio Vargas, com a Revolução de !930, retomou a política de valorização do
Café, postergando dividas e irritando credores internacionais, “tornando-se
dividas flutuantes”. A ironia do poeta é um recurso de linguagem frequente nas
obras de escritores e literatos.
A
predileção de Noel pela musica Popular indica sua proximidade com o tom
coloquial e cínico, típicos do povo brasileiro.
Com
sutileza,o que garante certa autonomia, o poete “concilia” uma decepção
amorosa com as influencias Econômicas: Inglaterra e Culturais :França;pouco
proveitosas para a “terrae Brasilis”.
Com Humor
e sofisticação, Noel, como Baudelaire, pinta um quadro da sociedade de seu
tempo, suas contradições e idiossincrasias;no melhor estilo: "Decadence,
mais avec Elegance."
Bibliografia/Referencias:
Didier,Carlos.Noel Rosa.Uma Biografia.Unb.Brasilia.1990.
"Noel, Poeta da vila". Direção: Ricardo Van Steen. Riofilme.2006.
Noel Rosa e Mario Reis. Cd. Warner.2006.
Noel Rosa ( coletânea).Lp.Sigla.1979.
ótimo texto. pena que a juventude de hj desconheça esse mostro sagrado da música brasileira.
ResponderExcluirO samba é mais que mulher pelada.