terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Toledo.

                                      TOLEDO. 

                                                          “Nada e´supérfluo na natureza.”
                                                                 Ibn Rushd (Averroes), Polimata Mouro  (1126-1198).







.A conquista da península ibérica (Portugal e Espanha) pelos Mouros; do Latim Mauri=morenos; começou em 711 AD,estes muçulmanos do norte da áfrica(Marrocos),eram Berberes governados por Árabes Omíadas. Esmagaram os visigodos,governantes de então.Seguiram-se: o Califado de Córdoba(797-1035),com inúmeras revoltas cristãs; A Taifa (pequeno reino) de Toledo; o governo de Alfonso VI de Castela; as Guerras civis castelhanas e por fim a unificação Espanhola.Toledo foi a primeira capital da Espanha cristã,mas em 1561,o rei Filipe II transferiu a capital para Madrid,entrando a cidade em declínio.Os Mouros a chamavam Tulayoula.

.Nossa narrativa transcorre durante o califado de Córdoba, quando a cidade conheceu algum esplendor e muitas rebeliões. Os Cristãos não aceitavam o domínio estrangeiro, embora, os Muçulmanos fossem tolerantes com outras religiões e etnias. Como eram freqüentes as revoltas e muitas vezes, armadas; os nobres da cidade resolveram utilizar guerreiros experientes; nobres Mouros vindos da África e da Ásia. Entre eles, um chamado Sid Said.
Sid e´um título que se confere a um guerreiro valoroso, uma maneira de dizer senhor.Esse Sid era conhecido por : ferocidade em combate, cicatrizes pelo corpo,rir pouco, não beber com outros nobres,estar sempre acompanhado por seu cão  e toda folga que tinha era visto lendo O Alcorão, absorvendo as palavras do Profeta,Bênçãos sobre ele.Era ,em uma palavra, uma sombra impenetrável.Lacônico ,piedoso e reservado;tinha o respeito de seus comandados.
Com este perfil misterioso, logo surgiram lendas; diziam que era assim por causa de uma mulher que amara, mas ela pertencia ao califa, outros garantiam que fora Sufi e fizera voto de castidade e as estórias proliferavam.
Indiferente aos boatos, mantinha sua rotina militar e seu tom taciturno.
Certa noite, próximo a sua unidade de treinamento ouviu um alarido enorme. Sem saber o que era aproximou-se para averiguar. Surpreso, descobriu que era um grupo de ciganos que fizera acampamento ali perto. Colocaram as carroças em semi-circulo, acenderam uma fogueira, começaram a cantar e dançar. as mulheres eram belas e com roupas vistosas,cabelos longos e soltos,muitos adereços, dançavam e cantavam;os homens cantavam,batiam palmas e tocavam violino.Ficou observando a cena,curioso.Súbito ,alguns nobres mouros interromperam  a festividade, dizendo que eles ( os ciganos) eram páreas, e precisavam era trabalhar , que se fossem dali...Sid e outros nobres intervieram,não estavam fazendo nada demais;
“Não e´crime se divertir!” pontificou Sid.Os queixosos não ousaram retrucar e se retiraram.
Os ciganos contentes continuaram seus festejos, tendo inclusive convidado os nobres para participar. As atividades previstas para o dia seguinte ,no entanto, não o permitiam. Antes de sair, o Mouro notou uma cigana, era morena cabelos longos e negros como a noite, olhos grandes e negros, pés descalços. Brincos, pulseiras, colares, um olhar vivo e inquietante.
O que se seguiu foi o já esperado confronto, tendo o lado Mouro saído com a vitoria.
Ao passo que no adversário, o ódio só aumentava. Mesmo quando se busca ideais de paz, acaba se escrevendo a Historia com sangue. Apos a batalha, o mouro foi descansar em sua vila,quando um funcionário o avisou,entusiasmado, que se aproximava um grupo de ciganos.
Eram aqueles que ele conhecera, Sid recomendou ao criado que os convidasse a sua vila e providenciasse vinho, queijo e frutas. Os ciganos aceitaram de bom grado o convite, na pessoa de seu líder Vladimir. E logo começaram a cantar e dançar, a cigana morena se aproximou e conversaram. Ela se chamava Sara, nome da Padroeira dos ciganos e já estava acostumada com esta vida nômade. O Mouro ficou encantado com a naturalidade da moça, seu sorriso franco, seu jeito despreocupado, sua beleza natural, sua jovialidade, seus meneios juvenis. Era uma bela mulher, mas tinha um que de menina. A face de mármore de Sid  brilhou.Ela disse que leria o futuro de Sid,ninguém e´livre para ordenar o que vira amanha,pensou.Ela leu,muitas lutas,solidão ,um inventario de ilusões e de repente hesitante,silenciou.O Mouro notou.
Mais tarde, o Mouro deixou os convivas a vontade, com instalações para todos e se recolheu.
Ficou surpreso, cerca de meia hora depois com a visita de Sara aos seus aposentos. Ela perguntou a ele se ele a queria e ele disse que sim. Muito. Ela foi para o leito e foi como se almas celestes se encontrassem deixando traços indeléveis...
Atônito ficou ,quando pela manhã ,percebeu que ela partira; os ciganos também. Deixaram fitas e flores para o Mouro e se foram. Povo do vento, mesmo.
Os inimigos haviam reunido nova força e preparavam outra ofensiva.
Desta feita, O Mouro e outros oficiais montaram acampamento nas cercanias da cidade, com o objetivo de defender melhor Tulayoula.
Depois de varias escaramuças, os mouros esperavam o ataque mais forte, foi quando, uma noite,Tarik( o cão) ,começou a latir, a sentinela se afastou rápido e retornou com uma jovem segura pelo braço.Era Sara,o Mouro a convidou a entrar em sua tenda.
A  noite e´boa conselheira,pensou,em meio as exigências da profissão ,um Oasis de tranqüilidade,mesmo que passageiro,sentimentos indizíveis.
Estas visitas se tornaram freqüentes e eram vistas com bons olhos pelos companheiros de Sid. Ele não deixava de ser guerreiro e visita feminina sempre faz bem.
A batalha veio e com ela, nova vitoria Moura.
A cigana evaporou novamente.
O Mouro se perguntava se não fora algo que ela vira nas linhas de sua mão. Algo sepulcral.
No momento, a situação piorara, pois os cristãos se aliaram a outros reinos cristãos prometendo um ataque ainda mais avassalador que o anterior. A situação foi considerada crítica de tal modo, que a evacuação da cidade foi cogitada.
Os ciganos sabendo disto resolveram se retirar para outra cidade, ate´o fim do conflito,pelo menos.
Entre os nobres mouros, era senso comum, era um bom dia para morrer.
Começou a chover. No campo enlameado teve inicio a batalha.
Enquanto as carroças se moviam vagarosamente, Sara pensava no Mouro, seu destino...
E que enquanto ela errava por terras estranhas, ele estaria ao lado de seu estimado Profeta!
Sid, concentrado, pensava que todo homem deve se render a verdade. Seja ela qual for, e que morrer por Ala, o misericordioso era uma benção.
A luta durou o dia quase todo e mais uma vez, os Mouros venceram, mas com pesadas baixas. Entre outros, Sid e seu fiel cão,tombados sob uma chuva de flechas.
Na estrada, Sara teve a sensação de que alguém a chamara olhou para trás, só havia a chuva fina que caia sussurro de fonte escondida.

O que esta escrito nos Céus se cumprira na terra.
.MAKTUB.Estava Escrito.


Autor:Marco Antonio E.Da Costa.











terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A Poesia em Machado.

                                         A Poesia em Machado de Assis.

                                                                “Só se vê bem com o coração.”
                                                                 Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)
                                                                     Escritor Frances.                                                                  
  

                                                          

.Conhecido por sua importante obra em Prosa, Machado de Assis, também teve seus dias de poeta, sobretudo no período nomeado Romantismo. Ficcionista ímpar inovou na poesia, com a concisão, equilíbrio e refinamento. “Livros: “Crisálidas,“Ocidentais”,”Falenas”,“Americanas”.
.Sua poesia tem tom reflexivo, contenção lírica  e equilíbrio retórico,prenunciando uma concepção de vida.Ha ecos de Camões e dos Franceses em seus versos.O pessimismo, marca registrada do autor pode ser detectada em algumas obras,”ocidentais”,por exemplo,na qual há ambigüidade e metafísica.

.Exemplo:

.NO ALTO.

“.O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia descer a vertente do oeste,
Viu uma coisa estranha, uma figura má.
Então volvendo o olhar ao sutil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste pergunta o que será.
Como se perde no mar um som festivo e doce,
Ou bem como se fosse um pensamento vão,
Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro estendeu a mão.”

Comentário:  O poeta pondera aqui o desfecho da vida humana,representada na chegada de um poeta ao topo de uma montanha.Na subida e´acompanhado por Ariel,espírito jovial,que súbito, o abandona na jornada.A descida simboliza a velhice , o caminho para a morte,presidido por Caliban –oposto de Ariel,brutal-* cuja presença esta implícita.
*Figuras mitológicas.
.O “ outro” parece sugerir a experiência real.O espanto humano diante da inexorabilidade da morte.Uma poesia mítica, enquanto reflexão de uma angústia cultural; a morte.

.LIVROS E FLORES.

" Teus olhos são meus livros
  Que livro há ai melhor,
  Em que melhor se leia
  A página do amor?

  Flores me são teus lábios
  Onde há mais bela flor,
  Em que melhor se beba
  O bálsamo do amor? "

.Comentário: Poema de lirismo romântico explicito, referencia de Machado a Dona Carolina,sua eterna amada;companheira de toda uma vida.Nele notamos alguns aspectos caros aos Românticos;a saber: valorização da paixão,do sentimento,da natureza.
Idealização do afeto, valorização do subjetivismo e busca do sublime.




Obs. Poucas pessoas amaram como os Românticos, poucos sofreram como eles também...

Autor: Marco Antonio E. Da Costa.


 







domingo, 3 de janeiro de 2016

SAPPHO.

                                                            SAPPHO.   
                                              . Paul Verlaine.(1844-1896).
                                                   Poeta Simbolista Frances.
                                                    
                                                    
                                                        “Todo Homem é poeta quando esta apaixonado.”
                                                                 Platão, filósofo idealista do período clássico grego,
                                                                  (428 AC-328 AC. Atenas.)






Furiosa, olhos fundos e seios tesos,
Sappho,descontrolada pelo desejo
Corre como uma loba pelas praias frias.

Ela pensa em Phaon,esquecida dos ritos,
E vendo o vazio de seu desespero,
Arranca  os imensos cabelos,aos punhados.

Depois evoca acalmada pelo remorso,
O tempo em que brilhava pura, a jovem gloria
Dos amores, cantados em versos que a memória
Da alma, conta às virgens adormecidas.

Então, cerrando as pálpebras cansadas
Ela se joga no mar, de onde a chama a Moira,
E eclode no céu, incendiando a água escura
A pálida Selene,que vinga as amigas.



.Comentário:

.Safo poetisa grega, Século VII AC. conforme tradição lendária cometeu suicídio
Jogando-se ao mar de um penhasco, desesperada por ter seu amor não correspondido por Phaon, um marinheiro de Lesbos ;agraciado por Afrodite-deusa do Amor,com beleza e encanto incomparáveis.
Moira. 3 Irmãs que teciam o fio da vida ou o destino de todos, ate dos deuses.Usavam a roda da fortuna,um tear.No singular : Destino.
Selene.Deusa da lua,Irma de Helios,deus do sol.As amigas vingadas por Selene, certamente são referencia aos inúmeros corações femininos partidos por safo ,no passado.


Autor: Marco Antonio E. Da Costa.