TOLEDO.
“Nada e´supérfluo na natureza.”
Ibn Rushd (Averroes), Polimata Mouro (1126-1198).
.A conquista da península ibérica (Portugal e Espanha) pelos
Mouros; do Latim Mauri=morenos; começou em 711 AD,estes muçulmanos do norte da
áfrica(Marrocos),eram Berberes governados por Árabes Omíadas. Esmagaram os
visigodos,governantes de então.Seguiram-se: o Califado de Córdoba(797-1035),com
inúmeras revoltas cristãs; A Taifa (pequeno reino) de Toledo; o governo de
Alfonso VI de Castela; as Guerras civis castelhanas e por fim a unificação Espanhola.Toledo
foi a primeira capital da Espanha cristã,mas em 1561,o rei Filipe II transferiu
a capital para Madrid,entrando a cidade em declínio.Os Mouros a chamavam
Tulayoula.
.Nossa narrativa transcorre durante o califado de Córdoba,
quando a cidade conheceu algum esplendor e muitas rebeliões. Os Cristãos não
aceitavam o domínio estrangeiro, embora, os Muçulmanos fossem tolerantes com
outras religiões e etnias. Como eram freqüentes as revoltas e muitas vezes,
armadas; os nobres da cidade resolveram utilizar guerreiros experientes; nobres
Mouros vindos da África e da Ásia. Entre eles, um chamado Sid Said.
Sid e´um título que se confere a um guerreiro valoroso, uma
maneira de dizer senhor.Esse Sid era conhecido por : ferocidade em combate, cicatrizes
pelo corpo,rir pouco, não beber com outros nobres,estar sempre acompanhado por
seu cão e toda folga que tinha era visto
lendo O Alcorão, absorvendo as palavras do Profeta,Bênçãos sobre ele.Era ,em
uma palavra, uma sombra impenetrável.Lacônico ,piedoso e reservado;tinha o
respeito de seus comandados.
Com este perfil misterioso, logo surgiram lendas; diziam que
era assim por causa de uma mulher que amara, mas ela pertencia ao califa, outros
garantiam que fora Sufi e fizera voto de castidade e as estórias proliferavam.
Indiferente aos boatos, mantinha sua rotina militar e seu
tom taciturno.
Certa noite, próximo a sua unidade de treinamento ouviu um
alarido enorme. Sem saber o que era aproximou-se para averiguar. Surpreso, descobriu
que era um grupo de ciganos que fizera acampamento ali perto. Colocaram as
carroças em semi-circulo, acenderam uma fogueira, começaram a cantar e dançar.
as mulheres eram belas e com roupas vistosas,cabelos longos e soltos,muitos
adereços, dançavam e cantavam;os homens cantavam,batiam palmas e tocavam
violino.Ficou observando a cena,curioso.Súbito ,alguns nobres mouros interromperam
a festividade, dizendo que eles ( os
ciganos) eram páreas, e precisavam era trabalhar , que se fossem dali...Sid e
outros nobres intervieram,não estavam fazendo nada demais;
“Não e´crime se divertir!” pontificou Sid.Os queixosos não
ousaram retrucar e se retiraram.
Os ciganos contentes continuaram seus festejos, tendo
inclusive convidado os nobres para participar. As atividades previstas para o
dia seguinte ,no entanto, não o permitiam. Antes de sair, o Mouro notou uma
cigana, era morena cabelos longos e negros como a noite, olhos grandes e negros,
pés descalços. Brincos, pulseiras, colares, um olhar vivo e inquietante.
O que se seguiu foi o já esperado confronto, tendo o lado
Mouro saído com a vitoria.
Ao passo que no adversário, o ódio só aumentava. Mesmo
quando se busca ideais de paz, acaba se escrevendo a Historia com sangue. Apos
a batalha, o mouro foi descansar em sua vila,quando um funcionário o avisou,entusiasmado,
que se aproximava um grupo de ciganos.
Eram aqueles que ele conhecera, Sid recomendou ao criado que
os convidasse a sua vila e providenciasse vinho, queijo e frutas. Os ciganos
aceitaram de bom grado o convite, na pessoa de seu líder Vladimir. E logo começaram
a cantar e dançar, a cigana morena se aproximou e conversaram. Ela se chamava
Sara, nome da Padroeira dos ciganos e já estava acostumada com esta vida nômade.
O Mouro ficou encantado com a naturalidade da moça, seu sorriso franco, seu
jeito despreocupado, sua beleza natural, sua jovialidade, seus meneios juvenis.
Era uma bela mulher, mas tinha um que de menina. A face de mármore de Sid brilhou.Ela disse que leria o futuro de Sid,ninguém
e´livre para ordenar o que vira amanha,pensou.Ela leu,muitas lutas,solidão ,um
inventario de ilusões e de repente hesitante,silenciou.O Mouro notou.
Mais tarde, o Mouro deixou os convivas a vontade, com instalações
para todos e se recolheu.
Ficou surpreso, cerca de meia hora depois com a visita de
Sara aos seus aposentos. Ela perguntou a ele se ele a queria e ele disse que sim.
Muito. Ela foi para o leito e foi como se almas celestes se encontrassem
deixando traços indeléveis...
Atônito ficou ,quando pela manhã ,percebeu que ela partira;
os ciganos também. Deixaram fitas e flores para o Mouro e se foram. Povo do vento,
mesmo.
Os inimigos haviam reunido nova força e preparavam outra
ofensiva.
Desta feita, O Mouro e outros oficiais montaram acampamento
nas cercanias da cidade, com o objetivo de defender melhor Tulayoula.
Depois de varias escaramuças, os mouros esperavam o ataque
mais forte, foi quando, uma noite,Tarik( o cão) ,começou a latir, a sentinela
se afastou rápido e retornou com uma jovem segura pelo braço.Era Sara,o Mouro a
convidou a entrar em sua tenda.
A noite e´boa
conselheira,pensou,em meio as exigências da profissão ,um Oasis de tranqüilidade,mesmo
que passageiro,sentimentos indizíveis.
Estas visitas se tornaram freqüentes e eram vistas com bons
olhos pelos companheiros de Sid. Ele não deixava de ser guerreiro e visita
feminina sempre faz bem.
A batalha veio e com ela, nova vitoria Moura.
A cigana evaporou novamente.
O Mouro se perguntava se não fora algo que ela vira nas
linhas de sua mão. Algo sepulcral.
No momento, a situação piorara, pois os cristãos se aliaram
a outros reinos cristãos prometendo um ataque ainda mais avassalador que o anterior.
A situação foi considerada crítica de tal modo, que a evacuação da cidade foi
cogitada.
Os ciganos sabendo disto resolveram se retirar para outra
cidade, ate´o fim do conflito,pelo menos.
Entre os nobres mouros, era senso comum, era um bom dia para
morrer.
Começou a chover. No campo enlameado teve inicio a batalha.
Enquanto as carroças se moviam vagarosamente, Sara pensava
no Mouro, seu destino...
E que enquanto ela errava por terras estranhas, ele estaria
ao lado de seu estimado Profeta!
Sid, concentrado, pensava que todo homem deve se render a verdade.
Seja ela qual for, e que morrer por Ala, o misericordioso era uma benção.
A luta durou o dia quase todo e mais uma vez, os Mouros venceram,
mas com pesadas baixas. Entre outros, Sid e seu fiel cão,tombados sob uma chuva
de flechas.
Na estrada, Sara teve a sensação de que alguém a chamara
olhou para trás, só havia a chuva fina que caia sussurro de fonte escondida.
O que esta escrito nos Céus se cumprira na terra.
.MAKTUB.Estava Escrito.
Autor:Marco Antonio E.Da Costa.